Nas sociedades escravistas do Mundo Antigo não havia um grupo determinado que devesse ser objeto dessa cruel forma de dominação. A regra prevalecente era a do mais forte. Um povo subjugava outro, pura e simplesmente. Desavenças, desconfianças e menosprezos sempre existiram. O que é da natureza humana não aceitar o que é diferente. O outro. O diverso.
Mas, ainda não havia o que viemos a denominar por “racismo”.
É por certo um fenômeno moderno. Embora as suas origens remotas nos levem às obscuridades medievais. A mais evidente é a do antissemitismo. Hannah Arendt, em seu livro lançado em 1951, “As Origens do Totalitarismo”, realiza, brilhantemente, a sua genealogia. As perseguições dos judeus nas sociedades cristãs, culminando com a sanha persecutória da Inquisição Católica, irão produzir como que uma naturalização do preconceito e do ódio gratuitos. Os regimes totalitários do século XX, tanto o nazi-fascismo de direita ou até mesmo o “comunismo” na sua versão stalinista, irão tentar a eliminação total. O regime nazista chegou a denomina-la de “solução final”, provocando o maior genocídio da História, excetuado o que foi perpetrado à humanidade negra.
O escravismo moderno que atingiu, notadamente, as diversas populações africanas, foi uma retomada desse regime de exploração, em novos termos, agora na super-exploração capitalista, a fim de maximizar ao extremo, os seus lucros. Nossos ancestrais portugueses foram os maiores traficantes. Milhões de africanos foram transladados para as Américas, transformados em seres sujeitos à permanente destruição, já que destituídos da própria condição humana que lhes foi subtraída ou negada. Animalizados. Destituídos de alma como ousavam dizer gente piedosa e devota.
E isso aconteceu na própria África. Luteranos holandeses expulsos dos Países Baixos se instalaram no extremo Sul do Continente. Ali, irão implantar o regime racista de mais longa duração, de 1652 a 1994. Cento e quarenta e dois anos de segregação, onde a maioria numérica, negra, foi transformada em minoria política. Aliás, nem isso, pois se chegou a negar a essas populações autóctones, quaisquer direitos, mínimos que fossem. A isso se deu o nome asqueroso e infame de apartheid.
O racismo ideológico somente surgirá no século XIX, e esse aspecto do fenômeno, nós o abordaremos no próximo artigo.
Ficam registrados desde já, pela parte que nos cabe, a nossa condenação que vem acompanhada do mais completo asco por tais infâmias.
É o que é o racismo. A mais perversa obra humana. Uma infâmia!