Psiquiatra alerta para reação a exercícios físicos que pode ser confundida com sintomas de transtorno de ansiedade

Segundo Átila Alexandre Trapé, embora as sensações dos exercícios físicos possam ser confundidas com sintomas de uma crise de pânico, elas são, na verdade, “respostas do organismo relacionadas ao sistema nervoso simpático”

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A prática regular de exercícios físicos pode ser um desafio para pessoas que sofrem de ansiedade e pânico, pois é possível que o indivíduo associe os efeitos das atividades físicas à ocorrência de novos episódios de ansiedade. Isso porque, durante um exercício, o coração acelera, a frequência respiratória aumenta e o indivíduo se prepara para oxigenar o corpo e os músculos. Respostas normais do organismo podem então ser confundidas com sintomas de um ataque de pânico, as crises de ansiedade repentinas e intensas.

Assim, a “base física” dos exercícios e da crise de pânico é a mesma, mas, no transtorno do pânico, “é como se fosse um curto-circuito: ela está ativada não para uma situação natural de defesa ou de luta”, e, sim, desencadeada “por uma causa intrapsíquica”, explica o médico psiquiatra Thiago Dornela Apolinario, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Foi o que aconteceu com o empresário Mário Bonfa Terra, de 32 anos, que deixou o futebol, após o diagnóstico de síndrome do pânico. Durante a prática esportiva, Terra associava os efeitos fisiológicos da atividade aos dos ataques de pânico. O empresário afirma que confundia os “picos de adrenalina com uma crise”. Além do futebol, Terra conta que os treinos mais intensos na academia também disparavam o pânico, obrigando-o a ir para casa tomar medicação para controlar a ansiedade.

Mas, com ajuda profissional, o empresário diz que superou a situação e hoje, quando chega à exaustão em uma atividade física, consegue diferenciar seus efeitos de uma crise de pânico. “Aí você para e conversa com você e fala: ‘Não é nada, é parte fisiológica, isso é normal”’, conta. Por isso, Terra decidiu optar pelas caminhadas e pela bicicleta para se manter fisicamente ativo.

Como o organismo reage a exercícios físicos

Segundo o professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, Átila Alexandre Trapé, embora as sensações dos exercícios físicos possam ser confundidas com sintomas de uma crise de pânico, elas são, na verdade, “respostas do organismo relacionadas ao sistema nervoso simpático”. Respiração ofegante, ondas de calor, suor e palpitação correspondem a respostas a “alterações do organismo em situações de estresse ou emergência”. Por isso, enfatiza o professor, durante atividades físicas intensas, ocorre aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.

O professor Trapé explica que as pessoas podem ter reações diferentes a um mesmo exercício e que, por isso, o condicionamento físico deve ser considerado um fator de influência nessas respostas aos exercícios. Os sedentários, segundo o professor, devem começar com “atividades mais leves”, já que exercícios de maior esforço podem provocar sensações mais intensas. A prática de esportes em situações de maior estresse, como calor ou frio intenso, corpo cansado e privação de sono “pode aumentar a associação dos efeitos das atividades físicas com as sensações de crises de ansiedade”, informa.

E essa associação acontece mais facilmente com pessoas que têm transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico. “Quando começam a fazer uma atividade física um pouco mais intensa, elas começam a prestar atenção nessas reações fisiológicas do corpo”, confundindo-as com um ataque de pânico, afirma Apolinario. A mesma situação pode ocorrer com indivíduos que apresentam transtornos relacionados a sintomas somáticos, informa o psiquiatra. Eles convivem com “a presença de sintomas que faz com que a pessoa esteja sempre em vigilância com as alterações do corpo”, como o hipocondríaco.

Tratamento para associação dos efeitos dos exercícios físicos a crises de ansiedade

Quem sofre com o problema deve buscar avaliação profissional de um psiquiatra. Só o médico poderá fechar o diagnóstico e indicar o melhor tratamento, que pode contar com medicação e psicoterapia na redução da frequência e da intensidade das crises. Assim, o paciente conseguirá identificar a origem de sua ansiedade, trabalhar essas questões e também lidar melhor com os sintomas quando eles aparecerem, além de desvincular as reações fisiológicas de uma patologia.

Apolinário recomenda que as pessoas continuem a praticar atividades físicas, o que pode ser facilitado com a supervisão de um educador físico. O professor Trapé diz que os exercícios físicos beneficiam psicologicamente aqueles que buscam atividades para distração ou como forma de desafio. Afirma ainda que, durante a prática de exercício físico, ocorre liberação de endorfinas associadas ao bem-estar e, em casos de estresse, ansiedade ou depressão, em que há desequilíbrio de neurotransmissores, as atividades físicas podem auxiliar no controle, promovendo ainda benefício fisiológico.