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Por que o jovem não quer ser professor?

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Por que o jovem não quer ser professor?
Ivo Di Camargo Junior é doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Ufscar

Mês passado, janeiro de 2020 para quem ler este texto no futuro, parti para uma semana de estudos de Pós-Doutorado na Formação de Professores na Universidade Estadual da Paraíba. Frise-se a formação de professores. No Brasil hodierno, é raro ver essas palavras juntas. Formação e professores. Em uma conversa com alunos de mestrado, em momento de descontração, um deles perguntou-me o que eu pensava de uma notícia veiculada no Nordeste de que metade dos professores do país não recomendava a profissão a ninguém e que um terço se encontrava insatisfeito com a carreira docente.

Respondi-lhes que são números que não causam nenhuma surpresa e que pensava que estes índices até fossem maiores. Infelizmente, a insatisfação é um sintoma de problemas maiores que assolam nossa educação e desmotivam os jovens a desejarem tornar-se professores. Muitos são os fatores que desestimulam seguir carreira docente e vamos dialogar sobre eles.

Inicialmente falta perspectiva profissional de ascensão na carreira. O magistério mudou muito pouco e são poucos os municípios ou redes estaduais que possuem um plano de carreira e valorização docente. Nesse aspecto, palmas para Ribeirão Preto, que valoriza seu professor com um plano que premia quem avança na sua formação, em níveis diversos, oferecendo salários maiores a quem mais estudou e se preparou. Contudo, cidades vizinhas da região ainda acreditam que a licenciatura plena é o mais alto grau que seus professores podem ter, em estatutos de magistério defasados, não premiando o preparo intelectual e o esforço individual. E ainda nem mencionei o fator salário. Como atrair profissionais assim?

Sabe-se há muito tempo que quem vai para a sala de aula quase sempre veio de classes sociais menos favorecidas, tendo feito sua faculdade trabalhando e agora tem uma profissão constantemente desvalorizada. Um ponto importante que desmotiva é saber que terá que passar anos até se aposentar, em salas com muitos alunos, bagunçando e sem interesse, porque a escola é um lugar que pouco se modernizou ou em algumas situações quase nada. Isso afasta a juventude que poderia se interessar. E observe-se que em alguns estados e municípios do Brasil um professor com carga de 30 horas aula semanais pode ultrapassar 5 mil reais de salário. Isso deveria ser um motivador, mas como escrevi no texto anterior, por estar estereotipado como sofredor, vítima da balbúrdia de alunos desinteressados, os pretendentes ao professorado minguam e a profissão passa a ter um problema ainda maior.

Essa falta de interessados na carreira docente atrai para a profissão um tipo específico de profissional da atualidade: o aventureiro. Que fique claro que nem todos os casos que descreverei são aventureiros, mas existe um tipo bem peculiar que prolifera nas escolas.

Já conheci nutricionista dando aula de ciências. Engenheiro lecionando matemática, química ou física. Arquiteto em aulas de arte. Dentista na educação infantil. E inúmeras outros casos que conheci. Não que ter uma segunda habilitação deva ser evitada, pois há casos de pessoas com essa habilitação melhores que os formados nela em primeira opção. O que acontece com o aventureiro é que ele nunca desejou ser professor, tinha outra carreira no horizonte de sua vida e a docência foi a tábua de salvação para que sustente sua vida e agora, nela, ele desempenha a profissão com amargura, falta de técnica e preparo, por muitas vezes incompetência.

O agora presidenciável e assistencialista Luciano Huck, em propaganda que rodou o país, reafirmou essa cultura em propaganda que mostro abaixo. Para não ser injusto com ele, Rodrigo Faro fez a mesma peça publicitária. Quando ser professor passa a ser complemento de renda, não se pode esperar melhoria da educação no país nem mesmo valorização da classe. E como diria Raul Seixas, os problemas se misturam.

Os alunos vão sentir esse sintoma e reagir com o que já se percebe país afora. Um descompromisso com sua formação, desde a bagunça generalizada em sala de aula, fruto de muitos profissionais que, despreparados, estão ali para ocupar um espaço e só. Os jovens passam a acreditar que ser professor não dará um prazer ou reconhecimento, muito menos realização. O bom aluno olha para sua sala e vê o que lhe espera se tornar-se professor. Mesmo nas escolas particulares, que tem em algumas o oásis em meio a um deserto educacional, tratam seus professores com pressão extrema, cobrança desmesurada por resultados, causando estresse e doenças psicossomáticas. Assim, o aluno vê este professor e ali, nas classes mais favorecidas, não encontraremos candidatos a docentes por vocação.

Na mídia o que se vê sobre o mundo docente é somente baixos salários, falta de valorização e plano de carreira, condições precárias nas salas de aula, indisciplina generalizada, desinteresse dos alunos, agressões, violência, falta de política pública séria para a área e que promova uma qualidade na educação. Raramente se vê tanto descalabro em outras profissões. Um discurso de hipocrisia se forma na sociedade quando tanto se propaga a valorização da educação e do docente, mas ninguém deseja que o filho se torne um professor.

Quem, em momento de sinceridade, que pague escola particular a um filho desejaria que ele se torne professor de português, matemática ou educação física? Só de falar já criticam e não querem. Nas redes sociais todos querem a melhor educação, mas quando acontece uma greve que exige melhores condições de trabalhos e salários para os professores, arvoram-se em críticas aos profissionais folgados e que querem deixar seus filhos sem aulas.

Dentro das escolas públicas, a presença dos pais nos conselhos de escola é mínima. Há dias em que as reuniões têm falta de quórum. Reunião de pais para dialogar sobre o desempenho ou comportamento dos filhos chega a beirar o ridículo, pois sempre vão menos de um quarto do número de familiares que compõem a comunidade escolar. Isso tudo, aliado ao que já foi dito, só pode culminar na educação que temos, estando sempre entre as 15 últimas posições nas avaliações de qualidade praticadas no mundo.

Enquanto os melhores alunos brasileiros não terem em seu horizonte de futuro a carreira de professor de matemática, história, letras, entre outras, a educação brasileira não vai mudar. Precisa haver uma busca de um projeto educacional sério que inclua plano de carreira eficaz e digno aos docentes, busca pelo compromisso educacional dos estudantes e combate à indisciplina generalizada, respeito pelo profissional professor, exaltando os que estimulam alunos com aulas devidamente preparadas para o saber, a criticidade, o entendimento do valor social e da alteridade.

Quando a sociedade brasileira oferecer ao seu professor o mesmo respeito que dedica a um médico, advogado, entre outras profissões mais disputadas no ENEM, teremos a educação no Brasil melhorada. Contudo, enquanto continuar pensando que ter um filho professor é bonito apenas para a criança ou adolescente dos outros, dificilmente teremos uma boa história para contar no futuro.