Acredite: quem nunca se viu na ansiedade de constatar que os dois pauzinhos cinzas de “mensagem recebida” se transformem no azul de “mensagem lida” merece um prêmio. Isto porque a transição do cinza ao azul pode ser considera a última etapa de um processo que envolve mais emoções do que se imagina.
Primeiro envia-se a mensagem na expectativa de que o primeiro solitário pauzinho de “mensagem enviada” se transforme em dois de “mensagem recebida”. A partir daí a expectativa cresce – muitas vezes – de maneira desordenada e, na mistura de sentimentos e pensamentos do momento, muitas pessoas chegam a se perder. A ansiedade toma conta e ai dos pauzinhos e do dono deles se os mesmos não se tornarem azuis.
Em tempos de realitys shows que, diga-se de passagem, estão demorando uma vida a serem substituídos por outra moda (no Brasil), os consultórios terapêuticos têm sido menos frequentados do que deveriam perto da frequência a farmácias em que rápidas receitas prescritas permitem a compra de medicações, em muitos casos necessárias, mas pesadas e que não são definitivas no tratamento de tantos transtornos emocionais que podem ser vistos, vividos e sentidos nos dias de hoje. O mais assustador, no entanto, é verificar o gritante e crescente índice de crianças e adolescentes – cada vez mais jovens – imersos em cenários assim.
E é então que vão surgindo as queixas sobre o rendimento escolar, o desequilíbrio emocional de estudantes, professores, gestores e profissionais de todas e quaisquer áreas neste mundo que alimenta o estresse e nele se vicia. Por isso aqueles dois pauzinhos de “mensagem lida” são tão importantes aos indivíduos: a expectativa, a ansiedade – se não correspondidas – são a justificativa de que a maioria das pessoas necessita para extravasar o poder do ego e sua necessidade de confirmação e autoafirmação projetados no outro, esquivando-se de responsabilidade e camuflando uma carência.
Todos os sentimentos que rodeiam a significância da cor dos pauzinhos de mensagens enviadas, recebidas, lidas e respondidas (ou não) prendem-se à resistência pessoal / profissional / religiosa / ética / educacional / social / emocional etc. em reprogramar o cérebro, reprogramando – assim – as emoções e seus resultados e impactos fisiológicos. Quer uma prova? Estabeleça um número de dias que se propõe a testar sua necessidade de visualizar o azul dos pauzinhos da “mensagem lida” entrando em configurações > conta > privacidade, desativando o campo confirmação de leitura e vá contando a alguém a sua experiência.
Agora, se seu cérebro gosta mesmo de situações radicais e quiser aumentar o grau de desafio altere também o campo visto por último para fechar um pacote que pode escancarar aquilo que a ansiedade, alimentada e incentivada, mascara: a necessidade do ego de ser visto e atendido; a carência e a solidão pessoal e social na imaturidade de precisar de provas concretas de que o que tem a dizer foi visto ou escutado. Ao final dos dias estabelecidos nesta empreitada, caso consiga chegar a ele sem recaída ou momento em que altera a configuração “só um pouquinho” para saciar a curiosidade ou amenizar um pouco a abstinência da circunstância, pode acreditar que sua atitude atingiu muitos colegas, amigos, chefes e familiares, pois a alteração da sua configuração impede que o outro também verifique se foi visualizado ou não, aumentando o grau de ansiedade dele também.
O estresse, a ansiedade, o pânico, a depressão, o déficit de atenção, entre outros, estão diretamente envolvidos na orquestra do sistema cerebral que necessita, para vencer o atual ciclo vicioso, de uma reprogramação.
A intervenção medicamentosa pode ser vencida ou amenizada com o passar do tempo desde que acompanhada criteriosamente pelo profissional correto e associada a terapia comportamental; ou seja, a medicação química – que causa dependência funcional e muitas vezes a necessidade de outras medicações para equilibrar o que a primeira desequilibra como consequência, podem ser vencidas ou diminuídas se as causas forem tratadas. E isso só é possível se houver intervenção terapêutica para o exercício da reprogramação cerebral.
Assim sendo, mais uma vez o autoconhecimento, a autodescoberta são o caminho – explicado e possível pela neurociência – para novos ajustes e possibilidades cerebrais que envolvem um conjunto de fatores no funcionamento cerebral. A exemplo, a alimentação é um fator de risco quanto ao sistema funcional do cérebro que pode vir a apresentar situações benéficas ou não dependendo do quadro do indivíduo.
Na depressão profunda, no período de Tensão pré-menstrual ou em quadros de ansiedade os açúcares (e viva os chocolates dos mais baratos aos mais caros) e os carboidratos viram fontes de apoio ao proporcionarem uma passageira sensação de prazer por agirem na serotonina, o que os torna viciante. A serotonina (inibitória/estimulatória) está relacionada à área do humor e das emoções, associando-se à depressão, à estimulação sexual e assim por diante. Desta forma, açúcares e carboidratos, ingeridos por quem procura uma compensação do estado depressivo e de ansiedade, (café também entra nesta onda), têm o estado momentaneamente compensado e reforçado ao mesmo tempo, já que o excesso destas substâncias intensifica os sintomas de ansiedade a graus mais elevados: taquicardia, respiração ofegante e até desmaios.
A reprogramação cerebral é possível, mas exigente, e confronta questão mais que técnicas e específicas: confronta questões culturais e de costumes sociais e familiares, religiosos e pessoais. Por isto a importância tão marcante de uma vida saudável para a orquestra cerebral permanecer no tocante produtivo da aprendizagem, da convivência, da superação ou prevenção de transtornos que estão sendo vividos e alimentados na sociedade moderna, como na fixação em situações como a cobrança de que os dois pauzinhos cinzas se tornaram azuis.
Intervenção terapêutica psicológica, neuropsicológica, psicopedagógica, neuropsicopedagógica é instrumento que viabiliza o trabalho em regiões cerebrais e neuronais afim de desafiar o funcionamento daquilo que está no conforto da calmaria e que, acreditem, envelhece o cérebro. Por isso não adianta passar uma vida sentada de frente à tv fazendo palavras cruzadas, pois o cérebro, em poucos dias, se acostuma àquilo que deixa de ser novidade e acresce uma nova zona de conforto à sua rotina rapidamente.
Assim sendo, os mecanismos terapêuticos assertivos permitem que os indivíduos possam descobrir e serem auxiliados a realizar ações novas e contrárias àquilo que os deixa depressivos, tristes, ansiosos e em pânico.
Bolachas, temperos prontos, macarrão instantâneo etc. são verdadeiros violões em tais situações, já que são recheados de glutamato – substância excitatória que, distribuído por todo o cérebro, modula e participa da despolarização das sinapses neuronais. A despolarização das sinapses remedia momentaneamente a sensação de estresse e suas consequências, mas não resolve a situação inicial que causou o quadro estressante. E aí que entra o trabalho terapêutico para a reprogramação cerebral que, ao invés de remediar a toque de caixa o problema, trará instrumentos para as pessoas saberem lidar e se desvencilharem, evitarem e superarem tais situações.
Então, se você é ansioso, depressivo, desatento – entre outros – ou tem familiares próximos a você, (especialmente crianças e adolescentes emergidos em quadros como este) o carrinho de compras do mês merece carinhosamente sua atenção, assim como os almoços caseiros em família deveriam ser priorizados mediante dos rotineiros lanches fastfoods nas praças de alimentação dos shoppings centers.
Os problemas de aprendizagem hoje, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior e assim por diante, estão mais relacionados à ausência da capacidade de elaborar estratégias de reprogramação cerebral do que se pensa. E eis que tantas crianças, pais, professores, médicos, advogados e demais profissionais adentram comportamentos defensivos de uma aparente vida feliz de redes sociais, curtidas e visualizações para disfarçar o medo do fracasso em uma sociedade que finge uma alegria que não consegue ultrapassar as telas de computador e celulares, alimentando o próprio vício da ansiosa solidão enquanto tumultua a própria mente e a própria vida que precisa ser visualizada por alguém que não ele mesmo.
Reprogramar o cérebro é, enfim, substituir aquilo que tem afetado negativamente sua vida e suas emoções por mecanismos que possibilitam vivências mais felizes e mais saudáveis, menos ansiosas e depressivas. É descobrir o que causa e como sair das situações de conflito e de estresse. É reconhecer a circunstância afim de aceitar que na vida há momentos felizes e tristes, mas que você é capaz de aprender a lidar com a frustração, colocando em prática a tal resiliência. É se autoconhecer ao ponto de saber evitar e contornar pensamentos e ações de dentro para fora, do abstrato para o concreto, em prol da humilde sobrevivência de cada dia no colorido da vida e não apenas no reduzido azul de dois pauzinhos.