O Brasil tem, atualmente, a menor representatividade católica desde 1872. Em contrapartida, os evangélicos bateram recorde: o maior número de seguidores já registrado no País. O Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em junho deste ano, apontou mudanças no panorama religioso brasileiro. A queda de espíritas, a triplicação de seguidores de religiões de matriz africana e o crescimento do número de pessoas sem religião também chama atenção.
Segundo a pesquisa, o catolicismo segue como a religião mais popular, representando 56,7% da população, menor porcentual desde o primeiro estudo registrado no País, há 153 anos. Em comparação com o Censo 2010, essa porcentagem caiu 8,4%.
A pesquisadora Juliana Carvalho, do Laboratório de Etnopsicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, especialista em Religião e Memória Social, explica que a declaração de pertencimento a uma religião nem sempre reflete a vivência religiosa das pessoas, pois fatores como o preconceito social podem influenciar as respostas dadas ao Censo. “A queda no número de católicos poderia ser explicada por motivos como o próprio crescimento de outras religiosidades e da possibilidade de serem declarados abertamente sem o medo do preconceito religioso.”
Em contrapartida, o evangelismo segue em ascensão. A cada Censo, desde o começo das pesquisas, o número de evangélicos só cresceu. Em 1890, a parcela de evangélicos no Brasil era de 1%; atualmente, a porcentagem chega a 26,7%. Em comparação ao último Censo em 2010, o aumento foi de 5,3%.
“O crescimento dos grupos evangélicos revela uma nova configuração social, que mantém uma continuidade das ideias cristãs conservadoras”, diz Juliana. A pesquisadora também ressalta que esse fenômeno, quando comparado ao que ocorre em outros países, mostra como as tradições cristãs pentecostais assumem formas bastante diferentes ao redor do mundo, influenciadas por conflitos históricos, contextos sociais e culturais específicos.
As religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, foram as que mais cresceram porcentualmente: de 0,3% para 1% da população. O Censo também registrou um ligeiro declínio no número de espíritas, assim como um aumento dos que se declaram sem religião, que agora representam 9,3% dos brasileiros. Juliana comenta sobre a possibilidade de migração entre religiões, destacando que a ideia de conversão só faz sentido em um contexto em que a espiritualidade e a adesão religiosa são vistas como algo separado do corpo: “Nos cultos de matriz africana, por exemplo, o espiritual se manifesta por meio do corpo, por meio da incorporação, da mediunidade”; ou seja, o corpo não está à parte da experiência religiosa, ele é central nela.
Regionalmente, os perfis religiosos variam. O levantamento aponta que os católicos são maioria em todas as regiões do País, com maior concentração no Nordeste (63,9%), seguido pela Região Sul (62,4%). Os evangélicos têm maior presença no Norte (36,8%) e no Centro-Oeste (31,4%). A maior concentração de espíritas está na Região Sudeste, onde representam 2,7% da população. Seguidores de religiões de matriz africana estão mais presentes no Sul (1,6%) e no Sudeste (1,4%). Já os que se declararam sem religião são mais representativos na Região Sudeste (10,5%). Sobre as diferenças regionais, a especialista acredita que elas refletem a história de vida de cada indivíduo, sua conexão com a comunidade local e os laços de solidariedade.
**Por Jornal da USP



