A saúde mental e bem-estar de sociedades inteiras têm sido severamente impactadas devido à crise causada pelo Coronavírus, e o sofrimento psicológico nas populações é generalizada, alerta a Organizações das Nações Unidas (ONU). No documento COVID-19 and the Need for Action on Mental, a Organização chama atenção para o fato de que muitas pessoas estão angustiadas devido aos impactos imediatos à saúde causados pelo vírus e as consequências do isolamento social.
Neste cenário, o acompanhamento psicológico tornou-se uma alternativa para dar suporte e minimizar os efeitos da pandemia na saúde mental da população. Dados divulgados pelo Conselho Regional de Psicologia da 17ª Região, no Rio Grande do Norte (CRP-17/RN) indicam que, com a restrição imposta pela necessidade de isolamento social, o atendimento on-line tem ganhado espaço e apresenta resultados similares aos atendimentos presenciais.
De março à julho, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), mais de 83 mil psicólogos do país submeteram cadastros para realizar atendimentos virtuais, superando todos os registros anteriores à pandemia. Segundo o CRP-RN, nesse período, o Rio Grande do Norte teve um aumento de 2% para 20,4% no número de profissionais autorizados a realizar atendimento on-line por meio do uso das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs), o que representa 953 aptos para realizar o atendimento à distância durante a pandemia aqui no estado.
Exemplo
Para a psicóloga Leidiane Martinez, sócia da Core Psicologia, a diferença maior entre o atendimento na modalidade presencial e na modalidade remota é que, na segunda, o profissional e a pessoa que está sendo atendida não estarão presencialmente no mesmo espaço. “Por isso, a prestação do serviço requer do profissional da Psicologia uma maior preparação teórica, técnica e pessoal. Ter meios adequados, ter um espaço seguro e contar com privacidade são fundamentais”, afirma.
Para a fotógrafa Anastácia Vaz, que paralisou as consultas em novembro e viu a necessidade de retormá-las durante a pandemia, o acompanhamento à distância surpreendeu. “Eu me surpreendi com o atendimento à distância, porque achei que seria mais difícil. Achei que não me sentiria a vontade no atendimento on-line. Não sei se pelo fato de eu já ter um vínculo com a profissional, mas acho que as sessões on-line estão fluindo muito bem”, avalia a paciente.
Anastácia avalia também que a relação de empatia com a profissional ajuda no tratamento “acredito que em qualquer tipo de terapia, seja ela on-line ou não, o mais importante pra que o processo terapêutico aconteça é que haja uma boa relação cliente/terapeuta. Uma relação de confiança, empatia e que você se sinta à vontade e segura com a pessoa e o ambiente terapêutico, seja ele on-line ou presencial”, diz.
Impacto
De acordo com o documento da ONU, a saúde mental das pessoas está sendo impactada pelo medo da infecção, da morte, e a perda de membros da família. “Desinformação frequente e rumores sobre o vírus e profunda incerteza sobre o futuro são comuns fontes de angústia. É provável um aumento de longo prazo no número e gravidade de problemas de saúde mental”, alerta.
A psicóloga corrobora com a informação e chama atenção para o possível aumento significativo nos casos de depressão. “A depressão já foi descrita como o mal do século XXI. Com a pandemia e as mudanças repentinas na rotina de vida familiar e de trabalho, ela certamente terá um aumento estatístico significativo. Já vemos um aumento das doenças relacionadas a ansiedade, ao pânico, ao estresse, insegurança e baixa autoestima”, afirma a psicóloga psicóloga Ana Maux, conselheira do CRP-RN.
Para a profissional, o ideal é que o paciente busque por ajuda assim que surgirem os primeiros sintomas de incomodo psicológico. Alguns sinais importantes de que é preciso auxílio profissional são mudanças na rotina de sono, indisposição para atividades cotidianas, medo, angústia, perda de sentido, sofrimento, aumento do estado de irritabilidade, raiva ou tristeza.
“O acompanhamento é importante para lidar com a solidão devido ao isolamento, o medo diante dessa ameaça invisível, mas também pelo momento de insegurança econômico e político que estamos atravessando”, alerta.
O modelo de atendimento psicológico on-line é normatizado pela resolução CFP 11/2018 do Conselho Federal de Psicologia, entretanto, não deve ser definitivo. “Enquanto estivermos na situação da pandemia, alguns artigos da resolução estão suspensos, mas voltarão a valer tão logo tenhamos superado este momento, como é o caso das situações de atendimento às vítimas de emergências e desastres, situações de violação de direitos ou em situações de violência, casos em que o atendimento presencial é necessário e exigido”, esclarece o CRP.