Olá, depois de algumas colunas publicadas decidi que era hora de um contato mais próximo por aqui, menos impessoal. A intenção aqui neste espaço é trazer análises e informações sobre cultura. Resenhas de álbuns, de livros e outros trabalhos relacionados principalmente a música, como séries e filmes que giram em torno do tema, serão encontrados aqui, além de atualidades, eventualmente, mas sempre com alguma dose de informação para não ficar apenas na base do achismo. A interação aqui, aliás, é muito bem recebida, como de costume. Bom, então vamos lá, para facilitar dividi o tema em tópicos. O primeiro deles é:
A repercussão da Shallow brasileira
Nos últimos dias o maior meme das redes sociais no Brasil foi a versão brasileira da música Shallow, dueto de Lady Gaga e Bradley Cooper já consagrado no cinema, como todo mundo já sabe regravado por Paula Fernandes e Luan Santana. As críticas vieram como chuva nas redes sociais e com certeza isso rendeu muitas visualizações no Youtube e nas contas dos artistas em streaming. Hoje, na música, clique é dinheiro! Quem não gostou da interpretação da dupla de sertanejos acabou gerando mais riqueza para ambos. Essa tendência atual da internet tupiniquim de linchamento virtual, vez ou outra, por esse ou aquele motivo, não é a melhor estratégia para enfraquecer qualquer coisa. Vejamos o exemplo da Betina, do comercial de investimentos do youtube. Ela virou meme, ganhou espaços na imprensa e uma exposição absurdamente além do esperado das propagandas da empresa. Lembremos do famigerado “falem bem, falem mal, mas falem de mim”, que funciona como nunca, até na política.
Sr. Ozzy
Sr. Ozzy, a versão de Zé Ramalho
Não vou fazer juízo de valor sobre Luan Santana, Paula Fernandes e a versão deles. Não são artistas cujos produtos eu consumo, mas, vou trazer aqui um contraponto. Um artista mais experiente, para ressaltar só um fato, Zé Ramalho, lançou poucos dias antes do famigerado lançamento da shallow sertaneja uma versão de uma música do primeiro álbum solo do britânico Ozzy Osbourne, de 1980. A canção “Mr. Crowley”, na interpretação de Zé Ramalho, com Robertinho do Recife na guitarra, virou “Sr. Ozzy”. Além do nome, o personagem principal da narrativa foi modificado. Na original, o protagonista é Aleister Crowley,o ocultista britânico que viveu entre 1875 e 1947 e influenciou deveras a cultura pop do último século. Ele está na capa do álbum mais famoso dos Beatles, o Sgt. Peppers Lonely Heats Club Band, foi seguido por Raul Seixas e Paulo Coelho, Jimmy Page e muitos outros. Na versão de Zé Ramalho, Crowley sai de cena completamente e quem assume como figura central é o próprio Ozzy Osbourne. Assim, é uma homenagem elevada ao quadrado que ganha cores na capa do single que traz um morcego, praticamente um símbolo de Ozzy Osbourne com a mitológica história de que ele mordeu o cadáver de um morcego que jogaram no palco durante um show (ele justifica que pensou que fosse um morcego de plástico ou de pelúcia, quando viu que era real já era tarde). Vale lembrar que Zé Ramalho tem larga experiência com versões de artistas internacionais.
Ele regravou um álbum todo com versões em português de canções de Bob Dylan, cuja referência mais conhecida é a tradução de “Knockin’ on Heaven’s Door” para “Batendo na Porta do Céu”, e também regravou The Beatles, algumas músicas da banda e outras das carreiras solo dos integrantes. Há outro trabalho dele de versões de um artista nacional, Raul Seixas. Além disso, o cantor e compositor de voz inconfundível não é só íntimo das versões mas também do rock’n roll como um dos artistas de música popular brasileira mais abertos à linguagem do rock. Logo em seu álbum de estreia, de 1978, o tecladista da banda Yes, Patrick Moraz, e o guitarrista dos Mutantes, Sérgio Dias, participaram como convidados.
Ele também tocou com o Sepultura, além de ter feito diversas referências ao estilo em letras e arranjos ao longo da carreira. Na recente Sr. Ozzy, essa fusão que ele faz da música regional com a estética do rock está ali mais uma vez. O guitarrista Robertinho do Recife consegue reproduzir com muita perícia o solo da canção original com passagens de guitarra distorcida em cima da base de violão. Essas são as sugestões de hoje.
Conhece mais boas versões brasileiras para músicas gringas? Comente! Ouça o lançamento do Zé Ramalho e suas outras versões e deixe sua opinião nos comentários!
Versão de Bob Dylan
Versão de The Beatles