Um professor de jornalismo ensinou que quando o repórter está em apuros no meio de uma entrevista, ou seja, quando o entrevistado conclui um pensamento e dá um branco na cabeça do jovem jornalista, a melhor saída é perguntar “por que?” Segundo a lógica deste professor, o questionamento simples e imprevisível deverá invariavelmente provocar uma reação desconcertante em quem até então era o dono da situação e havia acabado de dar uma resposta categórica. O esperado é que o entrevistado perca a linha e, melhor, dê uma réplica completamente sem juízo, o que pode ser excelente para o editor produzir uma boa manchete.
Ainda de acordo com a teoria deste professor, a tática é excelente para ser aplicada em políticos que arrotam barbaridades com a certeza de que jamais serão questionados. Cabe esclarecer que estou falando de um ensinamento recebido nos bancos acadêmicos do curso de Comunicação Social, na Universidade Federal de Santa Maria nos idos de 1982, quando o regime militar esmaecia e um ditador boquirroto esperneava brandindo ameaças do tipo “eu prendo e arrebento”. Sem falar no lamentável pensamento que escapou da boca suja deste general: “prefiro o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo”. Morreu e será sempre lembrado pelas besteiras que não deveria ter dito. Cumpre acrescentar que na condição de jovem preocupado com a política de meu país, saí às ruas para cantar em coro: “Chora Figueiredo, Figueiredo chora. Chora Figueiredo que chegou a tua hora”. Não vi se chorou, mas a hora dele chegou.
Confesso que nunca experimentei o truque de lascar um “por que?” surpresa no meio de uma entrevista. Em compensação sempre acreditei na força da boa pergunta para o completo exercício do jornalismo. Perguntar não é tarefa fácil porque há o risco e a tentação constantes de se emitir uma opinião embutida no questionamento, o que tecnicamente é chamado de pergunta retórica. Instar o entrevistado a revelar se ele não acha que tal assunto deveria ser desta ou daquela maneira é mais ou menos como o zagueirão atrasar a pelota para o goleiro na fogueira quando vem o Mbappé voando área adentro. É entregar o jogo. Se prepare porque a devolutiva do entrevistado será sempre uma enrolação macarrônica indigesta para o repórter, sem sal para o editor, e dura de engolir para o leitor/espectador/internauta.
Pergunta boa pode até ser despretensiosa e subliminar , mas dá gosto de ver quando tira o entrevistado da sua zona confortável, principalmente quando falamos de governantes, políticos com mandatos legislativos, ocupantes de cargos públicos de relevância que tratem de setores sensíveis como saúde, educação, segurança pública. Pergunta boa é precedida de uma argumentação sólida, baseada em dados confiáveis e, porque não, disparada à queima roupa. A pergunta boa faz falta ao jornalismo, é saudável para a democracia, e dá voz à sociedade.
Como vovó já dizia, perguntar não ofende. Além de tudo pode levar a uma declaração exclusiva, reveladora e impactante, que é o chamado furo jornalístico. E isso o meu professor também ensinou. Por mais experiente, poderoso e traquejado, em algum momento o entrevistado pode escorregar e dar o furo que a nação tanto temia.