Prefeitura anuncia restauração da Av. Nove de Julho

Foto: Guilherme Sircili

A avenida mais emblemática de Ribeirão Preto, a Nove de Julho, vai ser restaurada e ganhar corredor exclusivo de ônibus. A obra será realizada pela Construtora Metropolitana S.A., que venceu a concorrência pública realizada pela prefeitura e executará a obra em 12 meses por R$ 31.132.101,77.

Além de uma restauração completa, respeitando todos os critérios de tombamento dos itens que constituem patrimônio histórico, a Nove de Julho vai ganhar corredores exclusivos para ônibus nos dois sentidos, em toda a sua extensão.

Com a licitação concluída e a homologação do contrato com a Metropolitana finalizada, a obra deve começar em breve, assim que estiver pronta a documentação para a assinatura da ordem de serviço.

A obra terá dois quilômetros de extensão, um de cada lado da Nove de Julho, a partir do cruzamento com a avenida Independência até a altura com rua Tibiriça, em frente ao Clube Recreativa. A partir deste ponto, as vias já têm asfalto, ao invés de paralelepípedos.

A Nove de Julho faz parte da história de Ribeirão Preto. Difícil encontrar quem não tenha uma lembrança envolvendo a avenida. Os casarões do século passado, que abrigavam os ‘coronéis’ do café e outros abastados moradores da cidade, as boates e barzinhos desde a década de 1980, que embalaram várias gerações e uniram muitos casais, as locadoras de vídeo, as clínicas e laboratórios médicos e as agências bancárias.

Mas, bem antes de todos estes imóveis, estão os centenários paralelepípedos e azulejos portugueses que formam os mosaicos do canteiro central, ambos tombados pelo Conppac (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural) e pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). Assim como eles, também são patrimônios da cidade as árvores sibipirunas, que há mais de 70 anos sombreiam a avenida e formam tapetes amarelos que encantam motoristas e pedestres.

Os três itens – paralelepípedos, mosaicos e sibipirunas – serão restaurados e adequados, mas totalmente preservados pela obra.

Paralelepípedo

No caso dos paralelepípedos, todos serão retirados e recolocados de forma totalmente alinhada. Depois de retirados, será feita uma compactação de terra na base do solo, ou subleito. Em seguida, o piso receberá uma camada de brita e, sobre ela, outra camada de 12 cm de concreto armado. Depois desta, o solo ainda receberá um berço de areia compactado e, somente após esta etapa, será feita a recolocação dos paralelepípedos, que ficarão totalmente nivelados, sem perigo de ocorrer novamente os desníveis atuais que há décadas incomodam motoristas e usuários de ônibus.

Mosaicos

As pedras portuguesas que formam os mosaicos do canteiro central também serão preservadas: retiradas e recolocadas na mesma ordem, para não alterar a configuração do desenho formado pelas pedras pretas e brancas intercaladas. Depois de reinstalados, não haverá mais os atuais buracos nem os desníveis causados pelas raízes das árvores, no calçamento.

Canteiros

Também tombadas, as árvores sibipirunas serão todas preservadas.

Nas esquinas centrais, os canteiros serão ampliados até o alinhamento com as ruas – hoje, eles são mais largos, formando uma área de retorno bem maior que a largura das ruas que cortam a avenida. Com isso, os canteiros ganharão uma área extra, em cada esquina, permitindo que a construção das rampas para acesso de pessoas com deficiência seja feita bem longe das raízes das árvores.

Rampas e travessias para pedestres

Serão criadas sinalizações para pedestres em todas as esquinas e construídas rampas de acesso nas dez esquinas do trecho, tanto nas calçadas como nos canteiros.

A obra ainda contempla adequação de guias e sarjetas nas calçadas e implantação de travessias com acessibilidade para pessoas com deficiência em todos os cruzamentos.

Galerias pluviais

O projeto também inclui a construção de duas grandes galerias de águas pluviais. Elas vão criar uma ligação subterrânea entre a Nove de Julho e a Francisco Junqueira, descendo por baixo das ruas Marcondes Salgado e São José até o córrego Saudoso, solucionando o alagamento em toda a região central.

Hoje, as águas da Nove de Julho vão para a região do Shopping Santa Úrsula, alagando aquele entorno, e descem também para a região da Catedral.

Novos cenários

Além dessa obra, a Nove de Julho vai ter o túnel da Independência passando por ela e interligando a avenida a duas outras importantes vias (a Independência e a Presidente Vargas).

Além disso, a obra vai agregar um cartão-postal à emblemática Nove de Julho: uma praça suspensa. O túnel vai passar por baixo da praça Salvador Spadoni, que fica na confluência das três avenidas mencionadas e está sendo totalmente remodelada.

A avenida Nove de Julho faz parte do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto, mas a obra de construção de seu corredor de ônibus foi licitada à parte da obra do corredor do quadrilátero por conta da restauração necessária.

A história

A avenida foi inaugurada há 101 anos, em 1922, mas só em 1934 passou a chamar-se Nove de Julho em homenagem à Revolução de 1932, uma guerra que acabou por colocar São Paulo contra todos os outros estados brasileiros. Antes, disso, a “Nove” chamava-se Avenida Independência.

O projeto da avenida foi idealizado pelo então prefeito João Rodrigues Guião, em 1921. No dia 7 de setembro de 1922, ele inaugurou o obelisco comemorativo, antes instalado no entroncamento da então Av. Independência com a rua Tibiriçá. Depois, o obelisco foi transferido para o ponto em que se encontra hoje, na confluência da Nove de Julho com a avenida criada depois, a atual Independência.

Em 1949, a avenida, antes de terra, foi calçada com paralelepípedos entre as ruas Barão do Amazonas e Cerqueira César. Neste mesmo ano, foram plantadas as 40 árvores sibipirunas, um serviço executado pela recém-criada Seção de Jardins e Horto Florestal da Prefeitura de Ribeirão Preto, sob a chefia do engenheiro agrônomo Geraldo Prado Garcia.

Segundo o historiador Calil Júnior, o prolongamento da avenida Nove de Julho, na década de 1950, acompanhou a criação de loteamentos naquela região, atendendo aos sistemas viários dos referidos loteamentos.

Durante a década de 1960, a “Nove” abrigou algumas das principais mansões de propriedade da elite econômica da cidade. Depois, em função de sua posição privilegiada (vetor sul da cidade), consolidou-se como um importante setor bancário.

Em 1981, havia quatro agências de bancos internacionais e nacionais instaladas na avenida. Já em 1987, eram doze agências e, no ano de 2000, 25 agências.

No dia 11 de julho de 2008, seguindo os critérios estabelecidos pelo Conpacc e pelo Condephaat, o então prefeito Welson Gasparini decretou o tombamento da avenida.

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