Plínio Camolezi | A história do ex-investigador da polícia que hoje mora nas ruas de Matão

Se tornar investigador da polícia é um sonho de milhares de pessoas. Uma carreira de respeito, digna e importante. Plínio Camolezi, 61, por muito tempo viveu esse sonho com maestria. Foi um dos investigadores mais respeitados da região de Matão. Viveu a realidade da profissão na pele, se dedicou a carreira e construiu seu nome por toda a cidade. Até cair no mundo das drogas.Camolezi conta que experimentou os primeiros dia do que seria sua nova vida após um relacionamento amoroso conturbado. O homem terminou em um lugar onde ninguém jamais pensou que encontraria o renomado investigador: nas ruas de Matão.

Hoje, quem passa por Camolezi não imagina a história por trás dos olhos tristes do morador de rua que fica sempre sentado em frente a uma agência do Banco do Brasil, seu lugar preferido na cidade. Querido por cada um que passa, recebe de cumprimentos até dinheiro. Além das conversas em que lembra dos velhos tempos como defensor da lei.

Entre lágrimas e sorrisos, Camolezi conta que as dificuldades que viveu até se encontrar no fundo do poço. “É complicado quando você se entrega de vez para esta porcaria, que destrói famílias, amigos, seu trabalho e sua vida. Começar é fácil, o difícil é parar. Tenho esperança que vou conseguir e me superar”.

Amizades e família

As amizades, por muitas vezes, estão conosco apenas nos bons momentos. E com ele não foi nem um pouco diferente. O ex-investigador conta que, enquanto estava bem, foi cercado por grandes parceiros, que se orgulhavam em dizer que o conheciam, mas que quando precisou realmente, enxergou apenas as costas dos ex-companheiros. “Quando era investigador, batiam no meu ombro e falavam de boca cheia que eu era um de seus melhores amigos. Agora? mudam até de calçada para não encontrar comigo”.

Camolezi conta que, ao se envolver com as drogas, além do emprego e dos amigos, também viu a família se esvaecer cada vez mais. Perdeu o contato com seus três filhos, duas mulheres e um homem, além da indiferença dos netos. Emocionado, ele confessa que sua maior vontade era poder abraçar seus filhos, principalmente a filha ‘G’, da qual era mais próximo.

“Eu queria ter meus filhos de volta. Eu não sei o que eles pensam de mim. Tenho duas meninas e um menino. Eu amo eles, jamais vou deixar de amar, eu não tenho como me aproximar deles. Não sei se eles têm vergonha de mim. Não creio que seja bem assim, talvez um distanciamento determinado pela separação com a minha esposa tenha ajudado nisso. Eu já senti culpa, mas ai você começa analisar a situação e eu não sei se resolve sentir essa culpa, essa consequência. Eu sei do meu erro, claro que acaba sentindo culpa.”

Esperança

O maior suporte de Camolezi hoje é Toninho Melges, do Anjos da Noite, em Matão, a associação oferece abrigo e alimentação ao ex-investigador.

Na delegacia, quando se fala no nome de Camolezi, o clima é de tristeza e saudade. Segundo os colegas de trabalho, na época em que ele começou a apresentar mudanças e demonstrar passar por dificuldades, os companheiros de farda fizeram de tudo para tentar livrar o investigador da demissão da Polícia Civil, mas amigo se recusava e não obtiveram êxito.

“Ele é carismático e não merecia estar nessa vida. Deveria ter continuado com sua missão como investigador”, conta um mototaxista local, que conhece o ex-agente, por quem diz possuir um grande carinho.

Mas, mesmo enfrentando todas essas dificuldades, Camolezi ainda faz questão de reforçar a gratidão pela vida que Deus lhe deu, carregando todo o fardo no peito com muito orgulho e sem pensar em desistir. “Se Deus me deu, porque vou tirar?”.

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