Um relatório divulgado em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Parceria para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil (PMNCH, sigla do inglês Partnership for Maternal, Newborn and Child Health) mostrou que milhões de sobreviventes de partos prematuros têm deficiências que variam de leves a graves e que os acompanham por toda a vida. No Brasil, aproximadamente 340 mil bebês nascem prematuros por ano, sendo um a cada dez nascimentos ocorridos antes das 37 semanas de gestação, segundo o Ministério da Saúde. O País está entre os dez com maior número de partos prematuros no mundo.
A professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia Alessandra Cristina Marcolin, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explica que fatores como “a gravidez que ocorre nos extremos etários, seja em mulheres que estão na adolescência ou com mais de 40 anos de idade, o baixo nível socioeconômico, população marginalizada, uma gravidez solo, envolvimento com drogas, álcool, cigarro, violência doméstica, sexual ou estresse físico”, podem gerar um parto prematuro.
O parto pré-termo é aquele que ocorre antes das 37 semanas de gestação, definido como parto prematuro. Segundo a OMS, existem três níveis de prematuridade: extremamente prematuro, que equivale a menos de 28 semanas, prematuridade moderada, entre 29 e 33 semanas, e prematuridade tardia, de 34 a 37 semanas.
Em dois terços dos casos, a prematuridade ocorre por conta de fatores naturais, segundo a professora. “A natureza faz com que a paciente tenha contrações antes da hora, a ruptura da bolsa, com eliminação do líquido, que é um fator que protege o bebê, ou o colo do útero abre antes da hora, isso chamamos de prematuridade espontânea.” Já em um terço dos casos, acontece a prematuridade eletiva, que é o parto realizado antes das 37 semanas por uma doença materna, uma condição do feto, como a falta de oxigênio.
Além disso, a pesquisa apontou que complicações no parto prematuro são a principal causa de mortalidade infantil, abaixo dos 5 anos, respondendo por cerca de 1 milhão de mortes por ano no mundo, e os que sobrevivem carregam doenças ao longo de suas vidas, segundo Alessandra, “como doenças relacionadas aos vários sistemas que são imaturos no nascimento, doenças pulmonares crônicas, cardiovasculares, metabólicas, diabete, obesidade, déficits auditivos, visuais e hipertensão. Também existem casos mais graves, como crianças que desenvolvem paralisia cerebral, com dificuldades do desenvolvimento neuropsicomotor, distúrbios cognitivos, déficit de aprendizado, problemas comportamentais e transtornos psiquiátricos”.
Por isso, a professora diz que é necessário fazer o diagnóstico da gestação logo no início. “As campanhas de conscientização, como as que ocorreram no Novembro Roxo, são muito importantes para que a paciente saiba que ela tem que começar o pré-natal bem cedo, para que seja possível identificar fatores de risco e intervir o quanto antes. O pré-natal precisa acolher essa mulher, ser de boa qualidade e com profissionais que ajudem a gestante.”
Vínculo familiar
O professor do Departamento de Puericultura e Pediatria José Simon Camelo Júnior, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, diz que dependendo da idade gestacional, a prematuridade pode afetar o vínculo entre os pais e o bebê. “Se forem crianças de extremo ou muito baixo peso, com menos de mil gramas ou menos de 1.500 gramas, essas crianças ficam internadas por muito tempo dentro de unidades de cuidados intensivos e intermediários neonatais e acabam ficando separadas de suas famílias, enquanto deveriam estar em casa, sendo amamentadas e cuidadas pelos pais. Por conta disso, os pais têm acesso livre a essas unidades de cuidado, mas pode haver comprometimento do vínculo da criança com os pais, dependendo da situação deles, se moram em outras cidades ou se têm outros filhos para cuidar, por exemplo”, aponta.
Camelo Júnior ressalta que para melhorar a qualidade de vida de bebês prematuros é preciso fazer “o acompanhamento de puericultura nos primeiros anos dentro do próprio hospital que atendeu a criança, depois em unidades de saúde, utilizar escalas de acompanhamento de neurodesenvolvimento, encaminhar para profissionais especializados, na medida do necessário, e acompanhar o crescimento dos prematuros pelo peso, comprimento e perímetro craniano”.
**Por Jornal da USP