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Meu nome é Preto

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Meu nome é Preto
Ilustração: Gustavo Maniezi

Olá, meu nome é Preto, sou apenas um ribeirão. Como grande parte da população da cidade de Ribeirão Preto, meu local de nascimento é em outro município. Minhas águas brotam das profundezas do Aquífero Guarani na vizinha Cravinhos.

É bastante comum nesta cidade, que tem seu nome por minha causa, me chamarem de córrego. Eu, um vigoroso ribeirão, não ligo para isso. O que me incomoda mesmo é como me tratam, despejando esgoto e lixo em minhas águas. Chego relativamente limpo e saio muito sujo depois de passar por dentro desta grande cidade.

Corro por este vale desde as mais remotas eras. Todo o vale era virgem. Os animais e aves se multiplicavam, bebendo das minhas águas.

Os primeiros habitantes da terra me trataram com dignidade, pescando os meus peixes e banhando-se nas minhas águas. Depois vieram os homens “civilizados” em pequenos barcos subindo pelo meu leito. Começaram a construir no entorno e mais tarde então decidiram retificar a minha calha e passaram a despejar os dejetos da chamada “civilização” em minhas águas.

Entrando no município

Depois de percorrer alguns quilômetros, entro no município de Ribeirão Preto, ladeado por mata ciliar, ora ampla, ora bem estreita. Algumas vezes sem nenhuma árvore. Sigo embrenhando por entre sítios e muitas vezes recebo agrotóxicos, que escorrem para o meu leito trazidos pelas chuvas. Chego ao distrito de Bonfim Paulista, que logo atravesso e continuo meu caminho rumo ao Rio Pardo, meu destino.

Vou pelo fundo do vale cortando novos residenciais fechados e chegando à grande metrópole, primeiro ladeando o Parque Ribeirão e depois a Vila Virgínia, dividindo estes bairros com o Centro.

Existia uma grande várzea com brejo na região da Vila Virgínia. Era um grande berçário de peixes, répteis e batráquios. O homem ocupou a área com ruas e casas, que ficaram sujeitas a inundações. A situação só foi corrigida recentemente com a retificação do meu curso.

Sigo meu caminho passando pela histórica Baixada, tão importante outrora, hoje uma região decadente. Lembro da Mogiana com sua Estação, do centenário Mercadão, das antigas fábricas de cerveja, a Antarctica, do lado da Vila Tibério, e a Paulista, do lado do Centro.

Logo depois da Rotatória Amim Calil, sigo livre das paredes de concreto. Na Via Norte sigo com o curso corrigido, em linha reta. Depois de longos quilômetros, ladeado pela avenida, saio da cidade e ganho novamente matas ciliares. Próximo ao meu final já são poucas árvores até desembocar no Rio Pardo, que por sua vez irá despejar suas águas no Rio Grande e depois irá se transformar no Rio Paraná até chegar no Oceano Atlântico pelo Rio da Prata, que tem Buenos Aires de um lado e Montevidéu do outro.

O longo caminho das minhas águas deveria servir de reflexão: como tratamos nossos rios, ribeirões, córregos e riachos.