Muito se questiona sobre os motivos da má educação brasileira, principalmente no ensino público. Ao se questionar isto, pode-se pressupor que exista uma diferença substancial na educação particular e na pública, contudo, pela experiência em uma e por inúmeros relatos provindos de colegas de outro, pode-se perceber que nenhuma delas está imune ao problema da indisciplina, que é o verdadeiro câncer da falta de qualidade educacional no país.
Como escrevi recentemente, a educação é um fator que vem de casa e isso não deve nem ser discutido. Na escola, mesmo que sofra críticas por afirmar isto, adquire-se o conhecimento e não a educação. Ainda que tenha visto uma crítica rasteira e superficial do comentarista Fefito, no programa Morning Show, de que uma jovem só aprendeu a combater o abuso que sofria da família pela educação que teve na escola, o desavisado comentador não percebeu que a garota adquiriu o conhecimento para combater o abuso e que a educação continuou faltando de onde mais devia vir, da família.
Tendo recordado este ponto de exemplo, atento que a qualidade da educação brasileira passa por um ponto muito nevrálgico. Ela é uma escola de punição dos bons e proliferação dos maus alunos. Explico. Conversando com a psicóloga de um excelente aluno dias atrás, ela relatou que este sempre se queixava de que um aluno problema da sala não o deixava em paz, importunando-o por ser educado e ter excelentes notas. E o que a escola fez? O que o professorado tomou como decisão. Nada. E isso não é um defeito dos seres humanos que ali trabalham. É, como diria o emblemático personagem capitão Nascimento, o sistema agindo e quando ele funciona dessa forma é quase impossível vencer esta máquina impiedosa.
A escola de punição dos bons é um problema da sociedade brasileira. Aqui, qualquer aluno inteligente é menosprezado, deixado de lado. E o pior é que os bons e interessados alunos são a maioria das salas de aula. Numa sala padrão brasileira, com média de 30 alunos por turma, 20 são bons alunos. Se tivessem as condições mínimas de ouvir e prestar atenção, em uma aula adequada, aumentariam o nível da educação brasileira a patamares semelhantes ao do Chile, por exemplo. O problema é que os outros que são minoria e barulhenta.
Segundo pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) o estudante brasileiro é líder em indisciplina na sala de aula e o professor brasileiro, em 2013, data da pesquisa, consumia 20% do tempo de aula para manter a sala de aula em ordem. Um dado inaceitável em um país que tanto se queixa de qualidade da educação. E a experiência ensina que esses problemas provêm de alguns poucos alunos. Essa minoria é um problema que seria corrigido com a educação familiar mais severa. Educação vinda de casa, como já foi defendido em outro texto. Mas há um problema que tem que ser atacado pelos profissionais de educação com severidade ainda mais aguda. Não permitir que o aluno que não quer estudar atrapalhe o ambiente escolar. Isso acontece em diversas escolas do país.
O caso do professor, que para não ter problemas, permite que o mau aluno faça o que quer e conturbe o seu ambiente. Colocar para fora não adianta, dizem. A coordenação não faz nada. A direção não agiu como se deve. Tudo é sim, parte do problema, mas onde ele se origina é o ponto a ser mais atingido: a sala de aula.
Esse tipo de aluno tem que entender que a sala de aula não é o local do seu ambiente de socialização e diversão. Se oitenta por cento da sala poderia estar estudando com mais afinco, a minoria não tem que ser preponderante. Críticos dirão que é o cerceamento do direito escolar. Que esse aluno tem que ser acolhido, defendido, entendido, buscando-se soluções para que ele entenda a escola como se deve e assim, num passe de mágica, ele possa estudar. Ilusão de uma estrada feita de tijolos amarelos.
Quando estes poucos alunos interrompem a linha de raciocínio da aula com sua indisciplina, a dispersão dos alunos comprometidos se perde e retomar o pensamento demandará esforço do docente. Isso se traduz numa matemática simples: menos tempo de aula útil e de aprendizado. Dessa forma fica fácil entender por que o Brasil não evolui educacionalmente em testes do PISA.
O professorado brasileiro tem que começar a não mais aceitar dentro das salas de aula, passivamente, o aluno que perturba e deixa conturbado o ambiente. E isso tem que ter o apoio da comunidade docente, dirigentes escolares e passa por uma cobrança maior da família. E um segmento da sociedade tem que trabalhar com mais afinco para que a educação melhore: os conselhos tutelares.
Por muitas vezes só sabemos quem são os conselheiros tutelares em época de eleição. Já presenciei muitos casos em que a escola passa o caso para estes profissionais e nada prossegue. Não tomam o caso como uma urgência ou problema a ser sanado. Alunos que beiram a delinquência, agridem colegas e outros que até fazem coisas piores são apenas papeis dentro de uma pasta que nunca avança rumo a uma busca pela disciplina e organização do ambiente. Ou seja, quem é o elo entre a escola e o ministério público, com raras exceções, age. E nisso, a família, que deveria ser cobrada como se deve, fica cada vez mais inerte, sem ação efetiva, contra o jovem que vai para a escola apenas para perturbar.
Em suma, o que se conclama neste texto e dedica-se a pais preocupados com seus filhos e profissionais que cansaram da inércia dos poderes estatais coibirem a violência, o descaso e a falta de educação dentro da educação brasileira a unirem-se em defesa de uma escola melhor para todos. Que seja chamado de Utilitarismo, como conceito filosófico do bem maior para o maior número, mas a escola tem que começar a defender o bom aluno e impedir que o mau faça suas graças e prolifere. Soluções simples de um professor como, colocar para fora, catalogar em um arquivo particular as ações destes alunos, expor os acontecimentos, levar isto à coordenação/direção e impedir quantas vezes seja necessário que estes alunos não repitam suas perturbações.
O mau aluno tem que ser incomodado ao ponto de sua única opção ser melhorar como ser humano ou compreender que a escola como ela é, um espaço plural de aprendizado e conhecimento, não está ali para a sua vida social prosperar inutilmente. Os professores que entenderem isto, certamente, darão um passo gigantesco para a melhora dos níveis educacionais e sociais do país. Em toda escola tem aquele professor que, na aula dele, estes alunos não fazem algazarra e pelo menos, se não se dedicam, não atrapalham. Ou seja, praticar o que foi dito acima é possível.
O tempo dirá o futuro da educação no Brasil. A história ensina muito e olhar o passado, às vezes, faz bem.