Ocupação, morte e disputa política: a participação de Ribeirão na revolução de 1932

Ao menos nove voluntários e sete policiais da cidade morreram durante os combates; município chegou a ser ocupado por tropas federais

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Voluntários da Revolução de 1932 na fachada do Theatro Pedro II - Foto: Acervo Pessoal

Um movimento que marcou a história de Ribeirão Preto, do Estado de São Paulo e do Brasil. Assim pode ser definida a chamada Revolução Constitucionalista de 1932, movimento insurgente na qual a burguesia paulista, num primeiro momento, e depois toda a população, foram às armas em guerra civil contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas.

Ao longo de 89 dias de combate, Ribeirão Preto foi ocupada por tropas nacionalistas, viu ao menos nove voluntários, e sete integrantes da força-pública, mortos em combate e ajudou a compor o movimento que resultou na Constituição de 1934. Houve, ainda, intensa participação financeira da cidade no financiamento da guerra e também na participação de mulheres, que deram suporte ao movimento.

Durante o combate, Ribeirão integrou as forças paulistas. Pelo menos nove moradores da cidade que foram voluntários acabaram entre as 900 vítimas do conflito em todo o Estado. Seus nomes – Augusto Fiordelice, Ayrton Roxo, Henrique Junqueira Franco, Januário dos Santos, Joaquim Alves, José de Oliveira Moreira, Mário Furtado, Nélio Batista Guimarães e Waldomiro Machado – estão fundidos em uma placa de bronze no monumento ao Soldado Constitucionalista, inaugurado em 9 de julho de 1939, na praça XV de Novembro.

Embora não existam dados precisos, o historiador Alexandre Sumele, que produziu em 2008 a monografia “O 3º BCP da Força Pública na Revolução de 1932”, indicou, em sua obra, que pelo menos 800 homens da força-pública da região participaram dos combates. Desses, sete acabaram morrendo no combate.

Monumento ao Soldado Constitucionalista, na Praça XV, em Ribeirão – Foto: Divulgação

Para a cidade, a guerra civil terminou de maneira melancólica em 26 de setembro de 1932, data na qual houve a invasão da cidade por tropas federalistas com origem em Minas e Goiás. Elas permaneceram na cidade até 1º de novembro, deixando um rastro de depredações, conflitos, saques e até mortes.

Reação

Segundo o historiador Wlaumir Souza, a Revolução de 1932 teve como pano de fundo uma política intervencionista estipulada por Vargas, com a nomeação de interventores para o cargo de presidente das províncias – como eram chamados então os Estados. Com isso, houve diminuição do poder das famílias locais, o que desagradou à elite bandeirante.

Na Califórnia brasileira, quem assistiu seu posto de comando ser minado foi a família Junqueira, conforme Souza. “A família Junqueira, como uma das famílias mais proeminentes da cidade, tinha no coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira seu líder por excelência. Ele teve dificuldades com o ingresso de Getúlio Vargas no poder. Por isso, o apoio de Ribeirão Preto à Revolução Constitucionalista”, disse Souza.

Sendo assim, a cidade compôs ao menos três cavalarias, a do Rio Pardo, o Batalhão Marcondes Salgado e a Companhia Anhanguera para reforçar o número de combatentes na guerra, que se aproximou dos 35 mil.

As cavalarias

Getúlio Vargas, presidente do Brasil, utilizou tropas federais para conter constitucionalistas – Foto: Acervo Alesp

A Cavalaria do Rio Pardo chegou a São Paulo no dia 18 de julho de 1932, organizada por Cid de Castro Prado e comandada pelo capitão Alfredo Feijó. O grupo recebeu este nome em homenagem ao rio que passa pelas cidades em que seus integrantes moravam.

Os voluntários desta organização lutaram na zona Sul paulista, sob a orientação do coronel Basílio Taborda.

Já o batalhão Júlio de Marcondes Salgado foi assim batizado em homenagem ao militar homônimo, cujo um membro da família pertenceu à Guarda Imperial de Dom Pedro. A turma era composta, majoritariamente, por funcionários públicos e bancários.

Uma das áreas em que atuaram foi próxima a Mogi Mirim, sob o comando do major Antenor Gonçalves Musa. Um dos voluntários pertencentes a turma era Nélio Baptista Guimarães, morto em combate e que, em virtude disso, recebeu um monumento na Universidade de São Paulo (USP).

Histórico

O Movimento de 32 nasceu após o rompimento da política do Café com Leite, no qual Minas Gerais e São Paulo se revezavam no comando do Executivo Nacional. O final de todo este imbróglio culminou na ascensão de Getúlio Vargas ao poder e anulação da Constituição de 1891.

O fato fez com que famílias tradicionais perdessem espaço de poder em seus territórios, gerando uma intensa insatisfação. Houve início de acertos entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul para a deflagração de um golpe que retiraria Getúlio do poder. Rio Grande do Sul e Minas, entretanto, não honraram o acordo e deixaram São Paulo sozinho.

O estopim foi gerado em função da repressão violenta por parte do governo Vargas a uma manifestação ocorrida em São Paulo que levou à morte de alguns estudantes.

Embora o governo federal, na prática, tenha saído vitorioso em virtude da quantidade de soldados disponíveis, o combate de São Paulo não foi em vão, já que, pouco mais de um ano depois, a Constituição de 1934 foi promulgada.

Legado

Segundo o cientista político José Elias Domingos, o movimento de 32, assim como na história recente, demonstra a importância de São Paulo na história do país e também como termômetro político.

“Ele [São Paulo], já durante a República Velha, mostrou-se como estado decisivo. O estado de são Paulo é um termômetro que, se você for ver, reuniu as principais manifestações nas últimas três décadas no Brasil, as Diretas Já, os Caras Pintadas, a favor do Impeachment de Collor. São Paulo é um termômetro político muito importante no Brasil”, afirma Domingos.