Neste texto de estreia venho mostrar um pouco do que me completa como pensador, professor, escritor e estudioso. Sou um niilista. Certamente muitos não entenderão ou recordarão das aulas de filosofia que tiveram na escola (se é que tiveram). O niilismo não é de fácil compreensão ou explicação. Simplesmente não possui um significado.
Vamos a um entendimento. Em meu primeiro romance (digo primeiro porque acabo de finalizar o segundo) intitulado “Só o Chico Buarque é feliz no Brasil” escrevo a história de um professor universitário hedonista que faz a jornada clássica do herói para tornar-se o Übermensch, ou o Super-Homem, que Nietzsche, o filósofo mais contundente da contemporaneidade, criou. Por isso, e por afinidade, posso dizer que sou um nietzschiano e meu niilismo dele procede.
Nietzsche era um pensador revolucionário, de corrosão poderosa dos pensamentos estruturados e arraigados na sociedade, crítico de tradições metafísicas ocidentais que vigoravam simplesmente baseadas em dogmas imexíveis (obrigado, Magri, pelo neologismo!!!) e que não costumam gostar de ser tocadas. Foi um dos maiores niilistas, com teorizações fabulosas e vou me apegar a uma para explicar e relacionar a muito do que vejo nas redes sociais e no meio educacional em que estou inserido: o conceito da esperança vazia.
Com uma reflexão sobre 25 séculos de desenvolvimento do pensamento filosófico Nietzsche analisa conceitos que embasaram esse desenvolver, observando ideias como Deus, Alma, Paraíso, Pecado, etc. O filósofo alemão contesta tudo isto com uma ácida ironia demonstrando que toda essa tradição não passava de uma esperança vazia, sendo desesperadas as tentativas dos fracos e dos decadentes de ainda manterem a velha soberania que possuíam.
Para o filósofo, essa forma de esperança era aprisionante porque anulava tudo o que aqui se vivia de real em torno de promessas futuras ou após a vida. Vivemos uma era em que uma grande parcela da parte que deveria educar as crianças e jovens vivem numa idealização de teorias educacionais que já se mostraram falhas. Professores que dão voz em excesso a quem deveria ouvir. Uma parcela populacional criminaliza a polícia e vitimiza o bandido.
Idolatra e adula políticos corruptos em nome da ideologia colorida que carregam. Nietzsche concordaria que estes vivem de esperanças vazias, porque seu mundo não está aqui, não chegará nunca e apenas atrasarão o avanço necessário para a humanidade. Ou como nosso baiano Raul Seixas, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Muitos acreditam que o niilista (e o niilismo) é pessimista. Não se trata disto. O pensamento é de se livrar da esperança vazia e viver em prol de construir realizações factíveis. Todos temos uma chance de fazer o certo. Por isso, não devemos nos aferrar ao que já se mostrou corrompido.
Faça um teste. Observe quando foi que você mudou de opinião alguma vez, se é que mudou, ou percebeu que seus amigos deixaram de lado as suas. Analise politicamente, por exemplo. Quem é que aceita calmamente argumentar (não gritar, esbravejar ou por a culpa no outro lado) sobre esse assunto tão candente nessa Terra Brasilis. As ilusões neste país já foram de militarismos a esquerdismos. Todos terminaram no mesmo lugar por um detalhe: ideologizaram e sonharam demais.
Um povo que vive na Matrix esperando um salvador que os leve para outro lugar, sem esforço, sem dureza, que tire a todos da pobreza, material e mental, sem que se precise trabalhar ou ler um livro. Assim, se pensar bem, fica fácil dar razão à Nietzsche. Somos gado e nada fazemos para mudar essa realidade. Não se alimentar de falsas esperanças é o primordial. A vida tem que ser vivida na vida, sem idealizações e isso sempre foi defendido pelo filósofo alemão. O esforço para a mudança tem que vir do cidadão comum e não de cima para baixo, com ilusões em gente que veste uma faixa verde-amarela.
Nós, os niilistas, não precisamos de um Deus, de um paraíso maior, de ilusões para ter a vida que desejamos. Temos isto porque queremos, mas não em detrimento de desenvolver a vida. Esta é a que temos. Este é o país que temos. Por isso, deixo para pensamento a frase célebre do assassinado presidente dos Estados Unidos, John Kennedy e que está gravada em pedra defronte ao seu túmulo no Cemitério nacional de Arlington, na Virgínia. “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país. Não jogar e recolher um lixo da rua já é um grande início para todos