O avanço acelerado da tecnologia e o crescimento exponencial do uso da internet têm levantado um alerta importante: como o comportamento humano no ambiente digital está afetando a saúde mental das pessoas. O tema, conhecido como consciência digital, vem ganhando cada vez mais espaço no debate público.
De acordo com especialistas, a internet que conhecíamos há poucos anos praticamente já não existe mais. Hoje, a quantidade de informações que circula nas redes é gigantesca e cresce em um ritmo muito mais rápido do que a capacidade do cérebro humano de processá-las.
Para se ter uma ideia, em apenas um minuto, mais de 250 milhões de e-mails são enviados no mundo, sem contar mensagens em aplicativos, redes sociais, vídeos e conteúdos gerados por inteligência artificial. O excesso de estímulos provoca cansaço mental, impulsividade e reações automáticas.
O especialista em tecnologia Fábio Nudge explica que, embora a inteligência artificial exista desde as décadas de 1960 e 1970, o grande ponto de virada ocorreu em novembro de 2022, quando ferramentas de IA passaram a ser amplamente acessíveis ao público.
“Em apenas três anos, a humanidade avançou mais do que em quatro décadas. Toda semana surgem novas plataformas e hoje já existem mais de 41 mil ferramentas de inteligência artificial disponíveis no mundo”, destaca.
Segundo ele, a tecnologia evolui rapidamente, mas o cérebro humano continua o mesmo, o que gera um descompasso perigoso entre informação, emoção e comportamento.
Pesquisas indicam que conteúdos que despertam raiva, ódio e medo se espalham muito mais rápido do que informações positivas ou verdadeiras. Esse fenômeno acontece porque o cérebro humano reage de forma instintiva, como um mecanismo de defesa.
Esse tipo de estratégia é conhecido como “rage bait”, ou “isca da raiva”: conteúdos criados justamente para provocar reações emocionais intensas e gerar engajamento, curtidas, comentários e compartilhamentos.
“O problema não é só a tecnologia. Quem acaba reagindo no automático é o ser humano, que entrega sua atenção e emoção sem perceber”, alerta Fábio Nudge.
Segundo o especialista, o primeiro passo é reconhecer que essas manipulações existem. A partir disso, a pessoa passa a identificar estratégias comuns no ambiente digital, como falsas promoções, senso de urgência artificial e discursos polarizados.
“Quando você percebe que está sendo manipulado, já dá um passo enorme para retomar o controle”, explica.
Ele ressalta que consciência digital não significa rejeitar a tecnologia, mas usá-la de forma mais equilibrada, protegendo a saúde mental.
Fábio Nudge reforça que a inteligência artificial pode ser uma grande aliada da sociedade, aumentando a produtividade e liberando tempo para o que realmente importa: relações humanas, descanso e qualidade de vida.
Inclusive, já existem discussões sobre a criação de uma inteligência artificial brasileira, embora o grande desafio esteja na base de dados que alimentaria essa tecnologia.
Diante desse cenário, o recado é claro: consciência digital é uma questão de saúde mental. Entender como a internet influencia emoções, decisões e comportamentos é essencial para viver de forma mais saudável em um mundo cada vez mais conectado.



