Uma forte dor no peito, falta de ar e cansaço, sintomas importantes que devem motivar a busca por um serviço de emergência. Na sequência, um eletrocardiograma com alterações semelhantes aos de um infarto e, posteriormente, um cateterismo, exame que finalmente irá demonstrar que não há obstrução das vias coronárias (causa mais comum de infartos) e, sim, partes do coração que não conseguem contrair corretamente, gerando fraqueza do coração. Esse é o processo pelo qual passa a maioria dos pacientes com Cardiomiopatia de Takotsubo.
Em grande parte das vezes causada após uma forte emoção, como a perda de um familiar, a enfermidade é conhecida também como “Síndrome do Coração Partido” ou “Cardiomiopatia do estresse”. Segundo a cardiologista e coordenadora do serviço de check-up do Hospital Marcelino Champagnat, Aline Moraes, as causas não são ainda bem claras, mas a teoria mais aceita é que a emoção gere uma descarga de catecolaminas (como a adrenalina) em níveis tóxicos, que chegam a fazer vasoespasmo (fechamento) dos vasos coração. Com isso, não chega sangue suficiente para a região do coração afetada, o que compromete a força do batimento cardíaco.
A doença não é comum – estima-se que atinja cerca de 1% dos pacientes que chegam com dor no peito nos serviços de pronto atendimento – e atinge principalmente mulheres, particularmente asiáticas. Daí a origem do nome Takotsubo, uma armadilha para polvos cujo formato se assemelha ao do coração. “Embora não seja uma doença comum, se a fraqueza do coração for muito intensa, pode colocar a vida do paciente em risco por insuficiência cardíaca grave, arritmias, insuficiência respiratória e até acidente vascular encefálico. Mas, felizmente, a grande maioria melhora completamente ao longo de quatro a oito semanas”, esclarece a cardiologista.
Efeitos da pandemia
Especialistas vêm alertando sobre os impactos da pandemia na saúde mental e física dos pacientes. O estresse causado pelo receio de contrair uma doença ainda relativamente desconhecida e os efeitos do isolamento social podem desencadear enfermidades como a Síndrome de Takotsubo, hipertensão arterial e, até mesmo, infarto.
Segundo a psicóloga do serviço de check-up do Hospital Marcelino Champagnat, Raquel Pusch, o estresse faz parte da vida de todos nós. O segredo está em administrá-lo, isto é, deixá-lo a nosso favor. “Para lidar com os efeitos emocionais da pandemia, é necessária uma força-tarefa do indivíduo com ele mesmo. É preciso identificar os fatores modificáveis do estresse em busca de melhor qualidade de vida. A má administração desses sentimentos e a falta de visão de uma ‘saída’ são exemplos de situações que desorganizam a pessoa, criando um campo propício para o aparecimento de doenças cardíacas”, comenta.
Buscar manter hábitos alimentares saudáveis, evitar o tabagismo e sedentarismo, continuam sendo dicas fundamentais para uma boa saúde. No atual contexto, atividades que proporcionem maior qualidade de vida e ajudem a controlar o estresse entram na lista de quem pretende cuidar da saúde.
“Também é essencial que a população siga corretamente seus tratamentos de saúde e busque atendimento médico ao menor sintoma cardíaco. Independentemente da patologia, é necessário iniciar um tratamento precoce para evitar agravamentos e riscos de vida”, aconselha a cardiologista.