Foi com zelo e reverência que os funcionários do Theatro Pedro II acompanharam a descida, para limpeza e manutenção, do lustre de cristal projetado pela artista Tomie Ohtake. Denominada ‘Gota d’Água’, a peça é uma das mais importantes do teatro e foi instalada no centro do teto quando o prédio foi restaurado, na década de 1990. O prefeito Duarte Nogueira acompanhou de perto a descida do lustre, ao lado do presidente da Fundação D. Pedro II, Nicanor Lopes.
Considerado o terceiro maior teatro de óperas do país, o Pedro II foi inaugurado em 1930, mas sofreu um incêndio em 1980, que destruiu boa parte de suas instalações. Na reinauguração, em 1996, após uma restauração completa e fidedigna, apenas a abóbada ganhou lustre e teto contemporâneos, já que a original havia sido totalmente destruída.
No formato de uma gota d’água, a obra-prima de Tomie pesa quase uma tonelada e meia e remete ao incêndio, assim como o desenho do teto (uma alusão às labaredas que lamberam o teto original), que também foi projetado pela artista, que na ocasião da restauração escalou andaimes para fazer os desenhos a lápis na base de gesso que antecedeu a versão definitiva.
Medindo 2,7 metros de altura por 2,2 metros de largura, o lustre deverá ser reinstalado em cerca de uma semana, após a limpeza de todas as lâminas de cristal e da troca das 68 lâmpadas que o compõem. A cúpula também passará por limpeza e revisão da parte elétrica.
“Muitas dessas lâmpadas já queimaram, no decorrer do ano, e as outras serão trocadas também para que não se desliguem em breve. Já as lâminas de cristal, acumulam, além de poeira, resquícios de produtos químicos usados nas apresentações”, explicou o prefeito Duarte Nogueira.
A descida do lustre é um ritual anual e, antes, era feita manualmente, envolvendo o esforço de muitas pessoas. Hoje, ele é içado para baixo eletronicamente, mas a operação ainda é cercada de cuidados.
“Transmitimos o momento ao vivo, nas redes sociais, para dar oportunidade de a população toda participar e despertar para o pertencimento deste teatro, que é de todos nós e tanto nos orgulha”, falou o prefeito.
Linha do tempo
Final do século 19
– Ribeirão Preto viveu seu apogeu econômico e político, com a cultura cafeeira e a implantação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, em 1876.
– Em 1897, a cidade recebeu sua primeira casa de espetáculos, o Teatro Carlos Gomes.
– Em 1903, um francês chamado François Cassoulet deu vida à boemia da cidade, fundando cassinos e casas noturnas, como o Eldorado Paulista.
Década de 1910
– Com o desenvolvimento industrial, em 1911, a Companhia Cervejaria Paulista, hoje Antártica Níger, instala-se na cidade.
Década de 1920
– No início desta década, Adalberto de Oliveira Roxo adquiriu alguns velhos prédios, na esquina das ruas Duque de Caxias e Álvares Cabral, para construir um hotel, o Central Hotel. Este edifício deu início ao Conjunto Arquitetônico conhecido hoje como “Quarteirão Paulista”.
– Os demais terrenos em frente à Praça XV de Novembro, até a esquina com a rua General Osório, foram adquiridos pela Cervejaria Paulista com o objetivo de construir um conjunto arquitetônico composto por um teatro e um edifício de escritórios.
– Posteriormente, a Cervejaria também comprou o edifício recém-construído do Central Hotel, que passou a ser chamado de Palace Hotel.
– Para a execução deste projeto, Meira Júnior, um dos fundadores da Cervejaria Paulista, contratou, em 1928, o arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior. Já a parte estrutural da construção ficou incumbida à empresa alemã Kemmitz, dirigida por Fritz Hans Urlass.
Década de 1930
– Em 8 de outubro de 1930, em plena crise econômica, o Theatro Pedro II foi inaugurado, com capacidade para 2.000 lugares. Na inauguração um filme foi exibido (“Alvorada de Amor”, estrelado por Maurice Chevalier e Janette MacDonald).
– Seu nome homenageia o último imperador do Brasil, D. Pedro II, e foi escolhido pela população da cidade, por meio de um concurso feito pelo jornal A Cidade.
De 1930 até o final de 1960
– Até o final dos anos 60, o Theatro Pedro II foi um importante marco cultural e artístico de Ribeirão Preto e região.
De 1950 até o final de 1970
– Nesse período, o subsolo do teatro foi transformado em salão de bailes de carnaval. No resto do ano, era transformado em sala de jogos. O local ficou conhecido como “Caverna do Diabo”.
Década de 1970
– No início da década, o prédio foi arrendado por uma companhia de filmes, que transformou os 2.000 lugares do teatro em um cinema de 800 lugares.
– Em 1978, devido ao péssimo estado de conservação, o teatro foi fechado ao público por questões de segurança.