Para muitas pessoas, desejo sexual e prazer caminham juntos, proporcionando um desenvolvimento satisfatório em sua sexualidade. Porém, há pessoas que sofrem com a falta de desejo, ou mesmo com um desejo sexual mais constante do que a maioria. Vivendo em sociedade, buscamos sempre encontrar um padrão de comportamento para nos compararmos e tentarmos nos julgar como normais ou não; com a sexualidade, não acontece diferente.
Constantemente vemos crises de relacionamento causadas por diferenças entre a sexualidade de seus parceiros. Alguns sentem mais desejo, outros menos; e ainda há aqueles que nunca experimentaram a sensação de desejar sexualmente. Para estes, aliás, está começando a haver uma revolução na sexualidade, que pretende elucidar se a assexualidade não seria mais um tipo de orientação sexual, como são a heterossexualidade, homossexualidade e a bissexualidade.
Mas o que é desejo sexual? Como manter o desejo em um relacionamento?
O desejo sexual pode ser entendido como uma força energizante que busca satisfação por meio genital. A pulsão sexual tem sido considerada como algo instintivo, espontânea, assim como a fome e a sede; porém, estudos mais recentes sugerem que o desejo sexual possa acontecer de maneira secundaria: ele pode ser provocado e até cultivado. Ou seja, o desejo é visto como um estado subjetivo e motivador, ativado por sugestões internas e externas, que podem ou não resultar em completamente sexual efetivo.
Partindo desse ponto de vista, não há uma frequência de relações sexuais que defina o conceito de normalidade sexual. Devido à ampla diversidade de frequência relatada, bem como o aspecto social e cultural variável no qual o comportamento sexual ocorre, seria contraditório dizer em que ponto a frequência sexual normal termina e a patológica (baixa ou excessiva) começa.
Dessa maneira, devemos entender que cada indivíduo tem seu esquema erótico, ou mapa do amor, que pode complementar o do parceiro ou entrar em conflito com ele. Desejo baixo e desejo alto são, muitas vezes, posições variáveis em um sistema de relacionamento, existindo variedade na intensidade ou/e frequência em que ocorre. Além disso, um indivíduo com desejo baixo em uma relacionamento pode ter desejo alto em outro.
Casais modernos comprometidos têm uma extensa lista de álibis para justificarem a falta de desejo: estão muito ocupados, cansados ou estressados para o sexo. Há os casais que cultivam um relação de amizade tão forte, que não conseguem imaginar uma cena sexual com seu parceiro, outros que são tão amantes que a intimidade tamanha não consegue admitir o sexo.
No ocidente, o casamento veio como o responsável por tudo que nos completa, recorremos a uma única pessoa para satisfazer as funções de amigos, comunidade, família. A busca pela segurança continua, acrescida da necessidade de que nossos parceiros nos amem e nos excitem. Nesse sentido, é preciso equilíbrio entre essa intimidade e a individualidade para que o erotismo não vá embora.
A responsabilidade e a preocupação que alguns parceiros sentem em relação ao outro impedem o egoísmo e a espontaneidade para o abandono erótico. No sexo, as pessoa precisam ser desejadas, não necessárias. A intimidade sexual é um ato de generosidade e egocentrismo, por isso o fortalecimento do cuidado e da afeição são necessários, porém não garantem a produção do desejo erótico.
A estabilidade, a compreensão e a compaixão são os substratos de um relacionamento harmonioso, enquanto o erotismo se desenvolve no mistério, na novidade, no inesperado. É preciso introduzir mistério e isso, muitas vezes, acontece com uma simples mudança na percepção: olhar para uma mesma coisa de forma diferente. Estamos falando de CURIOSIDADE, ir para a atividade sexual com mente de principiante, procurando se manter no presente com foco nas sensações e não nos pensamentos.
Portanto, a avaliação e a manutenção do desejo sexual devem ser feitas de maneira minuciosa, atenta, particularizada. Precisamos levar em consideração aspectos íntimos de cada sujeito em relação à sua definição de erotismo, de desejo satisfatório; é preciso um auto conhecimento sobre suas fantasias, suas inseguranças, para, então, diagnosticarmos se a queixa é primária ou secundaria, aguda ou crônica e situacional ou generalizada.