O mês de dezembro costuma dividir sentimentos. Enquanto parte das pessoas vive festas, confraternizações e expectativas, outras enfrentam angústia, tristeza e sensação de esgotamento emocional. O fenômeno ganhou o nome popular de “dezembrite”.
O tema foi debatido no programa Manhã TH+, desta segunda-feira (29), em entrevista com a psicóloga Alice Santos, que explicou por que o período desperta reações tão intensas e contrastantes. Segundo a especialista, dezembro funciona como um momento de pausa coletiva, que favorece reflexões acumuladas ao longo do ano. O recesso, as férias e as festas criam espaço para olhar a própria vida. “Nós passamos o ano inteiro negligenciando angústias, insatisfações e tristezas, e dezembro chega como esse momento de olhar para tudo isso”, explicou Annalice Santos.
Ela destacou que o fim de um ciclo, somado à expectativa de um novo ano, pode gerar ansiedade, cobranças internas e comparações sociais.
Tristeza também faz parte
A psicóloga reforçou que nem todas as pessoas vivem dezembro com alegria. Perdas familiares, lutos e experiências traumáticas ligadas às datas tornam o período ainda mais sensível. “É natural alguém dizer que não quer comemorar, porque aquela data traz lembranças difíceis e sofrimento”, afirmou.
Alice ressaltou que não existe obrigação de felicidade coletiva e que respeitar os próprios limites faz parte do cuidado emocional.
Quando o sentimento vira alerta
A especialista explicou que a dezembrite se torna preocupante quando há perda de sentido nas atividades cotidianas. Trabalho, relações e rotina passam a não provocar interesse ou prazer. “Quando tudo começa a perder cor e nada faz mais sentido, é o momento de pensar com mais atenção”, disse.
Ela citou uma reflexão de Mário Sérgio Cortella: “A vida não tem sentido, mas não é proibido dar um a ela”.
Álcool pode agravar o quadro
Durante a entrevista, Alice alertou para o consumo excessivo de álcool no período festivo. Segundo ela, a bebida tem efeito depressor no organismo, apesar da euforia inicial. “O álcool rebaixa o humor e pode intensificar tristeza e ansiedade, principalmente depois”, explicou.
Ela observou que o consumo contínuo mascara o efeito, que aparece com mais força após a interrupção.
Decisões importantes pedem cautela
A psicóloga aconselhou cuidado ao tomar decisões importantes durante dezembro. Emoções intensas podem comprometer a clareza necessária para mudanças estruturais na vida. “Tomar grandes decisões em dezembro pode frustrar em janeiro”, afirmou. Annalice sugeriu que metas e mudanças sejam planejadas em outros meses, fora da pressão simbólica da virada do ano.
Quem sente mais a dezembrite
Segundo a especialista, o fenômeno não depende de idade, classe social ou gênero. A dezembrite atinge mais intensamente quem evita refletir sobre a própria vida. “Pessoas que têm medo de olhar para si sentem isso de forma mais forte”, explicou.
Ela comparou dezembro a uma “micro pandemia emocional”, em que o silêncio e a pausa obrigam o enfrentamento interno.
Acolhimento e saúde mental
Alice finalizou defendendo mais gentileza consigo mesmo. Para ela, revisar metas sem considerar imprevistos, perdas e adoecimentos gera culpa desnecessária. “Às vezes, o ano foi difícil e sobreviver já foi uma conquista”, concluiu. A psicóloga destacou que a transição de dezembro para janeiro pode servir como convite ao cuidado com a saúde mental, sem pressa, cobranças excessivas ou comparações.



