Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que desde 1974, as vacinas contra 14 doenças diferentes salvaram cerca de 154 milhões de vidas, o que equivale a seis vidas por minuto. Entretanto, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que a taxa de cobertura vacinal em crianças e adolescentes no mundo caiu de 95% em 2015, para 68% em 2022.
No Brasil, referência mundial na cobertura vacinal por muitos anos, com seu Programa Nacional de Imunização (PNI), esse cenário não é diferente, um exemplo é a baixa adesão à vacina contra a gripe influenza. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal foi de apenas 34,24%, até maio deste ano, o que levou o órgão a prorrogar a campanha até 15 de junho em todo o País.
A situação no Estado de São Paulo também é preocupante. De acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado, o índice de vacinação foi de 29,7% no mesmo período.
Hesitação vacinal
O professor Valdes Roberto Bollela, da Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, analisou o motivo que levou à diminuição da vacinação na população. “O nome para isso é hesitação vacinal. Na maior parte das vezes são divulgadas informações falsas nos meios de comunicação, principalmente nas mídias e pela internet. Muitas pessoas começaram a ter dúvida sobre a eficácia e a segurança das vacinas.”
O professor acrescenta: “O problema é que quando uma pessoa deixa de se vacinar, ela coloca a vida dela e de outras pessoas em risco. No caso, por exemplo, da gripe, uma pessoa gripada pode transmitir a doença para dezenas de outras pessoas. E isso poderia ser evitado com a vacinação naqueles grupos em que a imunização está indicada”.
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, Luzia Marcia Romanholi Passos, apontou que este foi um dos anos de menor adesão no município, sendo aplicadas cerca de 62 mil doses da vacina contra a gripe, uma cobertura de 26%.
“De acordo com as orientações do Ministério da Saúde, esperávamos vacinar em Ribeirão Preto cerca de 274 mil pessoas, que seriam pessoas dos grupos prioritários, mas até o momento, vacinamos 62 mil pessoas, o que representa 29% do grupo de idosos, 18% do grupo de pessoas que possuem comorbidades, 18% das crianças, na faixa etária recomendada, 11% dos trabalhadores da saúde, e apenas 17% de professores”, explica a diretora.
Bollela diz que a vacina da gripe é fundamental para a proteção de pessoas que possuem o risco de ter complicações após uma infecção pelo vírus da influenza. “Esses quadros geralmente são respiratórios, com tosse, febre, expectoração. Além do risco da própria gripe, as vias aéreas ficam mais inflamadas, aumentando o risco de ter pneumonia bacteriana após a gripe. Quem faz uso da vacina e se protege da gripe também está se protegendo de uma pneumonia, que é relativamente comum na sequência de um quadro gripal, especialmente em população de idosos, pessoas que têm doenças cardiovasculares, câncer ou outras doenças mais graves.”
Além disso, é preciso ficar em alerta na época do inverno, pois é nesse período que as pessoas ficam mais suscetíveis a serem infectadas pelo vírus. “Quem não recebe a vacina fica mais sujeita a ser infectada, especialmente no período do meio do ano, quando as pessoas ficam mais aglomeradas e têm um risco maior de pegar uma infecção, podendo levar a uma inflamação das vias aéreas, aumentando o risco de pneumonia e outras complicações”, afirma o professor.
**Texto de Jornal da USP