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O fantástico mundo de Bob da esquerda

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O fantástico mundo de Bob da esquerda

Antes profundmente conectada com as causas sociais – e por isso, diga-se, estabeleceu um caminho vitorioso nas urnas – a esquerda brasileira parece, nesse momento, completamente adormecida e desconectada da realidade. Alheios ao mundo, insistem os ditos progressistas em manterem uma visão de mundo que pode servir para “lacrar” no Facebook, mas, politicamente, não passa disso.

Nesta semana, tive uma conversa salutar com colegas formados na turma de jornalismo de 1999 da Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde muito orgulhosamente me formei. A turma, diga-se, é majoritariamente – arriscaria uns 95% – formada por pessoas com visão mais à esquerda.

A queixa sobre Bolsonaro é ampla, geral e irrestrita. Pelos mais variados motivos. Mas o que assusta não é o fato, em si, como a percepção: a maioria da galera costuma dar graças a Deus por não ter que conviver, em seu cotidiano, com bolsonaristas.

Esse é, precisamente, o pecado da esquerda: se acha superior e não consegue entender como uma pessoa como Bolsonaro, que é, para eles, a reencarnação do demo batizado na igreja do mal três vezes, pode ter aprovação beirando os 50%.

Repito aqui o que aos meus colegas jornalistas disse: a esquerda, infelizmente, não tem mais qualquer conexão com a realidade das pessoas mais simples. É como se tivesse resolvido personificar o famoso desenho “O Fantástico Mundo de Bob”, que fez muito sucesso nos anos 1990 e no qual o protagonista começaca a criar, em sua cabeça, as mais fantasiosas histórias, que pouco ou nada tinham de conexão com o mundo real.

Com todos os defeitos, Bolsonaro liberou auxílio emergencial a milhares de pessoas. Polêmicas à parte, garantiu a sobrevivência de milhões de famílias. Pensem bem: se antes o povo mais necessitado dava pulos de alegria com o Bolsa Família, que paga na casa dos R$ 200 por família, imagina ao receber R$ 600.

Na pobreza extrema, qualquer ideologia se perde quando o assunto é sobrevivência.

O que se vê, entre os odiadores de Bolsonaro, é uma clara falta de percepção. Infelizmente, não percebem que, com toda sua rispidez e falta de tato, ele é a representação média exata do que o brasileiro é hoje.

Mais que isso, menosprezam o imenso poderio de comunicação que Bolsonaro sem dúvida alguma possui – certamente, não é normal um político com oito segundos de tempo de televisão tocar uma campanha extremamente barata nas redes sociais e ser bem sucedido.

Ouvir, no grupo com meus colegas, até o tradicional chavão de que as pessoas precisam “conhecer a realidade da favela”. Não precisam chegar a tanto. Bastaria perceberem o mundo em que vivem e notarem que, mais que tudo, Bolsonaro hoje é o político que mais fielmente representa seu eleitor e, grosso modo, o Brasil enquanto sociedade.

Ao contrário de tantos “intelectuais” que acham isso um problema, um absurdo e uma aberração, penso que esse é um momento único da história brasileira. Antes, a regra era que presidentes e políticos em geral, especialmente nos seus níveis mais altos, fossem melhores do que a sociedade que os elegeu.

Como disse aos amigos de turma, fico feliz em conviver, diariamente, com dezenas de bolsonaristas, alguns mais esclarecidos, outros menos. Da mesma forma, os esquerdistas e esquerdopatas também fazem parte da minha realidade, e me deixam igualmente feliz. Não poderia executar meu ofício com verdade se não entendesse que há, na sociedade, uma gama imensa de pessoas, cada uma com suas crenças e valores próprios.

Fato é, em apertada síntese, que se, com Lula, as pessoas começaram a se ver ocupando o Palácio do Planalto, foi com Bolsonaro que essa realidade bateu mais forte. Bolsonaro é o tio que conta piada ruim na mesa de domingo, é o cara que faz piada de viado, é o que pergunta se o jovem universitário está “comendo” todas na universidade.

E não se trata aqui de defesa ou minimização dos inúmeros absurdos cometidos por Bolsonaro, seja em sua política publica ou em seus discursos. Trata-se de constatar que, enquanto a esquerda não entender que o Brasil é isso, e que o discurso ideológico não convence ninguém que vive fora da bolha, jamais conseguirá retomar o poder.