Você está assistindo a Netflix, por exemplo, e acabou o episódio da sua série, para não precisar clicar no novo capítulo, o próprio aplicativo faz isso para você e já começa um novo.
Esse recurso usado pelo canal de streaming é a rolagem infinita, uma técnica utilizada em aplicativos de redes sociais ou redes de entretenimento. Com ela, não há a necessidade de fazer o movimento com o dedo e da mão para passar uma foto ou vídeo, a rolagem acontece automaticamente. Várias empresas utilizam esse recurso para prender a atenção dos usuários e mantê-los fiéis, como a Meta (Instagram e Facebook), TikTok, Google, Netflix e Spotify, entre outros.
O psicólogo e psicanalista pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) Leonardo Goldberg comenta: “Mesmo que o sujeito não encontre nenhuma novidade, a tela vai rolar de uma maneira infinita como se houvesse sempre alguma coisa a mais para aparecer. A noção de tempo nas redes sociais difere da noção de tempo no cotidiano, justamente por não existir um tempo de pausa”.
O psicólogo fala sobre a relação de ubiquidade tecnológica e a rolagem infinita e como elas podem estar interligadas no cotidiano. “É difícil pensar no que deve ser feito, pois a sociedade já está imersa na tecnologia. Alguns autores chamam de ubiquidade tecnológica, ou seja, a tecnologia ocupa nosso cotidiano de uma maneira quase integral, então é difícil a gente diferenciar o que seria do campo da tecnologia ou não.”
O psicanalista também conversou sobre a relação de causa e efeito da ubiquidade tecnológica em uma possível reversão do vício. “Então a relação causa e efeito é determinada de forma colapsa com a ubiquidade tecnológica. Pensar em uma reversão é impossível. Porém, para poder se livrar desse vício a gente realiza atividades práticas, como efeito de algum apelo nas redes sociais, visando a ter uma relação boa com a tecnologia ou como ter uma relação com as próprias redes de uma forma mais saudável, pensando sempre com quem vou interagir e quais aplicativos vou utilizar nessa reeducação.”
Goldberg comenta sobre possíveis tratamentos no caso de pessoas viciadas no método de rolagem. “O nosso tratamento, a partir de uma psicanálise, se dá pela escuta de sujeito. O que o sujeito está querendo excluir da sua vida é essa repetição, que muitas vezes não apresenta nada de qualidade para o sujeito, fazendo ter um certo gozo daquilo.”
O psicanalista comenta que muitas vezes o internauta teve uma satisfação interessante nos primeiros segundos, então ele tenta reaver essa satisfação repetindo o seu uso, mesmo que nessas próximas vezes as satisfações sejam muito empobrecidas, com baixa qualidade. Para ele, é a partir dessa experiência narrada pelo internauta que se busca pensar na solução para sair do vício.
**Texto de Jornal da USP