Escrevendo este texto para o Sistema Thathi e com a necessidade de fazer muitos trabalhos, a inspiração temática veio quase que automaticamente após alguns dias de divulgação do meu novo romance “Quando Caetano Veloso descobriu a América”. Quando lanço um livro fico muito empolgado com o resultado da obra, contudo, sempre há a parte difícil que é colocar o livro na rua e na mão das pessoas. E isso é um trabalho complicado.
As editoras pequenas, as que apoiam autores iniciantes como a que trabalhei agora, chamam esse processo de divulgação artesanal. A obra prima que fiz pode ser impactada com o momento frustrante de não se ter todo o apoio necessário para criar a amplitude desejada. Sempre que chega um momento de divulgação e distribuição como este, percebo que não tenho todo o apoio das pessoas como gostaria. Seja familiar, amigos ou de ambiente de trabalho, muitos não se prontificam a apoiar. Quem conhece essa realidade pode pensar assim. Que nossos amigos ou entorno social não estão nem aí para o que lutamos para fazer. Em uma análise simples, tudo seria muito mais fácil se eles auxiliassem o nosso trabalho.
Há o que se pensar dessa atitude de alteridade invertida. Primeiro porque colocamos o peso de algumas dificuldades e até de fracassos pela falta de apoio de outras pessoas e isso sempre me faz recordar que ninguém é obrigado a ser esse apoio ou ajudar-me com meus projetos pessoais. Gostando ou não da ideia, o mundo se concentra em torno dos resultados e não é que seus conhecidos ou amigos só vão te notar quando tivermos sucesso ou riqueza. Principalmente na vida, para atingirmos esse status é preciso provarmos que esse apoio vale a pena.
Se esperarmos que todos os que conhecemos nos apoiem mesmo com projetos ruins, fracos, esperamos que todos se foquem em coisas medíocres em nome da amizade. E o trajeto para o respeito e admiração não é este. Sempre considerei que é melhor vender um livro para um desconhecido do que 10 parentes. É uma lógica verdadeira, porque o desconhecido me desafia porque não terá nenhum receio de me magoar com a verdade. Já a crítica familiar ou de amigos tendem a serem indulgentes e isso somente vai afetar a qualidade de um trabalho.
O chamado “público-alvo” é algo a ser considerado. Aquilo que produzimos e esperamos resultado precisa se basear nessa faixa e não nas pessoas que nos apoiam gratuitamente. Por isso, se os resultados não vêm como se deseja, a responsabilidade é única e exclusivamente nossa. E os motivos podem ser porque ou o trabalho não foi bom o suficiente, não seja tão especial assim, não haja persuasão ou empatia suficiente para atingir o sucesso que desejamos. Eis alguns pontos a se controlar antes de colocar projetos na praça e esperar a assunção e aplausos de todos.
Assim, chego a outro ponto para se ver uma boa atitude pessoal. Talvez não seja a atitude pessoal de todos, mas a que funciona para este que vos escreve. Nessa vida a gente pode vencer ou perder e isso faz pare. Só que podemos também escolher chegar no horário ou atrasado, ser honesto ou não cumprir com as palavras. Isso é normal e humano, só que por trás de tudo há um padrão a ser observado.
Meus planos não dão certo, errei por causa disso ou falhei por causa daquilo. Não atingi meus objetivos porque fui surpreendido, não passei na prova porque mudaram a matéria ou no concurso fracassei porque dormi mal na noite anterior. Não estudei porque não tive apoio ou não fiz faculdade porque sou pobre. Isso sintetiza um padrão social bem comum e que se vê sempre por aí. As pessoas são especialistas em dar desculpas e isso é compreensível.
Muita gente tem problemas reais e verídicos que atrapalharão o seu desenvolvimento durante a existência. Ser de origem humilde, sofrer abusos ou violência infantil ou perder um membro do corpo pode influenciar e muito a vida de alguém. Parcialmente ou drasticamente. Isso mexe muito com a autoestima e nas condições que todos iniciam o jogo da vida. Eu mesmo já ouvi em discursos universitários ou de gente “intelectual” que a regra do sucesso é ser homem, heterossexual e branco causasiano. Pensar assim não é nada inteligente porque a problemática dessa mentalidade é simples, porque facilmente pode-se saber que o mundo não está nem aí para os nossos problemas.
Não se trata de visões egoístas ou schopenhaurianas de vida. O mundo não liga para os problemas alheios e não adianta questionar tudo e a todos e praguejar contra as vicissitudes da vida. Poucos ou quase ninguém vai se preocupar com desculpas que damos para falhas que poderiam ser consertadas. Nem com um psicólogo com atenção constante resolveria essa questão. O mundo é dessa forma desde que o homo sapiens dominou a Terra e não está dando mostra de que as coisas vão mudar. O negócio mais sensato é lidar com isso como adulto.
Podemos fazer do mundo um lugar melhor primeiro melhorando o nosso modo de ser. Eu fui pobre e cheguei ao doutorado. Conheço intimamente gente que foi abusada e sofreu violência na infância e hoje é profissional de sucesso, com realizações a mostrar. Tenho íntimos conhecidos que perderam perna ou braço, ou nasceram com deformidades que se reinventaram e hoje brilham em suas profissões. Nada vai mudar com reclamações ou inconformismo.
Em suma, o que precisa ser feito na vida é parar de procurar e dar desculpas e também produzir algo que valha a pena pelo seu entorno social te apoiar. É a diferença primordial entre uma atitude positiva e negativa de mentalidade. Perceber as oportunidades, compreender as regras do jogo, achar saídas para desafios. Tudo isso nos faz mais maduros e responsáveis pelo controle de nossas vidas. Ou então, a falha tornar-se-á uma tônica da vida.
Nós precisamos parar de justificar nossas falhas com desculpas e entender que ninguém é obrigado a fazer algo por nós. Isso, simplesmente, tem que ser merecido.