COMO DIRIA O PADRE QUEVEDO – A tal da fake news não existe. E usando da metalinguagem, esta afirmação não é outra fake news. Participei de duas discussões sobre o tema recentemente. A primeira, num seminário promovido pelo escritório de advocacia do Dr. Brasil Salomão e a outra na Semana de Jornalismo da Estácio. Entre os estudantes de jornalismo fiz a afirmação que causou surpresa e questionamentos. Mas é preciso entender que defendo a tese do ponto de vista do jornalismo e não do cidadão que é bombardeado por algum tipo de arma química destinada a provocar muita confusão em todo o planeta.
NOTÍCIA OU FOFOCA? – Para entender a afirmação de que fake news não existe, primeiro é preciso traduzir a expressão. Em bom português quer dizer “notícia falsa”. Ora, se o conceito que aprendemos nas faculdades de jornalismo define a notícia como “uma informação que é reportada, checada e publicada num veículo de comunicação”, como um jornal, rádio ou TV poderia, deliberadamente, publicar uma notícia falsa? Desafio o descrente leitor a me apontar uma só reportagem baseada estritamente em mentiras e que tenha sido publicada por um grande órgão de imprensa após o debate presidencial na Rede Globo em 1989!
TEORIA DA CONSPIRAÇÃO – Então, é preciso filtrar o que aparece no feed de notícias quando você corre a barra do visor do seu celular para o lado. Somos atacados por uma enxurrada de manchetes de sites, blogs e vídeos que se propõem a revelar a verdade, “aquilo que a grande mídia não noticia”. Aí sim, a invenção, a mentira, o que é fake, a opinião que põe em xeque “tudo isto que está aí”, e até algumas verdades, se esparramam como uma carga de inseticida sobre a lavoura indefesa. E para quem adora uma teoria da conspiração, tudo fica muito claro! Quem recebe estes “segredos” goza a sensação de fazer parte um clube exclusivo que não está sendo enganado pelos poderosos.
CULPA DA IMPRENSA – Sim, a imprensa tradicional precisa de um mea culpa porque não percebeu o tsunami das redes sociais avançando e embolando tudo o que vinha pela frente. E é um direito inquestionavel de qualquer cidadão criticar e não aceitar passivamente a informação produzida pela mídia tradicional. Só que é o seguinte: notícia passível de questionamento e análise é uma coisa. Informação que circula na internet sem checagem, sem apuração e vindo de uma fonte que você não conhece é outra coisa bem diferente. Então, cuidado para não cair na armadilha de quem se aproveita disso.
O TIO SAM É O EXEMPLO – O presidente dos EUA, Donald Trump, deu o pontapé inicial e deixou todos os líderes mundiais bem à vontade para usar a mesma técnica. Primeiro, o lance é criar o caos no ambiente virtual, usando robôs, sites falsos, redes sociais para garantir a própria eleição. Depois é apontar o dedo para a imprensa tradicional e dizer que uma notícia checada por jornalistas profissionais é uma fake news. E na sequencia, a campanha é conclamar anunciantes a boicotar os órgãos de imprensa e cancelar as assinaturas que o governo tem do New York Times, por exemplo. Então, se o quadro for este, não esqueça: Fake News Non Eqsiste!!!!