Atolada em dúvidas e com um prejuízo que superou os R$ 8 milhões em 2019, a Coderp anunciou, na semana passada, seu Plano de Demissão Voluntária. A meta é cortar funcionários para tentar viabilizar a empresa economicamente.
Pelo projeto, os trabalhadores da Coderp terão direito a uma série de incentivos. Além dos pagamentos dos saldos de salário, férias, e 13º salário proporcionais, e férias vencidas se houver, o projeto prevê a manutenção dos auxílios saúde por sete meses e educação, por seis.
Além disso, o trabalhador receberá aviso prévio indenizado, no limite máximo da lei, mas sem trabalhar; indenização de R$ 2,5 mil e mais um salário-base, além de 40% sobre o saldo do FGTS.
Em questionamento anterior sobre o assunto, prefeitura informou que já “reduziu o número de empregados de 181, em 31 de dezembro de 2018, para 154, em 31 de dezembro de 2019” e que a companhia contava, em 30 de abril, com 146 empregados.
Segundo o advogado Alexandre Leite, especialista em administração de empresas em recuperação judicial, a medida de cortar gastos é adequada. “Muita gente que poderia sair pode se sentir estimulado a sair da empresa. A Coderp terá um gasto mas, no longo prazo, deixa a folha menos onerada. Isso pode, no longo prazo, ter impactos no caixa da empresa, com benefícios grandes”, avaliou.
PDV
A intenção da administração é diminuir a folha de pagamento gasta na empresa, que costuma pagar até três vezes o salário de mercado para seus colaboradores, além de pagamento de décimo quarto salário e diversos adicionais.
A farra dos supersalários fez com que a empresa, inclusive, encontre dificuldade para sobreviver no mercado. Segundo o superintendente da empresa, Aurílio Caiado, o déficit da empresa é estimado em R$ 1,2 mil mensais.
Procurada, a prefeitura não informou quanto pretende investir no PDV, nem o quanto as demissões devem impactar no cotidiano da empresa.
O PDV não é, entretanto, a primeira ação tomada pela direção da companhia para minorar o déficit. No fim do ano passado, a empresa demitiu 16 servidores e terceirizou parte dos serviços. Segundo a prefeitura, isso gerou economia de R$ 217 mil mensais à empresa.
Exemplos
Segundo José Rita Moreira, economista, a situação da empresa é praticamente falimentar. Ele acredita, inclusive, que os salários fora de mercado sejam parte da equação que leva a Coderp próxima à bancarrota. “Se fosse uma empresa particular, certamente já estaria falida”, avalia.
O Grupo Thathi fez um levantamento e constatou que os salários pagos pela Coderp chegam a até quatro vezes os salários pagos por grande empresas da iniciativa privada.
Um analista de sistema sênior, na Coderp, recebe até R$ 32 mil mensais. Na iniciativa privada, por exemplo, o valor para o cargo em grandes empresas, como Itaú e B3, fica abaixo de R$ 10 mil.
Apenas como comparação, um assessor contábil recebe perto de R$ 10 mil na Coderp, enquanto no mercado esse valor raramente chega a R$ 3 mil. Caso semelhante acontecem com programadores (R$ 11 mil, no mercado raramente chegando a R$ 4 mil), analistas de TI (R$ 14 mil, sendo o mercado na casa dos R$ 6) e até o vigia (R$ 4 mil, com valores de marcado na casa dos R$ 1,2 mil).
Para Alexandre Leite, a medida pode significar um novo começo para a companhia. “O corte dessas pessoas é o primeiro passo. Não dá pra dizer se a empresa vai poder ser salva, mas esse é o começo desse processo”, afirma Alexandre Leite.