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Redes sociais propagam dietas restritivas e culto à magreza; Professora da USP Ribeirão faz alerta

Dietas milagrosas prometem emagrecimento acelerado em curto período de tempo e sem acompanhamento médico

Especialista afirma que dietas muito restritivas não são eficazes | Foto: Freepik

O culto à magreza é cada vez mais propagado nas redes sociais e, junto dele, surgem cada vez mais dietas supostamente milagrosas que prometem uma grande perda de peso em um curto período de tempo, principalmente por conta de restrições severas. A mais recente delas é a dieta bíblica, que une restrição alimentar e fé.

Dietas muito restritivas, no entanto, não são saudáveis nem sustentáveis a longo prazo, de acordo com a nutricionista Taísa Alves Silva, doutoranda em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Ela explica que “essas dietas reduzem drasticamente as calorias e muitas vezes também cortam alguns grupos alimentares e grupos importantes de nutrientes”. Taísa ainda diz que “para que a perda de peso seja saudável e sustentável a longo prazo, sem comprometer a saúde física ou mental, é essencial que a alimentação seja equilibrada sem as restrições severas”.

Taísa explica que as restrições não são sustentáveis porque “existem vários mecanismos que acontecem no corpo no campo psicológico e no campo metabólico”. Ela diz que “a perda de peso acelerada geralmente vem acompanhada da perda de massa muscular, o que pode reduzir o metabolismo e o gasto de energia do corpo e, como resposta, o organismo tenta compensar a perda aumentando a sensação de fome e alterando os hormônios relacionados à saciedade”. Além disso, a nutricionista afirma que “a restrição constante de alimentos os tornam ainda mais atraentes e a pessoa passa a pensar mais naquilo que está evitando, o que pode gerar episódios de descontrole alimentar”. Ainda segundo Taísa, essas dietas ignoram a complexidade do organismo e a relação com a comida.

No entanto, com acompanhamento de profissionais, dietas saudáveis podem ser seguidas e serem eficazes. Taísa explica que “quando falamos em emagrecer de forma saudável é importante lembrar que a perda de peso não deve ser o único foco. Nós temos o Manual de Atenção às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS), que orienta que o cuidado deve estar concentrado na promoção da saúde”. Ela diz ainda que o emagrecimento pode ser apenas um dos possíveis resultados e não o objetivo principal do tratamento. Segundo a nutricionista, o foco principal das dietas saudáveis é direcionar o cuidado para o bem-estar em geral, “o que é mais eficaz e seguro para a saúde como um todo”.

Comercialização da magreza

As dietas propagadas nas redes sociais, que prometem um emagrecimento quase milagroso, segundo Taísa, “se aproximam mais de uma estratégia de marketing do que de um plano alimentar saudável”. Essa comercialização da magreza associa-se à venda de produtos, livros, cursos ou mentorias com foco na perda de peso, então, para Taísa, “muitas dietas da moda têm uma indústria por trás que lucra com a venda desses alimentos sem glúten, sem lactose ou com baixo teor calórico, mesmo sem a necessidade clínica real da pessoa”.

No caso da dieta bíblica, que promete a perda de até 14 kg em 30 dias, a comercialização já atingiu mais de 3 mil pessoas por meio da venda da mentoria Biblicamente Magra, pregando que o processo de emagrecimento começa com uma restauração espiritual. Além disso, a teóloga Angelita Kayo, criadora dessa dieta, afirma que “a obesidade nasce na alma e não na geladeira”.

A obesidade é uma condição complexa

Indo de encontro à afirmação de que “a obesidade nasce na alma”, propagada pela criadora da dieta bíblica, Taísa afirma que “a obesidade é uma condição complexa, influenciada por diversos fatores que vão além das escolhas pessoais e apenas da vontade do indivíduo”. Segundo a nutricionista, entre os fatores que podem levar uma pessoa à obesidade estão questões psicossociais, como estresse, traumas e depressão, além do acesso à alimentação saudável, condições de trabalho, moradia, educação e fatores genéticos e biológicos que podem estar fora do controle da pessoa.

Para a especialista, também entram na questão da obesidade o ambiente em que a pessoa vive, os hábitos familiares, a renda, a questão financeira e a disponibilidade de alimentos. “São fatores que interferem na saúde e no peso, e que não podem ser ignorados.”

A nutricionista ainda afirma que “uma pessoa que busca emagrecer de forma saudável deve procurar um acompanhamento com profissionais de saúde qualificados, como nutricionistas, médicos e psicólogos que possam auxiliar na mudança de comportamento e estabelecer metas realistas personalizadas”. Além disso, também é necessário considerar outros fatores, como a prática de atividades físicas prazerosas e regulares. Dessa forma, as dietas se tornam sustentáveis a longo prazo.

**Por Jornal da USP 

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