Tosse seca, falta de ar e espirros frequentes são sintomas típicos da coqueluche, doença respiratória que tem avançado de forma preocupante nas Américas. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), foram registrados cerca de 44 mil casos em 2024, um aumento expressivo que reacendeu o alerta para a necessidade de vigilância e prevenção.
No Brasil, mais de 7 mil ocorrências foram contabilizadas no mesmo período, evidenciando falhas na cobertura vacinal, especialmente entre crianças, adolescentes e adultos. O cenário se mantém preocupante em 2025, com mais de mil notificações já registradas, segundo o Ministério da Saúde. Bebês com menos de um ano concentram a maioria dos casos, seguidos por crianças de um a quatro anos, adolescentes de dez a 14 e adultos acima dos 30, um perfil que evidencia a urgência da proteção ao longo de toda a vida.
Doença pode evoluir para quadros graves
A gravidade da coqueluche vai além dos sintomas respiratórios. Em casos mais severos, principalmente entre bebês e pessoas com o sistema imunológico comprometido, a doença pode evoluir para complicações como pneumonia, convulsões, encefalopatia e até insuficiência respiratória.
“O grupo de maior risco são os bebês abaixo dos seis meses, que ainda não receberam a proteção vacinal completa”, alerta o professor e infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O tratamento, quando necessário, é feito com antibióticos. “O cuidado médico é realizado com antibióticos para eliminar a bactéria das vias aéreas e aliviar a dor do paciente”, explica o especialista.
Imunidade cai com o tempo
Um dos fatores que contribuem para o aumento de casos entre adolescentes e adultos jovens é a queda natural da proteção vacinal ao longo dos anos. “A vacina administrada nos primeiros anos de vida confere imunidade apenas até o início da adolescência. A partir desse ponto, o jovem perde a resposta imunológica e torna-se vulnerável à coqueluche”, afirma Bellissimo.
O especialista alerta para uma lacuna importante no calendário vacinal brasileiro. “Na adolescência, os jovens recebem apenas a vacina dupla bacteriana do tipo adulto (DT), que protege contra tétano e difteria, mas não contra a coqueluche, deixando essa faixa etária desprotegida.”
Para enfrentar esse cenário, ele defende a ampliação da cobertura vacinal entre jovens e adultos, com estratégias específicas de reforço. “A não imunização ou baixa adesão à vacina também é determinante para o aumento de casos de coqueluche”, reforça.
Solução pode estar na troca de vacina
Uma das alternativas apontadas por Bellissimo seria a substituição da DT pela dTpa, vacina que também protege contra a coqueluche. “Com a atuação do Ministério da Saúde, a troca da DT pela dTpa para os jovens seria uma medida eficaz para conter o avanço da doença e fortalecer a prevenção”, avalia.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza duas vacinas combinadas contra difteria, tétano e coqueluche: a DTP, conhecida como tríplice bacteriana infantil, aplicada na primeira infância; e a dTpa, destinada apenas a grupos de risco, como gestantes e profissionais de saúde. “A restrição do acesso à dTpa para a população em geral também contribui para a vulnerabilidade de adultos e jovens”, pontua o infectologista.
Transmissão e sintomas exigem atenção
A coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis e se transmite por gotículas de saliva expelidas durante a tosse. Inicialmente, seus sintomas se assemelham aos de um resfriado comum, com secreção nasal e febre leve, mas evoluem para crises de tosse seca intensa, que podem durar semanas, causar vômitos e dificuldade para respirar.
Esses episódios, se não tratados adequadamente, podem levar a complicações severas e demandar internação hospitalar, especialmente em crianças pequenas e pessoas imunocomprometidas.
Vacinas são seguras e eficazes
A professora Cristina Ribeiro de Barros, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, explica que o imunizante pode ser produzido de duas formas: acelular ou celular. “A vacina acelular utiliza a bactéria inativada da coqueluche, enquanto a celular emprega apenas fragmentos. Ambas são eficientes”, garante.
Segundo a docente, os imunizantes atuam estimulando as células de defesa do corpo humano. “A vacina atua na estimulação das células do corpo, fortalecendo o sistema imunológico”, esclarece.
Cristina ressalta que reações após a vacinação são comuns, mas não representam risco. “Reações são habituais e significam que as defesas do organismo humano estão atuando contra a doença, porém os sintomas dependem de pessoa para pessoa.”
E conclui com um alerta direto: “As vacinas não causam doenças. Pelo contrário: são essenciais para ampliar a imunidade do paciente e prevenir a propagação da coqueluche.”
**Por Jornal da USP



