Software ajuda a prevenir amputações em casos graves de diabetes

O programa promove exercícios que previnem e combatem sintomas da doença capazes de se agravarem com o passar do tempo, explica Isabel Sacco

Foto: Niek Verlaan via Pixabay – CC

Diabetes é uma doença que, conforme avança, causa uma série de problemas nas extremidades do paciente. Nos pés, é comum que pacientes com diabetes desenvolvam formigamentos e falta de sensibilidade, o que os fazem pisar de maneira errada e, a longo prazo, a pisada torta pode causar úlceras e até mesmo evoluir para um caso de necrose e amputação.

Para combater esse desfecho grave, que no Estado de São Paulo acometeu 59 mil pessoas apenas em 2022, o Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana da USP desenvolveu um software de atendimento e tratamento, o Sistema de Orientação ao Pé Diabético (SoPeD). A professora Isabel Sacco, que liderou a equipe de desenvolvimento do programa, explica mais sobre.

A progressão da doença

Isabel Sacco – Foto: FMUSP

A professora explica que os maiores agravos relacionados ao pé da pessoa com diabetes começam a aparecer após a primeira década de convívio com a doença: “Em função de 10 a 15 anos de evolução da diabetes, essas pessoas costumam desenvolver uma alteração de sensibilidade plantar, passam a não perceber mais a pressão, toque, temperatura, vibração. Desenvolvem uma sintomatologia que incomoda e atrapalha a vida diária dessa pessoa, como formigamento, queimação agulhadas, dormência. Quando anda parece que pisa em nuvens, o lençol incomoda.”

Por consequência desses incômodos, juntamente com a perda de força que a doença causa, o diabético pode apresentar alterações motoras importantes que podem se agravar. Isabel explica: “Essas alterações, em conjunto de insensibilidade de força e de movimento, fazem eles terem o andar de forma inadequada, aumentando as pressões em algumas regiões do pé e aumentando o risco dessas pessoas de desenvolverem infecções crônicas, osteomielite, e aí chega na amputação, que é um desfecho péssimo para esses pacientes”.

Um programa de exercícios personalizado

Uma maneira comprovada de combater esses sintomas da doença, bem como garantir maior qualidade de vida para os portadores de diabetes, é realizar exercícios específicos para o pé, e é justamente para educar e orientar os pacientes a fazerem os exercícios que o SoPeD serve. “Esse software tem uma parte primeiro informativa, vários textos e também tem uma parte interativa que o paciente consegue clicar em algumas partes do corpo para entender quais são as consequências dessa doença,”explica Isabel. “Além da parte educativa, a gente também tem uma parte diagnóstica”.

Para realizar o diagnóstico, o programa oferece para o usuário uma série de questionários sobre sua neuropatia (condição do pé diabético), sobre quedas sofridas pela falta de equilíbrio e sobre a saúde dos pés (se apresenta calos, úlceras etc.) Após a resposta de cada questionário, é gerado um laudo com palavras simples, para que o usuário leigo entenda e, após os questionários, o paciente é liberado para um série de exercícios que buscam estimular o pé, aumentar a circulação e diminuir assim os fatores de risco para úlceras.

“Dependendo dessa resposta dos questionários, ele é liberado para um programa de exercícios específicos para os pés. A gente recomenda que ele faça de duas a três vezes por semana essas sessões de exercício e essas sessões duram aproximadamente 15 a 20 minutos”. O usuário é apresentado a vídeos e áudios explicando os exercícios, quantas repetições e por quanto tempo devem ser realizados. Ao final da sessão de exercícios, o usuário deve pontuar o nível de dificuldade empregado durante os exercícios. A doutora Isabel explica melhor: “Dependendo desse nível de dificuldade, na sessão seguinte o SoPeD vai dificultar os exercícios que ele fez na anterior, facilitar ou manter o mesmo nível. Por isso que ele é um software, ele tem um algoritmo por trás, essas três funções aí completas para essas pessoas com diabetes.”

Software aberto

“O programa não está no mercado porque ele é público e gratuito e está disponível na internet, você consegue usar via browser ou baixar o aplicativo em sistemas Android” explica Isabel Sacco.

O SoPeD já pode ser acessado pelo endereço www.soped.com.br, e já possui tradução para quatro línguas, além do português: inglês, espanhol, francês e alemão. Isabel explica que o software passa por melhorias constantes e aguarda apenas o ensaio clínico randomizado controlado, que já está em andamento, para poder ser utilizado em larga escala: “Vamos concluir isso em fevereiro de 2025. O programa vem passando por modificações, ajustes, aprimoramentos e a ideia é que o público em geral use, porque a gente sabe dos benefícios de exercícios específicos para os pés para prevenção de úlceras, de amputações e até mesmo para melhorar a qualidade de vida das pessoas,” completa a coordenadora do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana da USP.

**Texto por Jornal da USP