Nenhuma economia prospera em uma sociedade tomada pelo crime organizado. Por isto foi realmente trágico ver a Câmara Federal aprovar a PEC da Blindagem, justamente na semana em que o ex-delegado Ruy Ferraz foi brutalmente assassinado em uma avenida de Praia Grande. Para o alivio da nação, ela foi enterrada pelos Senadores uma semana depois, mas ficou a pergunta: em que planeta estão vivendo a maioria dos nossos deputados?
Há notoriamente um clima de terror no país. O crime organizado avança a passos largos sobre o Estado, ocupando espaços antes inimagináveis. Sob tamanha ameaça, parece que os nobres deputados não calcularam o risco de se votar um projeto que os blindaria de qualquer investigação. Salvo os 134 que votaram contários à esta aberração, é inconcebível que tenhamos outros 352 que se julguem acima da lei. O mais contraditório é que muitos deles se auto proclamam “conservadores” em uma completa dissonância cognitiva.
Não há nada de conservador em desmontar reformas que foram feitas a poucos anos, após tanto clamor popular. O povo estava exausto de ver a impunidade de parlamentares criminosos que se escondiam atrás da sua imunidade parlamentar. Agora, além de retroceder, queriam ir além: blindar-se inclusive da Suprema Corte. Ora, que temos problemas de abuso de poder no STF, a condenação de uma cabelereira por 14 anos de prisão por ter pichado uma estátua com um batom, não deixa dúvidas. Mas daí a excluir os senhores deputados dos processos investigatórios é como incendiar um veículo por ele estar sujo ao invés de simplesmente lavá-lo.
O que precisa ser compreendido é que o crime está penetrando na carne das nossas instituições, tanto privadas quanto públicas. A recente operação da Polícia Federal na Faria Lima deixou isso claro. Precisamos então proteger nossas instituições e não fazê-las de guarita a bandidos disfarçados. Foi de uma ingenuidade perigosa os deputados imaginarem que uma investigação eficiente poderia ser conduzida com a necessidade de se discutir com toda a casa a pertinencia ou não da sua instalação.
Coube ao Senado colocar ordem na casa. E o fez com a urgência que o tema requeria. Segurança e combate ao crime organizado deveria ser uma pauta suprapartidária, mas o que vimos foi a empolgação de alguns extremistas, que se julgam como arautos da defesa da liberdade, atrapalhar a discussão. Ao invés de votarem uma lei de proteção a palavra dos parlamentares, estavam prestes a implementar um dispositivo de liberdade ao crime. Por sorte o Senado cumpriu o seu papel conservador. A reação da sociedade também foi fundamental, demonstrando capacidade de se organizar para ocupar as ruas em protesto. Que e a imprensa continue vigilante para denunciar situações absurdas como esta, pois o perigo é iminente.
Fabiano Corrêa – Economista e especialista em Finanças Comportamentais



