Provavelmente você conhece alguém que costuma ir em eventos sociais e é muito difícil de agradar quando se fala em comida. Geralmente aceita uma quantidade limitada de alimentos ou tem algumas frescuras na hora de comer como: “tirar os verdinhos”, “deixar de consumir algum prato só porque sentiu um pedaço de cebola” e por aí vai. Os “Chatos pra comer” sempre acabam entrando em situações muito tensas para eles mesmos, pois se sentem constrangidos em ter que separar elementos de um prato ou evitar algumas preparações corriqueiras, e também para quem os acompanha e não sabe como agir diante da situação.
Vim aqui te contar que esta “chatice” na verdade pode ser um transtorno que precisa de tratamento. Os Picky eaters – como são chamados em inglês, equivalente a “comedores exigentes” – são, muitas vezes, adultos que na infância tiveram alguma dificuldade alimentar que não foi tratada corretamente. É como se, durante a infância, criassem alertas internos de perigo para alguns alimentos como se fossem venenosos ou perigosos, criando uma aversão.
Para visualizar melhor, imagine como você se sente ao ver uma barata em sua comida! Você sente um nojo, uma repulsa, não é?! Você tem estas sensações pois, ao longo de sua vida, foi ensinado que a barata é um perigo pra você e o mesmo acontece com estes adultos seletivos quando tem contato com certos alimentos. É como se, em algum momento da vida por experiencias traumáticas, o cérebro deles gravasse que aquilo é repulsivo como uma barata.
Dependendo do nível de seletividade, podem desenvolver um transtorno alimentar conhecido como TARE – Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo, que deve ser tratado por equipe multiprofissional com nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos e até mesmo psiquiatras.
Se você conhece alguém assim, ficou assustado com essa descrição e quer ajudar esta pessoa, seguem algumas dicas:
- Pare de chamar de frescura! – Acolha esta pessoa, pois ela passa por um sofrimento real que muitas vezes precisa de ajuda.
- Não force nenhuma situação para que coma algum alimento – Ao ser forçado, o seletivo se sente acuado e isto ativa ainda mais a parte de defesa do cérebro responsável pelo medo dos alimentos, piorando a situação.
- Incentive o preparo dos alimentos – A exposição na preparação de alimentos faz com que o cérebro comece a reconhecer os alimentos como seguros, diminuindo a aversão. É um processo lento, mas que ajuda muito!
- Incentive diferentes formas de preparo do alimento ou ainda misturar com o que já gosta – alguns pacientes meus que trataram a seletividade, para começar a experimentar alguns alimentos, utilizavam estratégias como adicionar bacon ou ketchup junto ao alimento a ser consumido, para mascarar um pouco o gosto e facilitar a ingestão. Vale também o leite condensado para as frutas. Mesmo que não pareçam estratégias nutricionalmente saudáveis, são válidas para começar a exposição ao alimento aversivo e aumentar a segurança frente aquele alimento. Outra estratégia é iniciar com pedaços pequenos misturados ao arroz ou carnes.
- Procure ajuda e avaliação especializada – este tipo de transtorno, muitas vezes, tem diferentes causas base. Podem ser por hipersensibilidade sensorial, como sensibilidade a cheiros ou texturas, ou ainda por traumas psicológicos na infância. Saber melhor sobre esta causa, pode auxiliar no direcionamento do tratamento e facilitar a evolução.