Equipe da USP de Ribeirão Preto viaja ao coração da floresta Amazônica para mapear saúde dos ribeirinhos

Pesquisadores coletarão amostras da população e do meio ambiente durante 34 dias em Tefé, no Amazonas

População ribeirinha do Amazonas terá atendimento de equipe da USP | Foto: Fernando Barbosa Júnior/Arquivo pessoal

No coração da Amazônia, à 523 km de Manaus, uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP embarca em uma jornada científica e humanitária, a partir do dia 3 de abril. Liderados pelo professor Fernando Barbosa Júnior, eles realizarão coletas de amostras ambientais e biológicas para análises toxicológicas e nutricionais dos ribeirinhos.

Depois de 52 horas de viagem e durante 34 dias, os cientistas atenderão comunidades próximas ao município de Tefé, ampliando um trabalho que vem sendo realizado há 20 anos. Desde 2022, as expedições passaram a ser anuais e agora contam também com a participação de graduandos. O objetivo é mapear contaminação por metais pesados e outros poluentes, além de avaliar as condições nutricionais da população local. A expectativa é de coletar amostras de cerca de 2 mil pessoas, na faixa etária de 8 a 60 anos. “Fazemos coletas de amostras biológicas, como sangue, urina, fezes e cabelo, em que avaliamos nutrientes e monitoramos a exposição a contaminantes diversos na região. Classicamente, avaliamos o mercúrio, que é bastante conhecido, mas também investigamos outros contaminantes ainda não estudados”, explica Barbosa Júnior.

O estudo, que faz parte do Projeto Amazomics: Avaliação da Qualidade de Saúde e Condições Nutricionais da População Ribeirinha da Amazônia Brasileira, busca fornecer dados para que órgãos de saúde possam implementar medidas eficazes para a população ribeirinha. “Nós vamos conseguir mapear tudo e repassar para os órgãos de saúde locais para que tomem as providências necessárias para melhorar a qualidade de vida dessas comunidades”, afirma o professor.

A rotina será intensa. Com a base principal em um barco que transporta 1,5 tonelada de equipamentos, os pesquisadores partem do Rio Solimões até os locais de coleta, onde conduzirão entrevistas e análises em campo. O projeto deste ano contará com o apoio logístico do Instituto Mamirauá, e seis pesquisadores integrarão a equipe. “Quando começarmos os trabalhos de coleta, nos deslocaremos até uma base em terra, em geral uma comunidade, junto com parte do material da pesquisa. Faremos todas as entrevistas em terra e as coletas também, depois transportamos o material até o barco para ser processado e armazenado nos freezers”, detalha Barbosa Júnior.

As atividades na região começam a partir das 7h30 e, após as coletas, o grupo retorna ao barco para o processamento das amostras. As atividades incluem períodos em reservas como Amanã, Mamirauá e a Floresta Nacional de Tefé, onde o grupo permanecerá por 10 dias em cada local.

O projeto já deu origem a diversos estudos acadêmicos. Um exemplo é a investigação sobre a presença de agrotóxicos na água consumida pelos ribeirinhos, que pode ter impactos significativos na saúde da população e na qualidade do ecossistema local, publicado recentemente no Jornal da USP, leia neste link.

Os resultados dos exames de hemograma são entregues no mesmo dia, enquanto outras análises, mais complexas, são processadas no laboratório do professor na FCFRP e retornam meses depois.

Esse último processo é chamado de “devolutiva”, quando uma equipe menor retorna às comunidades para explicar os achados e sugerir medidas para melhorar a saúde e o meio ambiente. “Ao compartilhar os resultados obtidos buscamos reverter um potencial quadro de risco mais acentuado nessa população, seja por uma exposição a um contaminante, um aspecto de deficiência nutricional ou qualquer outra característica que possamos informar. Para isso, é preciso haver uma intervenção através dos agentes de saúde locais”, destaca o professor.

**Por Jornal da USP 

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