Um protesto, na praça da Sé, no dia 25 de Janeiro de 1932, acabou levando o país a uma guerra sangrenta. Envolvendo mais de 200 mil homens, armados, uma guerra que envolveu uma artilharia pesada, com combates aéreos, bombardeios de grandes cidades e até batalhas navais. Brasileiro contra brasileiro, em um confronto violento.
A Revolução de 1932 foi um movimento organizado por uma elite política alijada do poder por um golpe em 1930 que retirou uma oligarquia e colocou outra, liderada por Getúlio Vargas. Teve desdobramentos violentos na forma de conflitos por regiões do estado de São Paulo, adesão popular e uma ruptura dos aliados de São Paulo no início do conflito armado que acabou deixando os paulistas sozinhos. Ela ganha contornos de uma guerra civil a partir de uma bandeira política que é o constitucionalismo dos paulistas que exigiu uma nova carta constitucional, uma vez que a vigente desde 1891 estava revogada.
Segundo o cientista social, Gabriel Papa, apesar da aura democrática constitucional e participação popular em especial no que tange às mortes dos combatentes, as reivindicações eram políticas. “Contudo, cabe destacar que é um episódio político importante que desencadeia uma certa discussão historiográfica”, afirma Papa.
Antecedentes
De 1889 a 1930, o Brasil vivia a República Velha, conhecida como politica do café com leite. Nesse período, a sucessão presidencial eram ditadas pelos centros econômicos do país. Os dois polos, São Paulo, café, e Minas Gerais, leite, forjavam as lideranças nacionais, mantendo acordos com outros Estados para que essa dinâmica política e econômica não fosse quebrada.
Mas no ano de 1929, alguns fatores contribuíram para o fim dessa política de oligarquias. A quebra da bolsa de Nova Iorque provocou a queda da compra do café brasileiro pelos países europeus e o Estados Unidos, afetando a economia. A fragilidade nacional aumentou com as revoltas tenentistas e greves operárias. A vulnerabilidade do regime oligárquico teve o ápice quando, o então presidente, Washington Luís apoiou a candidatura do paulista Julio Prestes, desagradando a oligarquia mineira, já que a sucessão teria que ser de um político mineiro.
Então surgiram alianças de oposição. O político mineiro Antonio Carlos Ribeiro de Andrada entrou em contato com o representante do sul, Getúlio Vargas para formar uma aliança de oposição, junto o estado de Paraíba. Os três representantes junto com parcelas do movimento tenentista e oposições aos demais governos estaduais formaram a Aliança Liberal, lançando Getúlio como candidato. Na eleição, 1 de março de 1930, Julio Prestes teve resultado favorável.
A Aliança Liberal só decidiu pegar as armas e alçar Vargas como presidente, após a morte de João Pessoa, seu vice, em julho do mesmo ano. A oposição alegou que o governo federal, de Prestes, era o responsável pela morte de Pessoa. Após incursões militares, uma junta provisória militar depôs Washington Luís e assumiu o comando do país até a chegada de Getúlio Vargas com as tropas ao Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. A junta provisória, no dia 3 de novembro de 1930, transferiu o governo para Vargas. Assim, iniciando o Governo Provisório.
A insatisfação
O novo governo causou algumas alterações políticas no Brasil. Assim que assumiu, Getúlio Vargas revogou a Constituição de 1891, alegando o objetivo de estabelecer uma nova, dissolveu o Congresso Nacional, instituiu uma intervenção do governo federal nos governos estaduais, afastando nomes influentes da oligarquia paulista no governo. A insatisfação de São Paulo aumentou quando Vargas apontou como governador do estado o militar pernambucano João Alberto Lins de Barros.
Esse era o cenário quando chegou o ano de 1932. Movimentos paulistas alegavam que o país vivia uma ditadura, seguidas interferências, o governo não estava cumprindo sua tarefa para elaborar uma nova Constituição e que o Estado de São Paulo era considerado como um inimigo conquistado, pois, teoricamente, sua população apoiou Julio Prestes. Já o governo Vargas e aliados acusavam os paulistas de apenas desejar o retorno das oligarquias cafeeiras locais no poder federal, de serem contra a participação política de outros estados e que parte das oligarquias paulistas eram separatistas e queriam acabar com o Brasil.
Movimentos se fortaleceram e protestos aconteceram em São Paulo, na busca da nova Constituição. Martha Lins Michelino fala que os paulistas queriam mesmo a instituição de uma nova Constituição, mas alerta para um interesse próprio de São paulo. “Em relação às exigências de nova constituição sim, tanto que era a principal bandeira política do movimento paulista. Era mais evidente uma exigência de uma autonomia política de São Paulo frente ao Governo Federal capitaneado por Vargas e subjacente ao interesse de São Paulo de retomar o controle do poder federal”, conta.
Movimento MMDC
As tensões entre governo federal e São Paulo se agravaram no dia 23 de maio de 1932. Nesse dia ocorreu um grande protesto contra a presença de Osvaldo Aranha, ministro da Fazenda, em São Paulo, para pressionar o governo paulista. Um grupo de manifestantes tentou invadir a sede de uma organização pró-governo e Euclides Bueno Miragaia, Drauzio Marcondes de Sousa, Mário Martins de Almeida e Antonio Américo Camargo de Andrade foram mortos. No dia seguinte o movimento recebeu o nome de MMDC.