Perfil nas redes sociais recebe denúncias de assédio em Ribeirão

Para especialista em direito, falta de apuração pode prejudicar pessoas; psicóloga fala em necessidade de falar sobre os casos

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Tela inicial do Twitter, principal rede social utilizada para as denúncias

Tendência nacional, a divulgação, através da rede mundial de computadores, de supostos casos de assédio sexual e violência contra a mulher chegou a Ribeirão Preto. De forma anônima e através de uma página no Twitter e no Instagram, um grupo tem divulgado supostos relatos de situações desse tipo vividas por pessoas da região.

Na página do perfil, é possível encontrar praticamente qualquer tipo de denúncia, de mulheres que se dizem violentadas e assediadas por professores a jovens que reclamam da traição de parceiros. As informações não sofrem qualquer tipo de checagem para sua divulgação, o que abre espaço para que o espaço seja utilizado de forma livre por quem quer denunciar.

De acordo com a psicóloga, entretanto, essa pode ser uma oportunidade para vítimas denunciarem crimes que, por motivos variados, não conseguiram denunciar quando ocorreram. “Evidentemente, algumas pessoas acabam reprimindo as agressões, o que gera problemas. Essa é certamente uma forma de falar sobre alguns sentimentos reprimidos e pode ajudar muitas delas”, conta a psicóloga Luana Ferreira, especialista em traumas sexuais.

A sexóloga Larissa Mamedes acredita que a situação tem aspectos negativos e positivos. “As denúncias podem gerar problemas sérios. Sendo verdade ou não, o nome da pessoa acusada é exposto; até provar se é verdade ou mentira, muitas águas rolaram. Às vezes acaba com um casamento, às vezes com uma vida. Mas também não há como calar a voz de quem enxerga essa forma de expor seu problema como viável”, analisa.

Exemplo

A enfermeira Rosa foi uma das que denunciaram um caso de abuso, cometido contra ela no ambiente profissional. “Um médico mais velho, casado, começou a me tocar de modo inapropriada. Depois, foi me dizendo coisas, me chamou pra sair. Era constrangedor”, conta ela, que relata que, ao recusar as investidas, teve implicações no trabalho.
“Acabaram trocando meu turno, e tenho certeza que foi uma situação criada por ele. Ele fazia questão de estar presente nas minhas escalas, por exemplo”, conta.

Crime

O advogado Thiago Coletto, especialista em direito criminal, acredita que o fato de não haver qualquer checagem nas informações pode gerar problemas jurídicos e má utilização do canal. “São denúncias sérias e que precisam ser apuradas, mas que podem causar impactos tremendos na vida de uma pessoa se ela for inocente”, disse.

O especialista afirma que as denúncias de casos do tipo devem ser feitas para as autoridades. “Cabe à Polícia Civil investigar os crimes e verificar se eles foram efetivamente cometidos. Ao denunciar pelas redes sociais, de forma anônima, abre-se a possibilidade de que o meio possa ser utilizado para prejudicar alguém”, disse.

O professor de direito penal Daniel Pacheco, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) em direito penal, afirma que, se a denúncia não for confirmada, pode gerar inclusive o cometimento de um crime por parte do denunciante. “Quando você imputa a alguém um crime, é uma coisa muito séria. Se não for confirmado, se a denúncia for falsa, o autor pode ser responsabilizado por calúnia, injúria e difamação, além de responder por denunciação caluniosa, se houver um inquérito policial aberto para apurar o crime”, disse.

As denúncias chegaram até a Polícia, que está analisando o caso e investigando.