“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” é o tema deste ano.
O Enem 2023 traz um tema recorrente na vida cotidiana brasileira: a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no país e seus desafios. A amplitude temática passa por uma série de circunstâncias que atravessam os aspectos culturais e até mesmo dogmáticos de uma sociedade que, lentamente, se modifica, mas que ainda mantém traços indeléveis de um patriarcalismo e machismo dominantes.
Os números são assustadores: milhões de mulheres passam grande parte de suas vidas exercendo trabalho doméstico e de cuidados, sem qualquer remuneração, ficando distantes de acesso a serviços públicos que lhes possam auxiliar nessa tarefa.Esse trabalho passa quase de forma invisível, desvalorizado, pouco ou quase nada reconhecido. Isso, sem contar que essas mulheres muitas vezes exercem jornada dupla, trabalhando fora e também dentro de casa.
Por mais que as mulheres tenham vencido barreiras, ainda representam a maioria daqueles que têm a responsabilidade de cuidar tanto dos filhos, dos pais, parentes e assim por diante. Surge como uma obrigação, sem questionamento, sem sequer que se percebam a sua importância. Ganha aspectos de uma “normalidade” institucional.
O tema da redação exigia que o candidato refletisse sobre esse contexto. O que precisa ser feito para tentar amenizar ou quem sabe, solucionar o problema? Antes, era preciso problematizar, ou seja, criar dentro do tema aquilo que seria a razão do texto. Certamente não é obrigação apenas da mulher esse papel cuidador, no entanto, é ela que o exerce. Eis aí a problematização necessária.
O que levou a esse quadro? Percebam que o repertório é fundamental nesse momento. Levantamento dos fatores históricos, sociológicos é pertinente. Quais as consequências dessa cultura? Quais são os limites desses atos? O que esperar de uma sociedade que age de forma ímpia contra as mulheres?
Como fonte de intervenção, o que pode ser feito para evitar isso? Como mudar uma cultura machista e patriarcal? Quem tem esse poder? Trata-se de um dever apenas governamental ou a sociedade, como um todo pode contribuir? E os aspectos religiosos que norteiam esses conceitos milenares?
O Enem propôs uma discussão madura e pertinente. Exige do candidato um passo além de um achismo ou uma superficialidade na abordagem. Requer um amadurecimento de conceitos, um exercício que pode afrontar cultura e religião e que se torna fundamental para o crescimento e a igualdade entre as pessoas.
Aparentemente é um tema fácil, mas requer maturidade. É sempre bom lembrar que essa situação tem embasamento cultural e, muitas vezes, religiosos. Vencer esses desafios não é fácil. Entender que eles estão arraigados no tecido social também. Aí mora a intenção do Enem. Propor um debate amplo e intenso.
O Portal THMais vai comentar a prova com os professores do SEB.