A taxa de perda de água em Ribeirão Preto é de 43,64%, uma média acima da nacional, que é cerca de 37%, e do recomendado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MDI), 25%. Mesmo assim, a cidade foi da 37ª para a 32ª posição no Ranking de Saneamento Básico de 2024, do Instituto Trata Brasil (ITB), que avalia a situação das 100 maiores cidades do País, com destaque para os índices de atendimento de água (99,73%) e esgoto (99,72%), considerados universalizados.
O ranking do ITB considera tanto as perdas comerciais (como “gatos”, roubos, furtos e erros de medição), quanto físicas, sejam vazamentos superficiais ou ocultos, informa a engenheira Luana Pretto, presidente-executiva do instituto. “Como as perdas são elevadas, faz-se necessária uma captação muito maior de água, o que causa impacto, inclusive, na bacia hidrográfica da região. Ao longo do sistema de distribuição, essa água acaba sendo perdida”, complementa.
Segundo Luana, são diversos os caminhos possíveis para solucionar o problema: “O uso da internet das coisas, da tecnologia de sensores para identificação de vazamentos ocultos, melhor gestão da pressão no sistema de distribuição, a troca das tubulações, muitas vezes antigas, um programa de fiscalização em relação às fraudes, a busca de regularização de algumas áreas para fornecimento de água potável, o uso da tarifa social”, dentre outros.
Dados otimistas
Para o professor Marcelo Marini, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, os dados levantados pelo ITB são estimativas “muito otimistas”. Segundo Marini, a cidade pode ter uma perda real muito superior pela condição da infraestrutura, que necessita de reparos nos poços artesianos, reservatórios e tubulações, em especial na região central, para melhorar a eficiência na distribuição da água potável para a população.
Os problemas de infraestrutura esbarram no nível de investimento do município. Do total, foram, em média, pouco mais de R$ 27 investidos anualmente em saneamento básico por habitante entre 2018 e 2022, em Ribeirão Preto, muito abaixo do considerado necessário pelo Plano Nacional de Saneamento Básico, que é de R$ 231 por habitante. Em comparação, cidades como São José do Rio Preto e Campinas (2ª e 3ª posição no ranking), mesmo com índices também universalizados, investiram, em média, R$ 135,14 e R$ 151,24 por habitante, respectivamente.
A presidente-executiva do ITB pondera que os baixos valores de investimento ocorrem “por ser uma cidade já universalizada”, mas que é necessário “priorizar a questão da redução de perdas de água” para atingir o índice máximo de 25% até 2034, meta do MDI.
Marini, que também é presidente da Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil de Ribeirão Preto, soma à deficiência da distribuição o cenário do tratamento de esgoto, ainda que a cidade tenha um número de tratamento de esgoto considerado bom, superior a 95%. Para o especialista, são muitos corpos d’água contaminados e coletas que não chegam completamente à estação de tratamento, dentre outros problemas. “Se considerarmos ainda as questões relacionadas à água superficial, nós também temos um problema sério, que é a drenagem de águas de chuvas.”
Marini acrescenta que o município possui um sistema de tratamento “muito tranquilo” por extrair água dos lençóis freáticos e, dessa forma, “é muito difícil dizer que tal valor de investimento é suficiente”, podendo variar de cidade para cidade. “No fundo, nós precisamos de um olhar mais técnico e mais criterioso para o saneamento básico da cidade, não ficar apenas afeitos a números”, acrescenta.
Em nota, a Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Saerp) reforça que os valores baixos de investimentos em infraestrutura acontecem pelo estágio de universalização do serviço e que, com os investimentos em saneamento básico, o índice de perda estará próximo a 30% até o final de 2025. Confira no final a nota da Saerp na íntegra.
Aquífero Guarani
Ainda de acordo com o professor, os impactos da retirada excessiva de águas subterrâneas em Ribeirão Preto, somados à má gestão de zonas de recarga, comprometem tanto a quantidade, quanto a qualidade da água disponibilizada pelo Sistema Aquífero Guarani (SAG). “A zona leste de Ribeirão Preto, área de recarga do aquífero, vem sendo muito maltratada, concentrando fontes de poluição ali instaladas e uma impermeabilização gigantesca, o que fará com que encher novamente esse aquífero passe a ser problema.”
Para o professor, o Estado de São Paulo, responsável pela administração, fiscalização e gerenciamento do SAG na região, precisa de um olhar mais carinhoso para essa questão, além de promover “uma gestão bem mais participativa e impor ao município certas restrições de uso do solo, que já foram feitas, mas não são muito respeitadas.”
Outro lado
Em nota encaminhada à Rádio USP Ribeirão, a Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Saerp) diz que: O Ranking de Saneamento Básico, realizado pelo Instituto Trata Brasil, tem uma metodologia que avalia a expansão do sistema de saneamento básico em um município. No caso de Ribeirão Preto, por ser uma cidade universalizada em saneamento básico, não há investimentos expressivos em expansão, visto que esses serviços abrangem 100% da cidade, mas sim em melhorias e aprimoramento dos sistemas.
Sobre os índices de perdas, a Saerp vem investindo a fim de reduzir o percentual, que em 2016 era quase 62% e em 2022, com a implantação do Programa de Gestão, Controle e Redução de Perdas, esse reduziu para 43,6%. A meta da Secretaria é que, com a implantação do programa, com investimentos de quase R$ 150 milhões, através da implantação de novas redes, 64 quilômetros de novas adutoras, perfuração de novos poços, construção de novos reservatórios, setorização do abastecimento, pesquisa de vazamentos não visíveis, dentre outras ações previstas, os índices fiquem próximos de 30%, ao final de 2025.
**Texto de Jornal da USP