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Evo Morales, a milícia e a PM brasileira

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Sabe-se que Evo Morales tentava mais uma eleição na Bolívia, ele estava no poder desde 2006, sabe-se também que a Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou possíveis fraudes no processo eleitoral. Evo convocou novas eleições, mas isto não acalmou os ânimos das manifestações de rua e nem da oposição encabeçada por Macho Camacho, empresário envolvido em corrupção e fanático religioso. Macho é ativista desde os 23 anos como vice-presidente da organização cívica União Juvenil Cruceñista, descrita pela Federação Internacional de Direitos Humanos como “uma espécie de grupo paramilitar” que realiza atos de racismo e discriminação contra habitantes e instituições indígenas.

Veio então o golpe, mas que tipo de golpe?

Do tanto de notícias, a percepção de alguns analistas é que o exército foi coadjuvante no golpe comandado pelas milícias parapoliciais, somente após o ato consumado, o comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Williams Kaliman, divulgou um comunicado que pedia a saída imediata de Morales. A casa da irmã de Evo havia sido incendiada, ação que forçou ainda mais a sua renúncia.
O golpe da Bolívia não foi o clássico (comandado pelo exército) e nem moderno (político-jurídico), mas diferente, talvez seja o primeiro golpe miliciano. Informação que causa medo, pois no Brasil, como defende o jornalista Bruno Toturra: “…a presença da ideologia miliciana nos mais altos escalões do executivo, da procuradoria e polícia é, em si, um golpe de dentro para fora (do sistema)”.

Há tempos venho querendo escrever um artigo que envolve a Polícia Militar (PM) e o seu aparelhamento político-ideológico, que já contamina setores do Judiciário – Magistratura e Ministério Público. Some-se a esse cenário obscuro, o proselitismo religioso e todos os tipos de ideias reacionárias e antirrepublicanas que corroem o espaço do debate sobre segurança pública e país, até envenená-lo jogando ao campo da extrema-direita.

Por isso me incomoda as homenagens “sem fim” a policiais em parlamentos, que devem sim ser homenageados, todavia, assim como os professores, médicos e demais categorias que servem o estado. Pior, há muito político progressista e liberal servindo de massa de manobra nestas homenagens. O próprio policial, mal pago e mal treinado e muitas vezes descoberto pelo estado nas suas necessidades, não desconfia que é massa de manobra dessa corrente reacionária que o alimenta somente com discurso falho, muitas vezes medieval, com apologia à tortura e a execução, por exemplo.

Voltando à Bolívia, Evo talvez sirva de alerta para esquerda, que esta deva pensar na alternância do poder como base de solidificação democrática. A Bolívia crescia 5% ao ano na última década e teve avanços enormes com o índio Evo Morales, porém 13 anos no poder e sucessivas dúvidas eleitorais criaram o campo fértil para o golpe. Qualquer boliviano de 20 a 30 anos acredita que Evo era o “poder” em si, sendo assim as mazelas seculares daquele país acabaram ficando na sua conta, mesmo que ele fosse contrário a elas.
Já falando de Brasil, o receio deste escriba é gigantesco, por conta da contaminação das instituições e a falta de respeito dos nossos homens públicos, em sua maioria, com o que chamamos de republicanismo.

Falta muito a nossa democracia.