O município de Ribeirão Preto recebeu em primeira mão análises que podem ajudar a reduzir a desigualdade entre escolas e avançar na aprendizagem dos estudantes. A entrega aconteceu no dia 9 de agosto, como parte da parceria com a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP. A iniciativa conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Durante a reunião de apresentação do relatório, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), e a secretária adjunta de Educação, Cláudia Remonti, dialogaram com a equipe da Cátedra para aprofundar as reflexões sobre o que os dados estão indicando. “O prefeito inclusive demonstrou interesse em montar um grupo de trabalho para desenhar um conjunto de ações em prol da melhoria da qualidade da educação para todos, que é justamente um dos maiores objetivos da Cátedra: contribuir com a agenda de desenvolvimento dos municípios parceiros”, afirmou o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos.
A partir de uma ampla análise com diversos indicadores, a equipe da Cátedra mostra os dados da rede municipal de forma a permitir uma leitura das prioridades a serem endereçadas. Ao final, o relatório já traz um conjunto de recomendações. A principal delas é que, apesar de ter acontecido uma leve queda na desigualdade de desempenho entre as escolas nos anos iniciais e finais do ensino fundamental no município, ela segue alta e demanda atenção. Em 2019, a média no desempenho das escolas de anos finais teve uma dispersão de 38%. Nas escolas de anos iniciais, essa dispersão foi de 35%.
“Um esforço precisa ser feito para assegurar melhor equidade na rede. O município poderia estimar uma meta de redução para o coeficiente de variação para os próximos dez anos (…) [ou] implementar programa de colaboração entre escolas envolvendo aquelas de melhor desempenho com aquelas com maiores dificuldades”, sugere o relatório.
Entre os pontos que chamaram atenção, também está a necessidade de melhorar a aprendizagem em matemática, pois há um claro desafio no desempenho desse componente, especialmente nos anos finais. A partir de uma análise mais detalhada sobre quais conceitos não estão sendo compreendidos pelos estudantes, poderia ser oferecida uma formação continuada específica aos professores, com foco no que é mais necessário.
Outras duas recomendações do relatório são profissionalizar a gestão escolar, já que os diretores e diretoras das escolas podem contribuir fortemente para a melhoria no desempenho dos estudantes, e estruturar uma equipe de técnicos em leitura de dados educacionais, justamente com vistas a ter um grupo qualificado para selecionar informações estratégicas para a tomada de decisão. A Secretaria de Educação já está investindo nesses dois pontos por meio da própria parceria com a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, que também possui iniciativas formativas para isso.
Indicadores
Por meio da parceria, a equipe da Cátedra utilizou métodos estatísticos para analisar cinco indicadores e compreender quais as principais potencialidades e pontos a avançar em cada um, com análises diferenciadas para os anos iniciais e anos finais do ensino fundamental em Ribeirão Preto. Foi possível comparar os dados de 2017 e 2019, mostrando tendências de melhoria ou pontos de atenção (dados de 2021 não foram divulgados no nível de escolas pelo Ministério da Educação, portanto não foram incluídos nesta análise).
Nesse trabalho, foram consideradas as escolas com dados disponíveis para cinco indicadores educacionais: o percentual de alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa, o percentual de alunos com aprendizado adequado em matemática, a nota padronizada do Ideb, o fluxo escolar e a distorção idade-série (quantos estudantes têm dois ou mais anos de idade acima do esperado para cada série). Em 2017, foram 27 escolas de anos iniciais e 20 de anos finais; em 2019, foram 24 escolas de anos iniciais e 22 de anos finais.
Como a desigualdade entre escolas pode acontecer por conta de diversos fatores, em geral são muitas informações para se analisar, e pode ser difícil chegar a uma conclusão sobre o que está gerando a diferença de desempenho e como revertê-la. Por isso, a pesquisa utiliza uma técnica chamada de análise de componentes principais, que tem o objetivo de concentrar em poucas dimensões as informações de grandes conjuntos de dados, mostrando como as escolas da rede se diferenciam em relação ao desempenho médio, e qual o indicador mais responsável por esta variação.
Na segunda parte do relatório, um mapa georreferenciado mostra visualmente a localização de cada escola e qual seu nível de desempenho (quanto mais verde, melhor a situação escolar e quanto mais vermelho, pior a situação), permitindo ter um olhar sistêmico e identificar as regiões com escolas em condições socioeconômicas parecidas ou com características semelhantes, mas com resultados muito diferentes. Isso permite que o gestor da rede possa extrair informações relevantes para atuar em um dado território e fazer prospecções comparativas.
O terceiro recorte do relatório é o mapa de radar, que apresenta as cinco dimensões analisadas em um comparativo com a média do Estado de SP e com o Brasil, gerando uma leitura contextual e com referências para além do município.
Outro lado
Na íntegra, confira a nota divulgada pela Secretaria Municipal da Educação a respeito da análise:
“A Secretaria Municipal passou por intensas transformações nos últimos três anos, em que reconfigurou seu método de trabalho, montou uma equipe técnica qualificada e construiu uma base de dados consistentes sobre o desenvolvimento das aprendizagens e a qualidade da educação oferecida, visando sempre o aumento da proficiência educacional dos nossos alunos e a permanência deles na escola. Essa evolução tem relação direta com a parceria produtiva e significativa que temos com a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira.
A Prefeitura tem investido muito na área da educação, justamente para que todos tenham o direito à uma educação de qualidade, como por exemplo, o projeto Todos Juntos, que colocou dois professores nas salas de aula do 1º ao 5º anos do ensino fundamental, além da ampliação da carga horária, com a 6ª aula, dois professores de matemática nos anos finais do fundamental, contratação de professores, mais formações, além de da parte estrutural, com reformas, compras de mobiliários, kits multimídia e a construção de novas escolas”.
**Texto de Jornal da USP