São poucas as temáticas que, no país, despertam tamanha animosidade e obscurantismo como a gestão pública. Há muitos gurus, achistas e palpiteiros de plantão, mas pouco conhecimento de causa e precisão técnica. O brasileiro, tradicionalmente, personifica a máquina pública de forma objetiva, o que cria, aos borbotões, salvadores da pátria, populismos e propostas mirabolantes. Contraditoriamente, já foi diagnosticado inúmeras vezes uma arraigada desconfiança tupiniquim quanto a políticos e serviços públicos, mas, concomitantemente, é atribuída ao Estado a responsabilidade pela resolução das mazelas que afligem o dia a dia da nação.
Ribeirão Preto, hoje, é um microcosmo de tal situação. O poder público municipal, destroçado por inúmeras gestões criminosas -a ex-prefeita Darcy Vera permanece encarcerada, vê-se forçado a adotar políticas de controle de danos, austera, o que, na maioria das vezes, resulta em insatisfação popular e queda nos índices de aprovação. Duarte Nogueira (PSDB) é tratado hoje como a face dessa situação. Diminuir gargalos, controlar a dívida pública e honrar compromissos têm sido prioridades de sua gestão. Consequentemente, tornou-se a personificação diabólica responsável por todo o mal que assola a cidade. O brasileiro adora maniqueísmos.
Seria então Duarte Nogueira o maior responsável pela situação do município? Cabe um breve balanço como resposta. Houve, obviamente, erros ao longo da gestão. O tapa-buracos das vias públicas e a zeladoria municipal são bons exemplos, assim como o impasse do IPTU. Na pasta da educação, vespeiro tradicional da cidade, assumiu Suely Vilela (PSB) ingressei amargamente na Universidade de São Paulo (USP) sob sua caótica reitoria. Como secretária, replicou o mesmo modelo dos bons tempos uspianos: piorou o que já estava ruim.
Em contrapartida, vale ressaltar a significativa parcela do funcionalismo municipal que permaneceu hostil aos projetos do executivo, em contraposição oficiosa e ética às suas responsabilidades. Não obstante, há, à boca pequena, relatos de sabotagem direta. Publicamente, o rompimento midiático de um vice-prefeito com evidentes aspirações políticas, das quais também compartilham membros influentes do Sindicato dos Servidores Municipais. Como então pôr em prática qualquer plano quando o próprio time joga contra? Quando vigora, na Câmara Municipal, com três ou quatro exceções, uma das mais populistas legislaturas dos últimos tempos? Como a pauta é invariavelmente politizada, evidencia-se a velha e canalha artimanha de adaptar a realidade ao argumento. Há método.
É evidente a insustentabilidade do modelo federativo em vigor, sob o qual padecem municípios Brasil afora. Mesmo assim, a gestão Nogueira, por exemplo, é uma das poucas a honrar compromissos com fornecedores e prestadores de serviços. Grupos de limpeza urbana calculam prejuízos bilionários por inadimplências municipais em 2019, com riscos palpáveis de interrupção dos serviços prestados, risco este inexistente em Ribeirão Preto. Não obstante, a cidade, de acordo com o levantamento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), possui 4 obras paralisadas, todas elas no campus da USP, ou seja, fora da alçada municipal. São exemplos que não costumam aparecer nas acaloradas argumentações dos especialistas de plantão.
Claro, a cidade urge por mudanças. Resultados de curto prazo são exigidos. É evidente, contudo, que o município possui arraigados problemas crônicos, os quais demandam elevados investimentos. Neste ponto, inexistem soluções miraculosas. O tempo da política não é o mesmo da economia. O país sofre hoje os resultados econômicos da irresponsável gestão macroeconômica dos governos Lula e Dilma. Consequentemente, houve a severa diminuição de investimentos, diminuição dos postos de trabalho, redução do poder de compra, queda na arrecadação pública etc. Trata-se de um processo cíclico, o qual demanda tempo e ventos favoráveis para ser revertido.
Ribeirão Preto padece de um dos maiores déficits previdenciários do Brasil. Aportes inacreditáveis são necessários, mensalmente, para que o aposentado pelo IPM receba sua merecida aposentadoria. Vale lembrar, a cidade foi palco de uma articulação criminosa -desmascarada pela Operação Sevandija- que lesou o erário por mais de uma década. O município foi entregue em ruínas financeiras, com uma máquina pública engessada e de difícil trato. Neste ponto, são comuns os suspiros tediosos, mas são poucos aqueles que compreendem a complexidade e o dinamismo da problemática, além do tempo necessário para resolvê-la. Ao mesmo tempo, buscar alternativas para sanar as necessidades mais imediatas. O ouvinte/telespectador do programa Mentoria em Foco, apresentado e mediado por Chaim Zaher, um dos empresários de maior sucesso do país, foi apresentado às dificuldades em encontrar soluções sem dinheiro em caixa. Não há truque ou criatividade que resolvam mazelas profundas e antigas, agora agravadas pelo contexto nacional. Há, claro, quem venda soluções miraculosas, tão demagógicas quanto o próprio vendedor. Prudência e canja de galinha, dizia minha finada avó, não fazem mal a ninguém.