A violência contra as mulheres voltou a crescer no país e na Paraíba, segundo avaliação feita pela secretária responsável pela política estadual para mulheres. Lídia Moura foi entrevistada no programa Manhã TH+ nesta quinta-feira (04) e destacou que o avanço nos casos ocorre após um período de queda registrado entre 2023 e 2024.
A secretária afirmou que o cenário atual é marcado por crueldade crescente, influência de discursos machistas na internet e fragilidade estrutural nas políticas públicas. Durante entrevista, ela explicou que a elevação dos casos se relaciona ao ambiente nacional e à disseminação de conteúdos em mais de 80 mil canais dedicados à propagação de práticas de agressão. A secretária afirmou que esse volume cria uma ambiência que estimula comportamentos violentos.
A secretária citou episódios recentes, como o caso de uma mulher arrastada pelo namorado ao longo de um quilômetro, e destacou que o fenômeno tem atingido inclusive jovens. De acordo com ela, “é um absurdo ver jovens matando a namorada porque ela terminou”. A secretária afirmou que a sociedade tem criado jovens que não lidam com frustração, reforçando uma sensação de poder e de autoridade sobre mulheres. Lídia questionou por que o fim de relacionamentos ainda não é aceito e afirmou que “a mulher não adquiriu até hoje o direito de terminar um casamento”. Segundo ela, o comportamento agressivo está relacionado à forma como meninos são educados e à dificuldade que parte da sociedade tem em discutir gênero. Ela afirmou que “a violência machista está num dimensionamento que exige reação da sociedade”.
Lídia Moura defendeu também que o enfrentamento precisa de orçamento e afirmou que ainda existe desigualdade entre os estados na execução de políticas públicas. Ela citou o exemplo do Rio Grande do Sul, que criou a secretaria para mulheres apenas em novembro, e reforçou que o país ainda trata a política como algo que “faz quem quer”. Na Paraíba, 125 municípios já criaram organismos de políticas para mulheres, número que aumentou em comparação ao início da gestão, quando apenas seis cidades tinham estrutura semelhante. Ela relatou que gestoras municipais afirmam não ter orçamento suficiente e reforçou que a política precisa ser prioridade dos governos.
Programas de proteção
Durante a entrevista, a secretária apresentou dados de programas de proteção e afirmou que mulheres inseridas em instrumentos como a Patrulha Maria da Penha, casa-abrigo e centros de referência não registram casos de feminicídio. “Funciona”, disse. Segundo a secretária, o desafio é fazer com que mulheres procurem a rede de proteção ainda nas primeiras manifestações da violência, já que o agressor costuma repetir o ciclo, que começa no desrespeito e evolui até o feminicídio. Ela lembrou a existência do “violentômetro” do CNJ, que mostra a progressão das agressões. A secretária afirmou que muitas mulheres demoram a romper relações abusivas e que o início da violência deve ser suficiente para buscar ajuda. “Na hora que desrespeita, na hora que agride, não tem volta”. Ela também avaliou que “quando o cara é agressor, ele vai ser agressor sempre”, citando o caso de um ator que acumula relatos de violência em todos os relacionamentos.
Lídia Moura ressaltou a necessidade de criar uma cultura de paz e reforçou que a educação é fundamental para o enfrentamento. Ela afirmou que o tema precisa entrar na grade curricular com a mesma importância de português e matemática, e criticou resistência ao debate sobre gênero, definindo-o como “cidadania, pura e simplesmente”. Segundo ela, a equipe estadual percorre escolas em todo o estado, mas as ações pontuais não substituem a necessidade de que o conteúdo seja estruturado no currículo.
A secretária também citou a importância do sistema de justiça e afirmou que o funcionamento integrado na Paraíba tem avançado, mas ainda precisa incorporar perspectiva de gênero. Ela criticou decisões que consideram apenas primariedade, emprego e vínculos sociais do agressor, afirmando que “isso foi um crime que ele cometeu” e que o risco para a mulher deve ser o elemento central da avaliação judicial.
O relatório nacional mais recente, que mostra aumento de feminicídios e outras formas de violência em todas as regiões, foi classificado pela secretária como grave. Ela destacou que os dados atingem igualmente regiões ricas e pobres e incluem registros de estupro, o que exige respostas imediatas.
A secretária informou que a REANCAVE, rede de atenção a mulheres vítimas de violência, articula órgãos públicos e sociedade civil e iniciará uma campanha ampla. Segundo ela, a ação precisa mobilizar a população e incentivar denúncias. “Se o sujeito está agredindo uma mulher no meio da rua, a gente tem que se meter”, afirmou. Ela destacou que um telefonema pode evitar um feminicídio e que a sociedade precisa assumir responsabilidade.
Na Paraíba
A rede estadual continuará a ser ampliada, segundo a secretária, que informou que o governo fará convênio para instalação de centros de referência em 20 municípios. Ela explicou que mulheres costumam procurar delegacias apenas quando a violência já está extrema, enquanto o centro de referência pode ser acionado ainda no início do ciclo. Esses espaços oferecem acolhimento, orientação, documentação, cursos profissionalizantes e acesso a crédito, permitindo que a vítima compreenda o processo e se fortaleça.
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