Ribeirão Preto em chamas

Confira a coluna Econômia no Divã, com Fabiano Corrêa

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Incêndio flagrado da zona Sul de Ribeirão Preto | Foto: Victor Pereira (Grupo Thathi)

Poucas vezes uma chuva foi tão celebrada como na manhã deste domingo. Após termos ardido em chamas ao entardecer do sábado, a chuva trouxe um alento. Olhando para o chão molhado em frente da minha casa, ocorreu-me que talvez Deus ainda tenha alguma esperança em nós.

Fomos sitiados em nossa própria cidade. Nas redes sociais, cenas de pessoas evacuando suas casas em condomínios de Bonfim Paulista, encurraladas nas rodovias que interligam nossa região e fugindo do fogo na Avenida Caramuru. Foi assustador.

Uma amiga que mora em Brasília me perguntou pelo WhatsApp se havíamos pedido ajuda para os corpos de bombeiro das cidades da região. Na verdade todas as brigadas, públicas e privadas estavam em ação. O Governador do Estado de São Paulo veio para Ribeirão, trazendo equipamentos e ajuda técnica. O exército se envolveu. Todos os esforços foram valiosos, mas o que resolveu mesmo foi a chuva.

Em eventos como este, que considero socialmente traumáticos, a imprensa cumpre um papel importante ao nutrir a população com informações sobre o que aconteceu, o que está acontecendo e o que será providenciado. Neste sentido, parabéns ao Grupo Thathi de Comunicação que fez uma cobertura especial a partir das 11h da manhã do domingo, colocando todos os seus veículos em cadeia, e entrevistando o prefeito de Ribeirão e de outras cidades da região. Este é o papel nobre do ofício jornalístico.

As redes sociais também se transformam em canais de expressão. É como se estivéssemos coletivamente elaborando o trauma. Mas em meio a esta expressão, temos que tomar alguns cuidados, para não eleger falsos bodes expiatórios ou desfocar o problema. Indícios apontam para o fato de que alguns delinquentes atearam fogo na mata, mas ao que tudo indica, estamos diante de um problema maior, que é o sufocamento do planeta com tanto gás carbônico sendo jogado na atmosfera a quase dois séculos. O planeta está aquecendo e o fogo tornando-se mais susceptível.

O primeiro poço de extração de petróleo foi furado em 1860 nos EUA. A popularização exponencial dos veículos a combustão aumentou na mesma proporção o consumo deste combustível. Em 1940 consumíamos menos de 10 milhões de barris/dia, hoje são mais de 100 milhões/dia. A nossa lógica produtiva está baseada no consumo do petróleo e isto pode nos exterminar. E o pior, sufocados por chamas e gases tóxicos.

Fonte: ChatGpt a partir de relatórios da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA), a British Petroleum (BP) | Foto: Reprodução

Pode parecer dramático para quem não esteve tão perto das chamas neste final de semana. Mas a sensação que tivemos aqui em Ribeirão foi esta. Pensando sobre isto, enquanto olhava para a chuva no domingo de manhã, pensei que precisamos sensibilizar nossas lideranças, de todos os espectros políticos, para o convencimento de que, enquanto espécie e sociedade, precisamos mudar a rota.

Neste sentido, as afirmações do Prefeito Duarte Nogueira, no âmbito municipal, como uma voz de centro, ao ser entrevistado pelo Chico Ferreira na manhã de domingo, de que estamos frente a desafios climáticos causados pela queima do petróleo,  o envolvimento do Governador Tarcísio de Freitas, no âmbito estadual, como uma voz de direita, e as falas da Marina Silva, no âmbito federal, como uma voz de esquerda, precisam se configurar num diálogo na direção que precisamos: o da racionalidade. Precisamos de todos neste debate. O mundo é de nossos filhos e temos uma responsabilidade nisto.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do THMais