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Repensar nossa postura, construir nossos alicerces

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Repensar nossa postura, construir nossos alicerces
Colunista

Não sou uma fanática em política, mas sou fanática por educação. Minha base familiar é uma miscelânea de valores de criação por militares e colégio católico, locais onde os valores e dogmas são antes respeitados e quase nunca questionados. São posturas éticas e morais que fazem parte de minha formação humana. Parto daqui para esta reflexão.

Antes de dizer que não sou fanática em política, recordo a todos que isso não significa ser uma partidária da ignorância nesta. Sou professora de arte e especialista em ensino de filosofia no ensino médio, o que me leva a trazer aos que leem a recordação do grande dramaturgo alemão, Bertold Brecht, que em uma célebre obra já alertava para os riscos de uma população que não se interessa por política.
Assim, considero-me uma operária da arte. Se não sou uma criadora, pelo menos dedico-me a trabalhar para uma sociedade mais igualitária, onde os valores de consciência cidadã e democracia possam ser base de diálogo entre méis alunos. Que o livre arbítrio de cada um não ofenda e nem ridicularize o outro. As opiniões são bem vindas, mas que eles recordem que elas não são e nem nunca serão tão fortes quanto os argumentos.

A sociedade brasileira passa por certa inversão de valores que me preocupa. Como mãe e professora, vejo que tenho missões que estão cada dia mais difíceis. Para minha filha sempre pautei sua educação para viver numa comunidade de respeito, em que ela busque enfrentar seus desafios e problemas sem dependência extrema de mim. Como professora procuro demonstrar a meus estudantes que intempéries são a tônica da vida e que eles um dia, fatalmente, terão de lidar com situações que não estarão preparados se sua base educacional for deficiente.

Hodiernamente percebo a juventude fazendo os pais reféns de seus caprichos, como pequenos tiranos sobre seus vassalos. Falta de respeito, limites e um crescente despreparo para as dificuldades vindouras é o que mais se ouve, vê ou lê nas mídias sociais. Em nome de “dar o que eu não tive”, pais superprotegem seus filhos e impedem-nos de resolverem aquilo que os prepararão para o futuro.
Existe uma história interessante de um homem que viu a borboleta sair de seu casulo. Como se sabe, elas saem com as asas todas amassadas e se esforçam herculeamente para deixá-las lisas e aptas para o vôo. O homem, condoendo-se, ajeitou um pouco as asas do inseto. Ele sem saber condenou-a à morte. Sem o esforço que ela
teria de fazer, ela não conseguiu acertar nunca mais suas asas e, sem voar, foi presa fácil para predadores.
Isso exemplifica um pouco do que vejo como educadora e professora. Casos de depressão e até suicídio entre os jovens estão em crescimento alarmante. Com dificuldades de entender o mundo a sua volta, por não estarem preparados devido à superproteção dos pais, eles não conseguem compreender, defender ideias, acreditar em sonhos e mesmo buscar vencê-los. Não sabem lidar com situações de conflito e a violência e o escapismo são as alternativas que eles têm.

Determinar regras, impor limites, dizer “não” faz parte do nosso papel de pais e professores. Orientar seus filhos ou alunos a conquistar seus objetivos requer tempo, atenção, paciência e perseverança, pois dizer sim é fácil. Comprar o que eles desejam é o caminho mais fácil. A negativa aos anseios é desgastante, cansativa, mas ajuda na construção dos alicerces básicos, preparando-os para uma jornada de vida mais gratificante.
Regras e limites são fatos presentes para que a sociedade funcione de forma organizada e se o ser humano não vier para esse mundo preparado para isso, ele será isolado em seu convívio social. Vale a pena repensar se estamos fazendo bem nosso papel nessa história. Senão, escolas e presídios vão se tornar cada vez mais parecidos e não é somente por causa dos muros que os rodeia.