A comunidade científica tem relatado várias manifestações neurológicas associadas à covid-19. O mais recente relato traz informações de instituições norte-americanas sobre o aumento de até sete vezes dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) em pacientes com menos de 50 anos e infectados pelo Sars-cov-2.
Baseado nesses achados, o professor Octávio Pontes Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, suspeita que a covid-19 esteja associada a essas manifestações neurológicas tanto em indivíduos abaixo dos 50 anos como nos mais velhos.
Para o professor, fica mais difícil estabelecer essa associação entre os idosos, que frequentemente já apresentam maiores chances de problemas cerebrovasculares. “Em indivíduos abaixo dos 50 anos, sem fatores de risco cerebrovasculares, a ocorrência de um AVC, por oclusão de uma grande artéria do cérebro durante a covid-19, realmente sugere uma associação causal, uma contribuição da covid-19”, afirma.
Essas ocorrências, segundo Pontes Neto, precisam ser mais bem estudadas e, esses mecanismos, esclarecidos. No Brasil, o Hospital das Clínicas da FMRP e outros hospitais já estão “mapeando as manifestações neurológicas para se ter uma ideia de sua prevalência e sua gravidade e se existe ou não uma associação com a covid-19”.
Relacionados ou não com a covid-19, os casos de AVC não estão chegando às emergências a tempo de receber tratamento. Pontes Neto alerta que quadros de AVC precisam de atendimento de urgência e, por causa da pandemia, muitos indivíduos relutam em procurar auxílio médico, mesmo diante dos sintomas: fraqueza ou dormência de um lado do corpo; dificuldade súbita para falar ou para entender; perda súbita da visão; incoordenação ou dificuldade para andar.
“A população precisa ficar em casa, porque o isolamento social reduz a contaminação pelo novo coronavírus e a velocidade de propagação da epidemia, mas, diante dos sintomas do AVC, é necessário procurar assistência médica rapidamente, ligar para o 192, pois o AVC não escolhe o melhor momento para chegar e o paciente precisa ser tratado rapidamente e de forma adequada para reduzir o risco de ficar com sequelas o resto da vida”, informa o professor.
Na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da FMRP e em vários outros hospitais do Brasil está instalado um esquema de fluxo paralelo independente para os pacientes com a covid-19, justamente para preservar o atendimento dos pacientes com AVC, infarto e outras emergências médicas.