Pandemia influencia no desempenho de estudantes para o Enem, diz Conselho de Psicologia

Adiamento do exame foi anunciado pelo INEP por um prazo de até 60 dias; psicóloga orienta como lidar com esta situação

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Foto: Arquivo/Agência Brasil.

As mudanças de rotina nas escolas de todo o país em decorrência da pandemia da Covid-19 afetam os processos de aprendizagem e prejudicam o desempenho de estudantes para a prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). O alerta é do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CPR-17/RN), que defende o adiamento das provas, anunciado no último dia 20 pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). O prazo do adiamento é de até 60 dias.

As inscrições que encerraram sexta-feira (22) foram prorrogadas até quarta-feira (27). Mais de cinco milhões de estudantes devem prestar o exame, inicialmente marcado para 1º e 8 de novembro, sendo as provas digitais agendadas para 11 e 18 de outubro. Com o adiamento, as provas devem ocorrer entre dezembro e janeiro, em datas a serem definidas após consulta com os candidatos.

Em um cenário de incertezas, os jovens estudantes estão expostos a questões que influenciam negativamente suas emoções. O medo do contágio da covid-19, o luto pela perda de parentes ou pessoas próximas e conflitos interpessoais por causa de mudanças bruscas de rotina são alguns dos fatores que podem afetar os jovens. “Não há como pensar em uma aprendizagem significativa em um momento em que o número de queixas relacionadas ao adoecimento psíquico e a busca por suporte psicológico profissional aumentam a cada dia”, manifestou em nota o Conselho Regional de Psicologia.

Além disso, a falta de acesso à internet e às aulas no modo EaD (Ensino à Distância) são complicadores. Para a instituição, a manutenção das provas nas datas anteriormente previstas pelo MEC (Ministério da Educação) seria um ato de injustiça social e de segregação. “Especialmente para aqueles estudantes das camadas mais empobrecidas da população, oriundos de escolas públicas, que estariam impossibilitados de manter um cronograma de estudos, causando condições de competição injustas”.

Reavaliação

De acordo com um estudo do TIC Domicílios realizado em 2019 sob coordenação do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), apenas 59% das classes D e E têm acesso à internet, enquanto apenas 78% da população com renda familiar inferior a um salário mínimo tem acesso a celular. Esses dados refletem no contexto atual visto que a quantidade de candidatos inscritos para as provas digitais do ENEM é inferior ao de candidatos que se inscreveram para as provas impressas. Até as 12h desta sexta-feira (22), o INEP anunciou 5.050.768 inscritos na versão tradicional e apenas 101.100 na versão digital do exame.

Desta forma, o Conselho acredita ser imprescindível uma reavaliação diagnóstica das escolas de ensino médio e universidades do país. “É uma ação urgente para que o MEC reconheça a realidade das instituições e conheça o trabalho de reorganização dos calendários escolares de 2020 feito por elas.  Isso permite planejar um ENEM atípico para um ano letivo igualmente atípico”, reforça o órgão.

Problemas

Segundo Danielle Garcia, membro colaboradora do CRP-RN e psicóloga da Comissão de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE), órgão ligado à UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a situação causada pela pandemia, em aliança com a pressão para a realização do Enem, podem prejudicar os jovens de maneira ainda mais profunda. “A aprovação num processo seletivo para ensino superior é bastante ansiogênico entre jovens, podendo agravar ou mesmo dar início a uma série de transtornos”, afirma.

Ainda de acordo com a psicóloga, buscar ajuda de profissionais especializados em saúde mental como psicólogos e psiquiatras é importante para minorar o problema. “Além disso, outros cuidados podem ser tomados como fortalecimento das relações sociais e das redes de apoio, a adoção de hábitos saudáveis, prática de exercícios físicos, engajamento em atividades de lazer, descanso e meditação são estratégias de autocuidado eficazes para prevenir ou minimizar o impacto de um transtorno sobre a qualidade de vida destes jovens ou da população em geral”, salienta.