A pandemia da Covid-19 transformou as relações de trabalho. O home office e as adaptações físicas, emocionais e familiares que vieram com ele, além do acúmulo de metas a serem cumpridas e a incerteza sobre o futuro, interferiram na saúde mental dos trabalhadores. Segundo uma pesquisa do LinkedIn, 62% dos colaboradores remotos estão mais ansiosos e estressados .
O consultor de RH, Dimas Facioli, da Facioli Consultoria de Ribeirão Preto, destaca que a saúde mental é um tema muito importante, mas pouco abordado e combatido nos ambientes de trabalho. O motivo, segundo ele, seria a falta de conhecimento do colaborador em avaliar sua saúde mental e a dificuldade das empresas em reconhecer o problema.
“As pessoas dificilmente conseguem perceber o estresse. Muitas vezes, as demandas e responsabilidades exigidas pela empresa dificultam a percepção do real motivo para doenças e faltas ao trabalho. Já as empresas têm dificuldade em diagnosticar o estresse entre os colaboradores e enxergam nos afastamentos e faltas dos funcionários apenas os sintomas e não a causa”, diz.
Levantamento da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) mostra que as causas mais comuns de estresse no ambiente de trabalho são a reorganização e o medo de perder o emprego. Com relação ao home office, 72% dos entrevistados afirmam que sentem falta de se relacionar com as pessoas, 59% apontaram a síndrome de Burnout e 66% destacaram o extenso horário ou excessivo volume de trabalho. “As empresas têm reduzido o quadro de colaboradores ou em alguns casos até tentam contratar, mas não encontram o profissional com o perfil adequado”, explica Dimas.
Análise
O consultor de RH defende que as empresas tenham uma área específica para dialogar com os colaboradores e que criem medidas para ajudar a combater pressões desnecessárias e situações de assédio. “A empresa precisa olhar para as lideranças para ver se isso está acontecendo. É importante incentivar a colaboração, socialização no trabalho e respeitar o horário de descanso do trabalhador”.
Já para o colaborador, o autoconhecimento é fundamental, afirma Dimas. “Só desta maneira ele poderá avaliar do que gosta e como gosta de fazer o trabalho ou atividade que está sob sua responsabilidade. Se na empresa em que trabalha isso não é possível, é importante se adaptar ou trocar de trabalho, não necessariamente de empresa. Às vezes outra função, local ou equipe pode fazer com que o colaborador desestresse. A empresa também precisa dar espaço para que isso aconteça”.
De acordo com ele, é importante que as pessoas desenvolvam competência comportamentais, como ouvir e ter empatia, além das competências relacionadas a interação e argumentação, como saber dizer não, argumentar e solicitar ajuda quando precisar. “O trabalho em equipe pode ajudar a desenvolver competências motivacionais, como o otimismo, mesmo que a situação não esteja sob total controle, e tolerar incertezas, já que nunca saberemos como será o futuro. Às vezes, ter uma visão otimista do futuro pode ser o remédio”, ressalta.