Ribeirão recebe certificado pelo fim da transmissão vertical do HIV

Foto: Profissão Biotec

Um esforço conjunto de iniciativas que envolvem diversos órgãos municipais e estaduais, incluindo o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP, permitiu a eliminação da transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em bebês recém-nascidos na cidade desde 2017 e com isso receber o certificado concedido pelo Ministério da Saúde. Para esse cenário Ribeirão Preto precisou cumprir protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o que levou seis anos para acontecer.

A pediatra Maria Célia Cervi, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenadora do serviço de Infectologia Pediátrica do HC-FMRP, conta que a transmissão compulsória pode ser erradicada quando se tem o controle completo do processo, o que em Ribeirão Preto foi sendo feito ao longo do tempo com várias estratégias. “Quando se consegue esse controle, vem a certificação, que dura dois ou até três anos e tem que ser mantido esse índice de menos de 2%, ou seja, que menos de dois bebês em 100 recém-nascidos em Ribeirão Preto tenham o vírus.”

Outro ponto importante, é um dos métodos que o HC-FMRP adotou para eliminar o contágio do HIV. “As mães tomavam a zidovudina (medicamento antirretroviral) na gestação, na hora do parto e depois era dado o xaropinho para o bebê. Então esse medicamento trouxe uma redução significativa na taxa. Isso ocorre porque esse vírus pode se tornar resistente aos remédios, se as medicações não tiverem uma dose efetiva para controle da carga viral”, explica.

Maria Célia acrescenta que as mães são encaminhadas para o HC-FMRP, para o atendimento e acompanhamento de crianças que foram expostas ao vírus HIV durante a gestação, para que o parto seja realizado com todos os cuidados dentro de um hospital. “Nós acompanhamos essas crianças que nascem no HC-FMRP, porque é a referência para parte de mães infectadas por HIV até um ano ou um ano e meio, se necessário, para vermos o desenvolvimento, o crescimento e os efeitos. Todo esse tratamento é preventivo e, principalmente, para documentar que a criança não foi infectada, então esses dados são de notificação compulsória ao Ministério da Saúde e OMS.”

Após o parto, ainda existem etapas para a criança não contrair o vírus, segundo a pediatra. “Nos primeiros seis meses, a criança vem de mês a mês para ver o ganho de peso e o uso adequado de fórmula alimentícia, porque é contraindicado aleitamento materno. Também é verificada a adesão aos medicamentos, principalmente no primeiro mês que o bebê nasce.”

Certificação

Mônica de Arruda Rocha, coordenadora do Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), Aids, Tuberculoses e Hepatites Virais da Secretaria Municipal da Saúde, reafirma o critério de acompanhamento da mulher desde o início da gravidez para o recebimento da certificação. “O monitoramento da mulher vai desde o início da gravidez até o parto. Essas ações foram estabelecidas para que a gente pudesse chegar ao momento de não ter mais a transmissão do HIV da mãe para o bebê.”

Esse momento foi 2017, diz Mônica, quando já se constatou que Ribeirão Preto não registrou nenhum caso de transmissão vertical, ou seja, nenhum bebê nasceu com a doença transmitida pela mãe na gestação ou no parto. Assim, em dezembro do ano passado, a cidade foi certificada pelo Ministério da Saúde em consonância com os critérios da eliminação da transmissão vertical em bebês. O HIV afeta rapidamente o sistema imunológico, alterando o ácido desoxirribonucleico (DNA) do corpo humano, ele é o maior causador da aids.

Maria Célia explica a demora de seis anos para Ribeirão Preto conseguir o certificado. “São analisados diferentes dados e Ribeirão Preto, desde 2017, tinha uma taxa menor que 2% de infecção e a pandemia postergou a certificação. Mas o desempenho sempre ficou nesse patamar, abaixo de 2% de recém-nascidos infectados.”

A docente também explica o impacto que essa certificação possui para a cidade e para as gestantes do município. “O impacto que isso tem é o bom desempenho na atuação na Atenção Primária, e a alegria depois de um ano e pouco em darmos a alta para o bebê e dizermos à mãe que ele não corre mais o risco de se contaminar. Isso nos obriga a manter esse nível, de taxas de atendimento e de cuidado para o usuário do SUS e para os pacientes da rede privada.”

Meu bebê foi infectado, e agora?

Maria Célia ainda esclarece o que é feito quando é detectado o HIV na gestação: “A Unidade Básica de Saúde identifica essa gestante na consulta de pré-natal e encaminha para o HC, que faz a melhor recomendação de tratamento para a mãe portadora do vírus. Realizamos exames da carga viral e identificamos o nível de risco de transmissão, que pode ser baixo, médio e alto, o que vai determinar o protocolo de manejo na hora do parto”.

Após o parto, diz Maria Célia, as ações de prevenção continuam. “Depois do parto, nas primeiras horas de vida, o bebê já toma alguns medicamentos específicos para evitar qualquer contaminação feita no parto. Esse procedimento dura quatro semanas. Nesse período são feitos os exames de carga viral.”

Prevenção

Mesmo com toda estrutura de atendimento que a cidade conseguiu organizar para as mães portadoras do vírus HIV, a coordenadora Mônica alerta que a prevenção ainda é o melhor remédio. “Além da camisinha, a primeira forma de prevenção e a principal, temos a PrEP, que é a Profilaxia Pós-Exposição, ou seja, se o indivíduo entra em contato com alguém portador do vírus, através de uma relação sexual desprotegida ou de um acidente ocupacional com material perfurocortante, deve procurar uma das Unidades de Saúde do município, onde será avaliado e orientado a tomar medicação durante 28 dias para evitar que ele adquira o vírus HIV.”

Outra forma de prevenção, diz Mônica, é a Profilaxia Pré-Exposição (Prep), ou seja, indivíduos que têm uma vida sexual ativa e intensa e não conseguem usar camisinha, a orientação é que devem ir aos serviços especializados em Ribeirão Preto e fazer o uso de uma medicação que evite o HIV.

Já em relação às gestantes que contraem o vírus durante a gravidez, por terem parceiros portadores do vírus, Mônica diz que elas devem utilizar a Prep e a camisinha como formas de evitar qualquer contágio. “Caso tenha sido exposta ao HIV durante a gestação é preciso acompanhamento em ambulatório específico para gestantes com HIV até o parto, que em Ribeirão Preto funciona no HC-FMRP, onde ela vai tomar medicação para evitar a transmissão.”

**Texto de Jornal da USP 

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