A música popular brasileira respira aliviada depois do novo lançamento de Emicida. Temos, agora, mais um ótimo motivo para relembrar o saudoso Belchior, falecido em 2017. Com um sample de “Sujeito de Sorte”, do álbum “Alucinação”, de 1976, grande clássico do cantor e compositor cearense, Emicida dá o tom da canção repleta de autoafirmações e resgate da autoestima. “Tenho chorado demais, tenho sangrado pra cachorro/ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, inaugura a sessão de terapia pela música promovida pelo rapper paulistano. Com as surpreendentes participações de Pabllo Vittar e da nova voz da música baiana Majur, o single “AmarElo” é, de longe, um dos grandes trabalhos da música brasileira nos últimos tempos.
O videoclipe, lançado no Youtube, começa com um depoimento de quase três minutos de alguém que parece ser um jovem fã de Emicida, que relata as dificuldades de conviver com a depressão de maneira bastante pessoal e verdadeira. A introdução fortalece a intenção da música de resgatar o amor próprio de quem quer que seja que ouça a canção.
Sem necessariamente trazer o tom político muito presente nos trabalhos do chefe da Laboratório Fantasma, o maior case de sucesso da música independente no Brasil na última década, o trabalho traz uma estética pop com bateria potente, repleta de graves, fugindo dos usuais bumbo-caixa muito batidos no rap e um discurso que pode se aplicar a esmagadora maioria dos brasileiros cansados das nossas inglórias lutas de todo dia.
Emicida – AmarElo (Sample: Belchior – Sujeito de Sorte) part. Majur e Pabllo Vittar
A letra e o roteiro do clipe são assinados por Emicida. Majur (novidade pra mim) canta bem e tem carisma e Pabllo Vittar surpreende muito os desavisados, como eu, cantando com muita técnica uma canção com conteúdo forte. Em meados de 2019, com boa parte dos brasileiros cansando-se, mais uma vez, das tensões e do avanço político nulo do país depois de mais uma eleição com promessas de novidades que nunca chegam, o mantra de Belchior é resgatado em ótima hora! Todo o crédito pelo projeto ao Emicida e aos envolvidos que mostram que a arte é capaz de unir a todos e qualquer um em torno de um mote de fé. Que a máxima “ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” faça-se presente para todos nós e que a força esteja conosco. Fica a recomendação e os votos a cada um que a perca de vista.