Pessoas com Síndrome de Down estão entre os grupos mais vulneráveis à Covid-19, devido às comorbidades que podem desenvolver ao longo da vida. Por conta disso, para essa população, o vírus pode ser até dez vezes mais mortal, segundo um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicado na revista Science em 2020. É pensando nisso que a Associação Síndrome de Down Ribeirão Preto (RibDown) tem pedido à Prefeitura Municipal e a Secretaria da Saúde que adultos com a doença entrem na fila de prioridade para imunização contra o novo Coronavírus.
Em ofícios enviados ao prefeito, ao secretário de saúde e à Câmara Municipal, a Associação afirma que “em adultos com Síndrome de Down, o curso da infecção é mais grave e as taxas de complicações e mortalidade são significativamente mais elevadas que na população geral”. Cita doenças que geralmente acometem essa população e que fazem parte da lista de comorbidades que podem ser agravantes da Covid-19, como a cardiopatia congênita, problemas respiratórios, diabetes, obesidade e desregulação do sistema imune.
Por isso, a Associação pede que adultos acima de 18 anos passem a fazer parte da fila de prioridade para a vacinação, pois “precisam estar protegidos e, até o momento, a única maneira de chegar a essa realidade é que sejam vacinados”. Além disso, diz que a iniciativa já vem sendo tomada por outros países do mundo, como Espanha, Estados Unidos, Holanda, Itália e Reino Unido.
Dificuldades
Além das comorbidades que podem acompanhar a Síndrome de Down, essa população também sofre com dificuldades para seguir as medidas de segurança contra o novo Coronavírus, como uso de máscaras – devido à intolerância sensorial – uso de álcool em gel, entre outras precauções. Outro problema enfrentado por essas pessoas é a dificuldade para reconhecer e identificar os sintomas que estão relacionados à doença.
Para o médico geneticista Victor Ferraz, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo, “a adoção das medidas preventivas importantes para evitar a contaminação devem ser cuidadas de forma especial”. Afirma que é preciso explicar para os portadores da síndrome as medidas de prevenção de forma muito clara, além de dizer como relatar os sintomas de clara às pessoas envolvidas no cuidado com esses pacientes. Além disso, o médico recomenda que esses pacientes mantenham uma rotina de cuidados com alimentação e atividades físicas, mesmo dentro de casa.
Tem sido assim para o André Carrasco Catanoze, de 23 anos. Jovem com Síndrome de Down, ele sempre se manteve ativo. Gosta de atividades físicas, faz pilates, academia e ainda tem um canal no YouTube, além de trabalhar em uma empresa de telecomunicação. Tudo isso ele realiza com o auxílio de terapias que ajudam em seu desenvolvimento, como fonoaudiologia, a psicopedagogia, como também a psicoterapia.
Para o pai de André, Paulo Catanoze, a maior dificuldade do filho é a distância do convívio social, pois “a impossibilidade de participação em atividades presenciais foi de grande impacto”. Por fazer parte do grupo de risco, o jovem não pode realizar as atividades do seu trabalho, por ser presencial.
“Ele participa do grupo de jovens da Ribdown, que tinham reuniões periódicas, e agora só o realizam de modo virtual. Além de gostar muito de ver séries e filmes, o que tem feito bastante nesse período”, conta o pai do jovem com Síndrome de Down, “o André é um rapaz muito simpático, carismático, todos que o conhecem gostam muito dele”.
PL 175 / 2021
No estado de São Paulo, um projeto de lei que pretende colocar pessoas com Síndrome de Down e outras deficiências entre os grupos prioritários para imunização segue em tramitação na Câmara dos Deputados.
O PL 175 / 2021 foi proposto pelo deputado Vinícius Camarinha, do PSB, e quer que a inclusão do grupo ocorra enquanto perdurar a situação de emergência nacional em saúde pública.