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Quinto domingo do tempo comum

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Quinto domingo do tempo comum
Padre Gilberto Kasper é mestre em Teologia Moral, é licenciado em Filosofia e pedagogia, é especialista em bioética, ética e cidadania

Uma vez identificado como o Filho de Deus; apresentado seu Projeto Ministerial, que é Anunciar o Reino de Deus entre nós; tendo formado seu Discipulado, Jesus Cristo é apresentado pela Palavra de Deus proclamada no Quinto Domingo do Tempo Comum, curando os enfermos e acariciando os fracos da sociedade. Jesus é itinerante, não pára em lugar específico, não fica “colado” nem no barco de onde prega, nem na Sinagoga onde comunga da Palavra Revelada e muito menos nos círculos familiares onde cura. Segue de um lugar a outro, para confirmar sua Missionariedade, que deve ser também a da Igreja hoje. A Igreja que não é missionária não é a de Jesus!

A Leitura do Livro de Jó descreve um mundo enfermo e despido de valores essenciais. Deus, o Criador que ama apaixonadamente a humanidade, quer revesti-la novamente de dignidade. Promete que o sofrimento e a enfermidade serão superados com o Ministério do Filho que envia para tal ministério. A saúde física é um valor transitório e não essencial à pessoa. Mesmo assim, Deus quer suas criaturas prediletas saudáveis, a fim de evitar a enfermidade interior. No dia em que nosso nome ecoar na eternidade, somente a saúde interior contará. Já não mais será necessária a saúde de um corpo perecível, mas a pureza interior. Com Santa Terezinha do Menino Jesus, Doutora, podemos dizer: “O sofrimento santifica!..”, o que não quer significar que tenhamos de sofrer para tornarmo-nos “santos”, porém aproveitar de nossos limites físicos para a própria santificação e a do mundo. Gosto sempre de pensar que nossos Enfermos fazem de seu leito de dor, o altar do sofrimento de Jesus. Eles, os Enfermos, devem sempre merecer o carinho e a especial atenção, não só dos Agentes da Pastoral da Saúde, mas também dos Ministros Ordenados, que muitas vezes “não têm tempo ou não gostam muito de priorizar as visitas aos enfermos”. Recebo incontáveis chamados para visitar enfermos de todos os lados de nossa cidade, com a desculpa de que os padres de determinadas Comunidades não têm tempo, não se encontram e alguns enfermos chegam a esperar mais de um ano para receber a visita de um sacerdote, fato que me assusta e preocupa muito.

O Evangelho de São Marcos narra a “Cura da Sogra de Simão… e de muitas pessoas de diversas doenças…”. Geralmente os primeiros votos desejados às pessoas, é a saúde. Dizemos que tendo saúde, tudo se ajeita. E seguramente Deus quer seus filhos bem de saúde. As devoções populares aos Santos também, na maioria das vezes, provem de pedidos de curas. Os milagres reconhecidos pela Congregação da Causa dos Santos, que oficializa a “santidade” de alguém, também giram na grande maioria em torno de “curas de enfermidades”, consideradas incuráveis pela medicina. Daí que os Santos invocados às Curas atraem multidões de fiéis, pedindo curas. Quantos fiéis se reuniram para celebrar a festa da Apresentação do Senhor, popularmente conhecida como a festa de Nossa Senhora das Candeias? E quantos fiéis buscaram a Bênção da Garganta na memória facultativa de São Brás? Uma de minhas preocupações no processo evangelizador é sermos mais pedintes do que agradecidos! E quantos entre nós só buscam auxílio divino no momento da tristeza, da dor, do desespero, do desemprego e da enfermidade? “Ai de Deus se não ouvir nossas súplicas… Que a vontade de Deus seja feita, desde que coincida com a nossa…” Não podemos relacionar-nos com Deus revelado no ministério de Jesus Cristo, que veio sim, para curar e para promover vida e vida em abundância para todos, como se Ele fosse um comerciante. “Pedimos, e se formos atendidos, cumpriremos promessas, muitas vezes descabidas, como se Deus necessitasse de coisas, como velas ou sacrifícios…” Segundo Jesus Cristo, é misericórdia que agrada o coração do Senhor e não sacrifícios.

Precisamos respeitar a religiosidade e as devoções populares. Porém, como Comunidades de Fé, Oração e Amor, temos a missão de evangelizar, sempre orientados pelos ministros ordenados e agentes de pastoral bem formados.  São Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios é bem claro nisso e seu apelo, quase expresso como desabafo, é atual e se remete às nossas iniciativas, planos e atividades pastorais: “… pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade… Ai de mim se eu não pregar o evangelho!”.

Paulo nos leva à reflexão da autenticidade da vocação específica na Igreja. Os ministros ordenados que procuram viver coerentemente sua vocação, empreendem seu tempo, dão prioridade àqueles Sacramentos que somente a eles foram conferidos presidir: a Eucaristia, a Reconciliação e a Unção dos Enfermos! Muitas vezes há quem prioriza outras atividades, que nossos irmãos não ordenados talvez fizessem melhor do que nós Presbíteros. Não me refiro aqui a praticar algum hobby de predileção para o merecido descanso. Mas priorizar nosso hobby em detrimento do desatendimento de nosso povo é uma cruel infidelidade à vocação à qual nos sentimos chamados. Assim, desfiguramos nosso Sacerdócio, que deveria ser configurado com Cristo, o Bom Pastor, descrito nas atividades do Apóstolo: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça… Com os fracos, eu me fiz fraco… Com todos, eu me fiz tudo… Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.

Todos, Ministros Ordenados e Comunidades Evangelizadas, somos conclamados a viver a maturidade de nossa fé na relação com o Senhor, Seu Evangelho e com Todos que nos são confiados! Não esqueçamos que nossa primeira vocação é a Vocação ao Amor!

Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel.