Ainda a três meses do fim, São Paulo registrou mais incêndios que toda a série histórica de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 1998.
De 1º de janeiro a 22 de setembro deste ano, foram registradas 7.296 queimadas, superando os 7.291 focos de 2010.
O mês de agosto teve a situação mais crítica do ano, com 3.612 incêndios. O número é maior que a soma de todo 2023 e 2022, quando contabilizaram 1.666 e 1.599 focos, respectivamente.
O ápice ocorreu entre os dias 22 e 24 de agosto, quando surgiram 2.621 focos, sendo 1.886 apenas no dia 23. Foi justamente naquela sexta-feira que a região metropolitana de São Paulo foi coberta de fuligem no meio da tarde, e o sol virou um círculo vermelho no céu.
Marcelo Seluchi, climatologista do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), destaca justamente esse cenário de seca que atinge a região para explicar essa fase de tantas queimadas.
“O período seco começou mais cedo. Abril, por exemplo, que normalmente é um período de transição entre estação chuvosa e estação seca, já se comportou como estação seca, choveu muito pouco. Depois, o período seco foi mais seco do que o normal. E chegamos agora em setembro, onde normalmente você já tem algumas primeiras precipitações, mas essas chuvas também não chegaram”, diz Seluchi.
De acordo com o levantamento do Inpe, dos 645 municípios paulistas, 405 tiveram pelo menos um foco de incêndio neste último mês. E Altinópolis, a 346 km da capital, foi o recordista absoluto, com 125, uma média de quatro por dia.
Depois dele, ficaram São Carlos (93), Pitangueiras (91) e Andradina e Olímpia, ambas com 70. Ao todo, 14 tiveram mais de 50 focos no período. E em 41 localidades houve mais de 31 ocorrências, ou pelo menos uma por dia. A capital paulista, assim como Guarulhos, tiveram três focos cada uma.
Apenas na região do Vale do Paraíba, uma área equivalente a 372 campos de futebol foi tomada por chamas nesse período. Bananal, no extremo leste do estado, chegou perto de 1 milhão de m² perdidos para o fogo e os focos de incêndio foram totalmente extintos apenas na última sexta (20).
A contagem, contudo, foi arrefecida após frente fria, e a Defesa Cívil estima que pior fase já passou. Nesta segunda-feira (23), apenas o município de Cajuru, na região de Ribeirão Preto, sofria com incêndios, segundo boletim do órgão na segunda semana do mês, chegou a 25.
“Quando chegar o calor de novo e se juntar à umidade criada pela frente fria, tende a chover no interior, nessa faixa mais crítica. Na última semana de setembro, existe a possibilidade de nova frente fria, o que favorecerá um cenário positivo. A pior parte da estiagem possivelmente já tenha passado”, afirma o capitão Roberto Farina, porta-voz da Defesa Civil estadual.
Desde a fase mais crítica, 15 mil agentes em campo foram envolvidos nos combates às chamas. Cerca de 10 mil são brigadistas voluntários, de empresas agrícolas e do DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo).
A Polícia Militar Ambiental investiga a possibilidade de que muitos tenham sido ações criminosas intencionais. Por isso, 23 pessoas foram presas e responderão a processo. De acordo com último levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública do estado, nove já foram soltos.
DIEGO ALEJANDRO / Folhapress